Entre cantos, sonhos e milhas percorridas, torcida faz à festa antes de Brasil x Argentina

Carlos Alberto Valentim é o nome estampado na identidade, mas Nenê da Kombi é um apelido com vocação oficial. Apaixonado pelo carro utilitário, ele já rodou mais de 200 mil quilômetros acompanhando oito Copas do Mundo e megaeventos em quatro dos cinco continentes. Sempre com sua companheira de quatro rodas. Por terra quando há estrada. Por navios cargueiros quando a única via disponível é o mar. Por ar quando a pressa exige.

Em seu carro equipado com beliches, utensílios domésticos, pia embutida e um pequeno fogareiro para preparar as refeições, ele era um entre os milhares de torcedores que resolveram fazer o "esquenta" para a partida entre Brasil x Argentina, válida pela semifinal da Copa América, num posto de gasolina ao lado do Mineirão, em Belo Horizonte (MG).

Otimista por definição, ele entende que a seleção está em um bom caminho. Não dá crédito aos que pensam que o Brasil tropeçou nos empates contra Venezuela e Paraguai. Avalia que o time jogou bem, criou chances e só não balançou as redes por acidente. Para esta noite, aposta num 2 x 0, placar que, segundo ele, dá o tom certo para o time chegar à final sem uma dose exagerada de confiança.

"Fui ao Morumbi, estive em Itaquera, estou aqui e vim pronto para pegar a estrada para o Rio de Janeiro amanhã cedinho para acampar em Copacabana. Acho que o Brasil vai ganhar bem, e bem é 2 x 0

Nenê da Kombi, que tem oito Copas do Mundo no currículo de torcedor

"Fui ao Morumbi, estive em Itaquera, estou aqui e vim pronto para pegar a estrada para o Rio de Janeiro amanhã cedinho para acampar em Copacabana. Acho que o Brasil vai ganhar bem, e bem é 2 x 0. Seria maravilhoso. Se ganha de cinco ou seis, fraqueja para a final. É melhor que seja difícil. Está tudo bem encaminhado para sermos campeões da Copa América", afirmou o torcedor. O Rio de Janeiro será a sede da final da Copa América, no próximo domingo. O outro finalista sairá do jogo entre Chile x Peru, que medem forças nesta quarta (03.07), na Arena do Grêmio, em Porto Alegre. 

Do outro lado da rua, uma sessão de maquiagem chamava a atenção. Michele Lopes dos Santos caprichava nos tons verdes e amarelos no cabelo do filho, Rhiander Lopes Viana, e na bochecha da mais nova, Micaele. André Viana, o marido, observava com orgulho. A família veio de Linhares, no Espírito Santo, para ver pela primeira vez a Seleção ao vivo. Um sonho que André alimentava desde sempre.

"Não é só meu primeiro jogo da Copa América. É a primeira vez vendo a seleção ao vivo. Um sonho de criança que estou podendo concretizar hoje, com a família. É uma paixão que vem desde sempre e estou tentando transmitir para os pequenos", disse André. Se depender do pequeno Rhiander, uma estreia com final feliz. "Estamos apostando em 2 x 0, com gols do Everton e do Coutinho. Tomara que o Messi continue fazendo o que vem fazendo até agora", brincou o pequeno, torcendo para uma atuação discreta do cinco vezes eleito melhor do mundo.

Família de Linhares, no Espírito Santo: primeira chance de ver a seleção ao vivo. Foto: Breno Barros/rededoesporte.gov.br

Trilhas divergentes

Um pouco mais abaixo, numa rua transversal ao estádio, o burburinho era dos muitos grupos de argentinos entoando cânticos que fizeram sucesso na Copa do Mundo de 2014, numa referência ao jogo contra o Brasil na Copa de 1990 e provocando os brasileiros, citando que Maradona é maior do que Pelé. Em resposta, brasileiros "zoavam", cantando que Vampeta tem Copa do Mundo no currículo, enquanto Messi ainda não. Ao lado deles, Martin Guerrero, de Buenos Aires, enfatizava que uma vitória por "meio a zero" já seria ótimo. "Do jeito que for, como for, se preciso nos pênaltis, mas uma vitória nossa", disse.

"Do jeito que for, como for, até meio a zero vale, se preciso nos pênaltis, mas uma vitória nossa"

Martin Guerrero, torcedor argentino

Numa resposta involuntária mas simbólica à trilha sonora, Leonardo Penido, de 17 anos, pegou como cenário para uma foto uma bandeira com a imagem de Pelé. Morador de Itaquera e corintiano apaixonado, ele já assistiu à goleada do Brasil sobre o Peru por 5 x 0, na Arena Corinthians, e tinha previsão bem clubística, embora irreal, para o clássico desta noite: "Será 3 x 0, com dois gols do Fagner e um do Cássio", brincou, numa referência aos atletas reservas corintianos no elenco da Seleção de Tite.

Dez metros à frente, no meio de uma via interditada pela polícia, "Jorjão", como George Pereira prefere ser conhecido, chamava a atenção numa vestimenta quase episcopal. "Já fui a 11 Copas. Essa 'indumentária' comprei no Marrocos, antes da Copa de 1982, na Espanha. Sou torcedor por vocação. Gosto mesmo", afirmou o ex-vendedor de carros aposentado, que também registrou sua previsão de placar: 3 x 0, com gols de Gabriel Jesus ("vai desencantar, tenho fé!"), Arthur e Casemiro.

A bola rola para Brasil x Argentina a partir das 21h30, no Mineirão, em Belo Horizonte. Se houver empate no tempo normal, haverá prorrogação em dois tempos de 15 minutos. Se a igualdade persistir, a definição da vaga será nos pênaltis. A outra semifinal está agendada para esta quarta-feira (03.07), na Arena do Grêmio, em Porto Alegre. Os dois classificados definem o título da Copa América 2019 no Maracanã, no domingo, 7.07, a partir das 17h.

Gustavo Cunha, de Belo Horizonte (MG) - rededoesporte.gov.br