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Natacao paralímpica

07/06/2019 16h54

Natação paralímpica

Edênia Garcia troca quantidade de treinos por qualidade e volta a ser a "número um"

Às vésperas do Parapan e do Mundial, a experiente nadadora paralímpica aparece como líder do ranking dos 50m costas pela primeira vez em oito anos

Edênia Garcia não via o número 1 ao lado do nome dela no ranking mundial desde 2011, um ano antes dos Jogos Paralímpicos de Londres. A atualização de junho de 2019 da listagem da Federação Internacional de Natação veio na esteira de outra conquista: conseguir completar os 50m costas na casa dos 55 segundos. O tempo de 55s98 foi registrado no Open de Atletismo e Natação, no Centro de Treinamento paralímpico de São Paulo, em abril. Aos 32 anos, a atleta cearense se vê num dos melhores momentos técnicos de sua carreira, às vésperas de duas competições estratégicas: o Parapan de Lima, em agosto, e o Mundial de Londres, na Inglaterra, em setembro.

Tricampeã mundial e três vezes medalhista em Jogos Paralímpicos, Edênia se vê em grande forma para o Parapan de Lima e o Mundial de Londres. Foto: Jonne Roriz/MPIX/CPB

"Fizemos muitas mudanças no meu treino. Depois dos Jogos Rio 2016, passei a treinar menos em função do avanço da minha síndrome. Estou treinando com mais intensidade, mas com metragem menor. Mais forte, mas menores distâncias", disse Edênia. A atleta nasceu com a Doença de Charcot-Marie-Tooth, que é progressiva e afeta a musculatura, em especial de pés e mãos. No caso dela, o esporte é como um remédio, uma terapia, mas precisa ser na dose certa, para não se tornar um "veneno".

"Estava com problemas para respirar, para treinar. Houve um dia em que faltou ar num treino. Achei que tinha chegado ao fim da linha"
Edênia Garcia

Em 2017, um ano após ter feito uma campanha aquém do que gostaria nos Jogos Olímpicos Rio 2016, o avanço da doença fez com que ela mudasse de classe. Deixou a S4, em que competiu grande parte da carreira, e passou às provas da S3, para atletas com um pouco menos de mobilidade. Mais recentemente, passou a conviver com dores no diafragma e até com episódios de falta de ar durante treinos. Chegou a pensar que fosse um novo avanço de sua condição e até um ponto final em sua trajetória esportiva.

"Nem falo muito sobre isso, mas faz quase dois anos que sinto muita dor no diafragma. Dos dois lados. Estava com problemas para respirar, para treinar. Houve um dia em que faltou ar num treino. Achei que tinha chegado ao fim da linha", contou. "Eu tinha ido a uma neuro que cogitou a possibilidade de a síndrome ter evoluído para a parte respiratória. Passei dias tensos com meu técnico, Fabiano Quirino, e minha família", relatou.

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Foto guardada com carinho por Edênia de Londres, em 2012. Ideia dela é refazer essa imagem no Mundial de 2019, que será disputado na mesma piscina. Se possível no topo do pódio dos 50m costas. Foto: CPB

Edênia consultou um pneumologista. Fez testes de capacidade pulmonar e respiratória. Entre idas e vindas, surgiu a indicação de uma osteopata. Nessa incursão, teve acesso a exercícios para "reaprender" a respirar corretamente. "Com algumas sessões, as dores já estão 90% reduzidas", afirmou Edênia, que reencontrou a qualidade de vida necessária até para render mais no trabalho diário no CT Paralímpico de São Paulo.

"Nos treinos tenho 'voado' por ter conseguido melhorar essa mecânica da respiração, do diafragma. Tenho aproveitado cada dia. Meu técnico diz que tenho usado da minha experiência para melhorar. Acho que é por aí. Tenho conseguido memorizar e ver tudo o que aprendi durante esse tempo todo e aplicar no treino para ganhar detalhes, imposição de nado e performance".

É por esse conjunto de fatores que a atleta considera tão simbólico retomar a liderança do ranking mundial nesse momento. "Representa muito profissionalmente. Primeiro porque já não tenho mais 15 anos. Estou com 32 e na véspera da quinta edição de Jogos Paralímpicos. É bom estar em primeiro em ano de Mundial e Parapan-Americano. Mostra uma força grande do Brasil nas categorias de baixo da natação", afirmou a atleta. 

O estrelado currículo de Edênia Garcia inclui duas pratas (2004 e 2012) e um bronze (2008) em Jogos Paralímpicos, um tricampeonato mundial e um ouro no Parapan de Toronto, sempre nos 50m costas. Uma das pratas paralímpicas veio na mesma piscina em que ela nadará o Mundial de Londres, em setembro.

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"Nas Olimpíadas de Londres, vivi o episódio em que fui reclassificada. Disputei a S5. Eu era S4. Lá, nadei para 53s, fiz o melhor tempo da minha vida e fiquei com a prata. É nessa piscina que vou competir o Mundial agora em 2019. Guardo com o maior carinho de lá e sempre uso uma foto bem amarela em que estou sorrindo muito no pódio, para a torcida brasileira. Quero refazer essa foto da melhor maneira", afirmou a nadadora, integrante da categoria pódio, a mais alta do programa Bolsa Atleta, da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania.

Brasileiros à frente do ranking da natação paralímpica

Outros líderes

Além de Edênia Garcia, o Brasil tem outros cinco atletas atualmente no topo do ranking mundial da natação paralímpica. Maria Carolina Gomes Santiago é a líder nos 50m e 100m livre da categoria S12, para atletas com deficiência visual. Joana Maria Silva é a primeira nos 50m borboleta da Classe S5. Phelipe Rodrigues é o mais rápido nos 50m livre da Classe S10. Gabriel Silva ostenta o topo da lista nos 50m livre S8 e Gabriel Geraldo dos Santos tem o melhor tempo nos 50m borboleta S2. Na natação paralímpica, nas categorias de S1 a S10, quanto maior o número, menor a limitação de movimentos dos atletas. As categorias a partir de S11 são voltadas para atletas com deficiência visual.

Gustavo Cunha - rededoesporte.gov.br