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Natacao paralímpica

26/04/2019 23h57

Esporte paralímpico

Estreante em competições internacionais, Carol Santiago bate recorde mundial nos 100m peito no segundo dia do Open Loterias Caixa

Até então, o último recorde mundial brasileiro da natação paralímpica feminina havia sido em Atenas 2004, nos 50m livre. Neste sábado (27.04), a paratleta encara os 100m borboleta

O sorriso largo da nadadora pernambucana Maria Carolina Gomes Santiago, 34 anos, foi visto várias vezes desde o início do Open Loterias Caixa de Natação e Atletismo, no Centro Paralímpico de São Paulo. E nesta sexta-feira (26.04) não foi diferente. Carol quebrou duas vezes o recorde mundial dos 100m peito da classe SB12, para atletas com baixa visão.

Pela manhã, nas eliminatórias, ela venceu os 100m peito SB12 com o tempo de 1min14s94, oito centésimos abaixo da marca da alemã Elena Krawzow (1min15s02), estabelecido no início de abril em Eindhoven, na Holanda. Na final, no período da tarde, ela venceu a prova com o tempo de 1min14s79. É o primeiro recorde mundial da natação feminina paralímpica brasileira desde os Jogos de Atenas 2004, com Fabiana Sugimori, nos 50m livre.

#PraCegoVer: A nadadora paraolímpica Carol Santiago sorri dentro da piscina após quebrar o recorde mundial dos prova dos 100m peito da classe SB12, para atletas com baixa visão, no Open Internacional Loterias Caixa de Atletismo e Natação, em São Paulo
O sorriso largo de Carol Santiago, após a conquista do recorde mundial. Foto: Alê Cabral/CPB
"Esperava melhorar meu tempo, mas foi uma emoção muito grande quebrar um recorde mundial. Vou me preparar agora para a etapa nacional, em maio, mas não vejo a hora também das outras competições internacionais"
Carol Santiago, nadadora paralímpica

No primeiro dia da competição (25.04), Carol já havia registrado os novos recordes continentais dos 50m e 100m livre na classe S12. Nas eliminatórias dos 100m livre S12, ela quebrou o recorde das Américas com 59s65. Na final, fechou a prova com 59s45. Neste sábado (27.04), último dia da competição, Carol encara os 100m borboleta. 

“O Open tem sido muito emocionante para mim. Eu nunca participei de algo tão grande e, ao mesmo tempo, exatamente no meu lugar, que é o esporte paralímpico. É muito gratificante bater a marca. Nunca tinha trabalhado com eliminatória. É bem cansativo, mas quando penso na próxima prova e na possibilidade de melhorar meu tempo, me empolgo ainda mais e dou o meu melhor. Esperava melhorar meu tempo, mas foi uma emoção muito grande quebrar um recorde mundial. Vou me preparar agora para a etapa nacional, em maio, mas não vejo a hora também das outras competições internacionais”, ressalta Carol.

» Vinícius Rodrigues quebra recorde mundial no primeiro dia do Open Loterias Caixa

Um mês antes da competição, ela treinou no CT Paralímpico com Leonardo Tomasello Araújo, técnico-chefe da natação pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). “A gente costuma falar aqui que a Carol caiu na estrutura que a gente vem desenvolvendo desde 2014. Ela tem qualidades que fizeram com que se encaixasse perfeitamente no trabalho, tanto de equipe técnica como de espaço de treinamento. Ela é muito dedicada, competitiva e comprometida. O que a gente faz por aqui é só trabalhar o potencial dela para melhorar ainda mais a performance. E acho que deu certo”, alegra-se o treinador.

Paralímpica estreante

É a primeira competição internacional de Carol Santiago. Até outubro de 2018, ela praticava natação convencional, em Recife. Entretanto, como possui uma síndrome chamada “Morning Glory”, que atinge o nervo ótico e deixa a visão com capacidade de 30%, ela passou a treinar no Grêmio Náutico União, de Porto Alegre, e conseguiu obter classificação funcional para atuar no esporte paralímpico. A primeira competição foi no Campeonato Brasileiro de 2018.

