Atletismo
Entrevista
Marcus Vinicius Freire: "queremos saltar para o décimo lugar, com 25, 26 ou 27 medalhas"
A primeira final olímpica que Marcus Vinicius Freire, de 53 anos, disputou foi em Los Angeles, em 1984. Ao lado de Renan, Montanaro, William, Bernard e companhia, ele trouxe para casa uma medalha de prata e levou o voleibol brasileiro ao pódio pela primeira vez. Agora, o gaúcho de Bento Gonçalves viverá a expectativa de uma final a cada um dos 17 dias dos Jogos Rio 2016. Diretor-executivo do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Marcus Vinicius responde pela preparação das 42 seleções brasileiras que disputarão todas as modalidades do torneio - fato inédito em Jogos Olímpicos.
Pouco antes de participar do revezamento da tocha e conduzir a chama olímpica em Bento Goncalves (RS), no último sábado, o dirigente conversou com o brasil2016.gov.br e falou sobre os preparativos para os primeiros Jogos Olímpicos realizados na América do Sul, as reais chances de medalhas do Brasil e a expectativa que envolve o país até 5 de agosto, data da abertura das competições no Rio de Janeiro. Confira os principais pontos da entrevista:
Qual a atual situação da delegação brasileira para a disputa dos Jogos?
O Brasil nesse momento tem 460 atletas classificados para os Jogos. É o maior número da nossa história. Levamos para Londres 259 atletas. Pela primeira vez, o país vai estar em todas as modalidades. Estaremos representados nas 42 modalidades. Então a torcida pode ficar ligada e acompanhar todos os esportes, que vai ter brasileiro lá.
Como foi possível chegar a essa marca?
Nós traçamos um mapa estratégico do esporte, em conjunto com os ministérios do Esporte e da Defesa, com os clubes e confederações, para fazermos esse salto de qualidade. Lembrando que o Brasil, em Londres, conquistou 17 medalhas e ficou na 16ª posição. Nós queremos saltar para o décimo lugar, algo em torno de 25, 26, 27 medalhas. É quase o dobro de medalhas de quatro anos atrás e, por isso, um plano duro, difícil de ser executado, mas feito passo a passo, em conjunto com todos esses agentes. Estamos dormindo tranquilos, porque a preparação foi a melhor da história brasileira, no que tange financiamento, treinador estrangeiro, experiência dos atletas, Bolsa Pódio, Plano Brasil Medalhas. Foi a melhor preparação possível.
Vai ser possível entrar alcançar o top 10?
Não é fácil, mas é possível. Hoje, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) tem mais de 20 atletas olímpicos trabalhando. Já ganhamos muitos jogos que achávamos que iríamos ganhar, também já perdemos muitas disputas que esperávamos ganhar. Minha geração é um exemplo disso. Ganhamos de 3 sets a 0 dos Estados Unidos durante a Olimpíada, e perdemos a final para eles, também por 3 sets a 0. Em vez de ouro, viramos prata. Mas faz parte. Acreditamos na nossa delegação, a maior da história, em todos os esportes. Em 21 de agosto quero conversar de novo com você e, se Deus quiser, com o Brasil na décima posição do quadro de medalhas.
Como o senhor fez essa transição entre ser atleta e executivo do esporte?
Minha vida é meio estranha para um atleta olímpico. Nasci em Bento Gonçalves, filho de um militar. Ia ser militar, como meu pai, desde o começo da ideia. Estudei em colégio militar a vida inteira, até ser convocado para a seleção brasileira infanto-juvenil de vôlei, com 13 para 14 anos. Ali, mudei minha história, fui jogar vôlei de forma amadora, estudei Engenharia, depois me formei em Economia, sendo jogador profissional. A volta para o mercado não foi fácil, mas o estudo foi o que me baseou. Fiquei 16 anos como jogador profissional, atuei na Europa muito tempo. Depois tive 16 anos como executivo do mercado financeiro, em bancos e seguradoras, e agora consegui essa mistura dos dois. Fui dez anos voluntário no COB e, há sete, sou o diretor-executivo e cuido da preparação das 42 seleções brasileiras.
Em que o atleta Marcus Vinicius ajudou o dirigente?
Em tudo. Os parâmetros e valores do esporte eu levei para o escritório, como executivo, e a experiência somada de 15 anos jogando pelo mundo afora me tornaram um executivo melhor. Mas é preciso saber trabalhar em equipe. Joguei a vida inteira num time de 12, hoje jogo num time de 200 milhões, que é o Time Brasil.
A passagem da tocha traz um pouquinho dos Jogos para todos os brasileiros
O que o senhor acha da nacionalização dos jogos?
É espetacular, é o jeito de mostrar que os jogos são do Brasil. Participei da campanha inteira, até a vitória de 2009. A partir dali, comecei a cuidar só dos atletas. Mas na campanha tínhamos essa bandeira que os jogos tinham que ser do Brasil, e não só do Rio de Janeiro. Moro no Rio há muito tempo, mas acho que o Brasil inteiro merecia. A passagem da tocha confirma isso e traz um pouquinho dos Jogos para todos os brasileiros. Por isso escolhi conduzir a tocha na minha cidade. Às vésperas dos Jogos, muita gente me perguntou: "por que não correr no Rio? Muito mais fácil". Eu respondo que escolhi onde nasci, porque tem muito mais representatividade do que onde vai ter um monte de gente correndo.
» Confira a cobertura especial sobre o Revezamento da Tocha Olímpica
Estamos cumprindo a missão de fazer o maior revezamento da história? Que imagem do Brasil estamos passando para o mundo?
Ser o maior, para mim, não faz diferença. Mas o mais alegre, o mais festivo, o mais comemorado, o mais brasileiro. Essa é a nossa cara e a cara dos nossos Jogos. As pessoas me perguntam: os Jogos no Brasil vão ser iguais aos de Pequim, de Atenas, de Sidney ou de Londres? Não vai ser igual a nenhum deles, vai ser a cara do Brasil. Por isso, essa passagem da tocha é a mais linda, porque é brasileira.
Quem terá a honra de ser o último condutor da tocha olímpica?
Isso é o Rio 2016 quem decide. Já tenho duas missões até a semana que vem: decidir quem será o porta- bandeira e os três atletas e o treinador que farão o juramento. Deixa só essas tarefas comigo. O resto, o Rio 2016 decide (risos).
Mariana Moreira - brasil2016.gov.br