Basquete
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Da quadra ao voluntariado: ex-pivô Alessandra troca de papel para o Rio 2016
As três principais conquistas do basquete feminino brasileiro têm um denominador comum: a presença da pivô Alessandra. Ela estava lá em 1994, quando a equipe conquistou o título mundial liderada por Paula e Hortência. Dois anos depois, em 1996, os 2m de altura da jogadora foram importantes na prata olímpica em Atlanta. Mais quatro anos se passaram, Paula e Hortência se aposentaram, o técnico mudou, mas lá estava Alessandra, jogando e sendo fundamental para o bronze olímpico nos Jogos de Sydney 2000.
Os tempos e as glórias passadas ficaram para trás, mas Alessandra não quer saber de abandonar o basquete. A ex-atleta deu um jeito de participar dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Aos 42 anos, saem os rebotes, os tocos e as cestas e entra o trabalho como voluntária.
A primeira experiência na nova função foi durante o Torneio Internacional de Basquete Feminino, evento-teste da modalidade, entre 15 e 17 de janeiro, na Arena Carioca 1, no Parque Olímpico da Barra. Lá, foi impossível não notar a voluntária mais alta de todas, andando para lá e para cá ao redor da quadra.
“Eu queria participar de qualquer jeito. Para mim está sendo importante estar aqui, vivendo este momento, independentemente de tudo o que está acontecendo no cenário do basquete feminino. É importante estar aqui apoiando e ajudando minha modalidade, mesmo nos bastidores”, comenta a ex-pivô.
Durante o evento-teste, Alessandra ficou responsável por monitorar detalhes do campo de jogo, os responsáveis pelas bolas e por limpar e secar a quadra durante as partidas. “Foi tranquilo. São 20 anos dentro de quadra, então tirei de letra”, brinca. “Mas nem vi tanto os jogos. Estava mais preocupada com o que estava acontecendo, o que eu tinha que fazer e com os protocolos”, explica.
Mesmo assim, a ex-jogadora teve que se controlar em alguns momentos. “Tem vezes que escapam umas palavras, mas sei que tenho que me segurar mais. Estou me treinando psicologicamente. É reflexo. Jogador é jogador, ainda mais quando você está vendo a seleção jogar”, confessa ela, que dedicou grande parte da carreira a vestir a camisa do Brasil.
A idade não permite mais — embora ela assegure que está em perfeita forma física —, mas a vontade de jogar e o fato de sete jogadores terem pedido dispensa da seleção por problemas entre a Confederação Brasileira de Basquete (CBB) e a Liga de Basquete Feminino (LBF) reacendem o desejo de estar em quadra.
“Eu queria ter quatro anos a menos, porque estaria aí”, diz, apontando para a quadra. “Mesmo manca. Essa é a minha posição pessoal. Se outras pessoas não pensam desse jeito, respeito. Mas minha posição é essa: estaria até manca, me arrastando dentro da quadra”, afirma Alessandra.
A atleta elogiou o retorno do técnico Antônio Carlos Barbosa — a quem chama de comandante — à equipe e admite que a situação entre CBB, LBF e os pedidos de dispensa incomodam. “Não esperava que chegasse a uma situação lastimável às vésperas de um evento-teste. Espero que nos próximos meses se reorganizem e pensem bem, para que a seleção esteja fortificada”, opina.
Ainda assim, a situação não impede Alessandra de apostar em uma possibilidade de pódio para o Brasil no Rio 2016. A ex-atleta aponta o equilíbrio das equipes como fator importante. “Mundialmente está quase todo mundo no mesmo nível. Só Sérvia, Espanha e Estados Unidos são superiores. Então dá para arranhar alguma coisa. Mas tem que usar a cabeça e as meninas têm que estar à disposição. Estou otimista. Espero que se resolva”, diz.
Vagner Vargas – Brasil2016.gov.br