A natação entrou na vida dela e dos irmãos por incentivo dos pais, no início apenas para que os filhos aprendessem a nada. Mas Carol acabou se desenvolvendo na modalidade e, aos 12 anos, começou a competir. “Em Recife, o esporte paralímpico não é tão difundido, então ela só começou mesmo a perceber que poderia disputar as provas como paralímpica quando viu grandes atletas com baixa visão que também competiam. Quando conheceu o Grêmio, foi um passo para entrar na seleção”, conta a mãe da atleta, Vera Lúcia Santiago.

#PraCegoVer: A nadadora paraolímpica Carol Santiago aparece em duas fotos, uma abraçada ao treinador Leonardo Tomasello e outra abraçada a seus pais. Na terceira imagem, os pais da nadadora, Vera e Rodolfo, sorriem orgulhosos pela filha ter quebrado um recorde mundial na natação
Carol Santiago, com o técnico Leonardo Tomasello (à esquerda) e depois abraçada com os pais, Rodolfo e Vera (acima e abaixo). Fotos: Cristiane Rosa/rededoesporte.gov.br
 "A Carol é incrível. Ela se readapta, se reorganiza. É um exemplo para nós"
Vera Santiago, mãe de Carol

Em dois momentos da vida, Carol chegou a ficar totalmente sem visão por causa de um líquido na retina. Mas foi uma cegueira momentânea, que regrediu, e a atleta voltou ao estado anterior.

“Em relação à síndrome, começamos a perceber alguns detalhes, como uma certa dificuldade dela para pegar as coisas. Ela teve todo o acompanhamento em Recife, depois também fomos para São Paulo e descobrimos que a doença compromete boa parte da visão, mas não é genética nem progressiva. Mas nesse momento da cegueira momentânea, nos readaptamos novamente e buscamos toda a orientação necessária para lidar com pessoas cegas. Foi um período difícil, mas fomos em busca de orientação e conhecimento para poder ajudar nossa filha”, recorda a mãe.

"Mas a Carol é incrível. Ela se readapta, se reorganiza. É um exemplo para nós”, completa Vera, elogiando a filha que, além de destaque na natação, também é formada em Direito e cursa Educação Física.

Emoção da família

No final de todas as disputas do Open 2019, Carol sempre sai da piscina e segue rumo à arquibancada para dar um abraço apertado na mãe e no pai, Rodolfo Santiago. Na conquista do recorde mundial teve até vídeo para a avó, que mora em Recife.

“Uma coisa importante de dizer é que conseguimos identificar a dificuldade da Carol muito cedo. Quando eu mexia o chaveiro, ela rapidamente virava o olho na direção do barulho, mas quando a gente não fazia o ruído, ela não olhava para nós. Foi aí que começamos todo o movimento em busca do diagnóstico. Mas criamos nossa filha sem limitações ou cuidados especiais. Falei com a mãe dela que a Carol já nasceu vendo o que ela pensava ser o ideal. E nossa filha não só vence os próprios limites e dificuldades todos os dias, como vai além em tudo o que faz. Dificilmente pessoas na idade dela conquistam o que ela conquistou”, emociona-se Rodolfo.

“Situações como essa, ditas como especiais, trabalham não só o portador da limitação física, mas todos o que estão envolvidos com ele. Acho que nunca devemos lamentar circunstâncias assim. Em vez disso, posso dizer que aproveitamos a experiência que essa limitação da nossa filha nos trouxe. Toda a família, como também os dois irmãos dela - Rodolfo, de 36 anos, e Gabriel, de 25 - têm um grande respeito por ela ter vencido e vencer todas as dificuldades”, ressalta.

Bolsa Atleta 

Do total de 602 atletas inscritos no Open 2019, 163 são brasileiros da natação e 181 do atletismo, sendo que 98 nadadores são beneficiários do programa Bolsa Atleta. Outros 123 são bolsistas do atletismo. Anualmente, são investidos especificamente nesses atletas do programa inscritos no Open 2019 um total de R$ 4,9 milhões na natação e de R$ 9,4 milhões no atletismo.

A obtenção de índices para os mundiais de atletismo e natação e para o Jogos Parapan-Americanos Lima 2019 são o foco principal dos atletas na competição. O evento é a etapa Brasil do World Series de Natação e do Gran Prix de Atletismo, circuitos organizados pelo Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês).   

Programação

Atletismo
Data: 27/04 (sábado)
Horário: 8h às 11h30

Natação
Data: 27/04 (sábado)
Horário: 9h às 12h e 17h às 19h

De São Paulo, Cristiane Rosa – rededoesporte.gov.br