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Judô

02/08/2016 20h02

Judô

Crianças do Instituto Reação ganham dia de aula com atletas da delegação francesa

Três judocas olímpicos deixaram a vila e se integraram ao grupo que visitou o núcleo da Rocinha

O microfone nas mãos serviu para Flávio Canto lançar a pergunta em meio a um grande alvoroço: “Quem aqui quer ir para as Olimpíadas?”. Como em qualquer grupo de crianças, algumas ficam mais caladas, tímidas, enquanto outras prontamente erguem os dedos e gritam “eu!”. Mesmo dentro de uma comunidade carente, a Rocinha, elas sabem que o sonho não é inatingível. No Instituto Reação, os pequenos judocas têm referências de nomes como Rafaela Silva, nascida na Cidade de Deus e que realizou o desejo de tantos. Nesta terça-feira (2.8), a meta dos jovens atletas ganhou um novo fôlego.

Integrantes da delegação francesa de judô, incluindo três atletas que disputarão os Jogos Olímpicos, visitaram o polo localizado no Complexo Esportivo da Rocinha e participaram de atividades com dezenas de crianças. Algumas até tiveram a oportunidade de lutar com os visitantes e treinar os golpes. “Foi legal. Eu aprendi coisas novas”, conta Hevelyn Machado, de sete anos.

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Flávio Canto e a francesa Automne Pavia com as crianças do Instituto Reação. Foto: Roberto Castro/brasil2016.gov.br

As crianças, contudo, não foram as pessoas mais emocionadas a deixar o tatame. O espaço de estrutura simples viu grandes nomes do judô mundial sentarem no chão, tirarem fotos com os alunos e relatarem um dia ainda mais especial do que os vividos na Vila Olímpica. “É muito bom sair da vila e vir aqui para compartilhar um tempo com essas crianças. Nós geralmente não temos essa oportunidade”, diz Priscilla Gneto, bronze em Londres-2012 e que disputará a categoria -52kg, a mesma da brasiliense Érika Miranda.

“Você olha um outro lado do Brasil e do Rio. Você vê pessoas que não têm dinheiro, mas que sonham em estar no nosso lugar”, comenta o francês Loic Pietri, campeão mundial em 2013 justamente no Rio de Janeiro e que competirá no dia 9 por uma medalha na categoria -81kg.

Já Automne Pavia, que também faturou o bronze na última edição dos Jogos, compete com a carioca Rafaela Silva na categoria -57kg e aproveitou a visita ao clube da rival para mandar uma cobrança. “Eu tirei foto daqui e mandei para ela perguntando onde ela estava”, brinca a francesa. “Ela é muito forte. Eu a conheço desde muito nova e a respeito muito. Fora da luta, sou muito amiga dela, brincamos e conversamos pelo Instagram. É uma ótima garota”, elogia, ainda animada com a experiência vivida ao lado dos novos atletas. “Eu adoro crianças e acho importante vir, sorrir, brincar com elas”, relata.

 

Gente como a gente

Criador do Instituto Reação em 2003, o medalhista olímpico Flávio Canto (bronze em Atenas-2004) divertiu-se ao ver os alunos tentando fazer golpes nos franceses. “Aquele ali é o próximo Victor (Penalber) ou a próxima Rafaela”, apontava, sorrindo, sem tirar os olhos do animado confronto. “A França é parecida com o Brasil. A cabeça deles para o judô é de formação humana, com uma metodologia espetacular para crianças. Estamos lidando com gente que pensa parecido com a gente”, avalia o ex-atleta, que convidou a equipe para o dia de demonstração.

Os franceses estão realizando as últimas atividades pré-olímpicas no polo de Jacarepaguá do instituto, núcleo mais voltado ao alto rendimento e onde treinam atualmente Rafaela Silva e Victor Penalber. Para Flávio Canto, os visitantes terão uma retribuição especial por abrirem mão de um dia de concentração para ministrarem a aula na Rocinha. “Eles estão aqui certamente se sacrificando porque estamos a poucos dias dos Jogos. O que acredito é que a energia que eu gasto aqui é muito menor do que a que eu ganho. Tenho certeza de que vão voltar com mais energia para fazer um grande resultado”, aposta.

Com a experiência de quem já subiu ao pódio olímpico, o judoca aproveitou para fazer suas projeções para a equipe brasileira, que estreia nos tatames da Arena Carioca 2 no próximo sábado (6). “Estou contando com umas quatro medalhas, mas torcendo para ser mais. Pode ser até menos porque é uma competição muito difícil e equilibrada, mas, fazendo uma análise baseada em retrospecto, eu diria que quatro medalhas seria um bom resultado”, analisa, citando um consistência especial em Sarah Menezes e Mayra Aguiar.

Instituto Reação

A organização não governamental oferece aulas gratuitas de judô para cerca de 1.200 crianças, adolescentes e jovens, a partir de quatro anos, em cinco polos do Rio de Janeiro. O Reação Olímpico, voltado para a preparação de atletas para competições nacionais e internacionais, tem hoje cerca de 220 judocas, com idades a partir de 11 anos, na Rocinha, na Cidade de Deus e em Deodoro. Durante a visita, a equipe francesa doou 100 quimonos para o projeto.

Ana Cláudia Felizola – brasil2016.gov.br