Atletismo paralímpico
Atletismo paralímpico
Com três pratas, americano tem a música como aliada rumo ao ouro no Rio 2016
Palco, para Lex Gillette, são vários lugares. Pode ser a pista onde corre os 100m ou o campo preparado para o salto em distância, prova em que é recordista mundial, com 6,73m, na classe T11 (para cego total). Dá pra ser também o palco de concertos, já que é cantor, compositor e pianista. Mas o palco que o norte-americano almeja mesmo é o lugar mais alto do pódio. Com três medalhas de prata em Jogos Paralímpicos, o atleta só quer saber do ouro nas Paralimpíadas do Rio.
“Ganhar o ouro no salto em distância é meu objetivo. Estou muito focado na concentração e em tentar colocar em prática na competição o que aprendi no treino. Sei que o ambiente é diferente, mas o que eu tenho que fazer é o mesmo. Nos últimos anos eu trabalhei pesado para estar no topo”, disse o atleta, que ficou totalmente cego aos 8 anos, em virtude de descolamento de retina.
A trilha sonora ideal para o momento tão sonhado, segundo Lex, é exatamente “On the stage” (“No palco”), música composta por ele. Assista a Lex cantando a música no vídeo abaixo:
Recordista mundial do salto em distância na T11, @LexGillette canta música que compôs, "On the Stage". #EventoTeste pic.twitter.com/GZRk5gdTLB
— Brasil 2016 (@Brasil2016) May 21, 2016
No Open Internacional de Atletismo Paralímpico, nesta sexta-feira (20.5), no Engenhão, ele venceu o evento-teste com a marca de 6,41m e já se familiarizou com a área de competição. Ele também disputou os 100m e elogiou a pista do Estádio Olímpico.
O palco dos Jogos Rio 2016 é um velho conhecido de Lex e de seu atleta-guia Wesley Williams, já que os dois iniciaram a parceria nos Jogos Parapan-Americanos de 2007, também na capital fluminense. Em setembro, ele virá pela terceira vez ao Engenhão, o que ele considera um bom sinal.
“Coloquei no twitter: em setembro será minha terceira vez no Rio de Janeiro. E vocês sabem o que isso significa: a terceira vez é a da sorte”, disse o atleta, de 31 anos, atual bicampeão mundial no salto em distância.
Música como aliada
Quando ainda enxergava um pouco, Lex teve o primeiro contato com o piano. Nos tempos de escola, investiu no atletismo e só voltou a tocar o instrumento para valer quando chegou à faculdade. Atualmente, Lex tenta se dividir entre a música e as pistas, e garante que uma atividade ajuda a outra.
“Música ajuda na preparação, a te manter focado, a visualizar o que você precisa fazer. Tudo que o que você aprende dentro de competições, como o espírito esportivo e a perseverança, também podem ser aplicados na música”, explicou.
Disputando o evento-teste no Engenhão, deu para sentir um pouco da atmosfera que o espera em setembro e agora, depois dessa "prévia", Lex retorna para os Estados Unidos. Enquanto alia treino e música pensando no mais alto palco dos Jogos Paralímpicos, Gillette já se acostuma, a distância, com o ambiente brasileiro. No centro de treinamento da equipe norte-americana na Califórnia, Lex convive com Joaquim Cruz, medalhista de ouro do Brasil nos 800m em Los Angeles 1984.
“Primeiro, ele me ensina algumas palavras em português. E aprendo um pouco mais sobre a cultura e o que esperar nos Jogos. Ter ele lá nos ajuda muito a saber o que fazer e o que não fazer para ter a melhor performance”, disse.
Susto nas pistas
Pouco depois do fim da prova de Lex Gillette, foi a vez de outra recordista mundial, Terezinha Guilhermina, voltar à pista. Mas ela protagonizou uma cena preocupante. A brasileira sentiu uma lesão no início da prova dos 200m e deixou a pista carregada pelo guia Rafael Lazarini. Exames mostraram, entretanto, que foi apenas um susto. De acordo com o fisioterapeuta Mauro Malloni, Terezinha sentiu a coxa direita e preferiu não forçar.
Ela foi encaminhada para um exame de ressonância magnética em um hospital da Barra da Tijuca.
Na manhã deste sábado (21.5), ela fará outro exame clínico com a equipe do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) para decidir se vai competir na prova dos 400m.
“Nos próximos dias vamos avaliar e começar a tratar, mas nada que preocupe para a participação dela nos Jogos. Nós passamos para todos os atletas que, diante de qualquer sensação muscular estranha, é melhor parar. Estamos a 100 dias dos Jogos e não podemos correr qualquer risco”, disse Ciro Wincler, coordenador de atletismo do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).
Neymar no Engenhão?
Daniel Tavares, paulista de Marília, foi o primeiro brasileiro a quebrar um recorde mundial paralímpico na nova pista do Engenhão. O garoto de 20 anos baixou a própria marca nos 400m classe T20, que era de 48s27 e rendeu o ouro no Mundial de Doha no ano passado. O primeiro lugar no pódio do evento-teste veio com o tempo de 47s76.
“Não esperava", confessa. "Achei que ia correr na casa dos 48 segundos. Eu nem esperava que a pista fosse tão rápida. É ainda melhor do que eu imaginava. Consegui fazer uma boa corrida e agora é trabalhar para baixar ainda mais o recorde”, disse.
Depois de despontar no Mundial Atletismo Paralímpico de Doha, ano passado, ele vai disputar sua primeira edição dos Jogos Paralímpicos. E o melhor de tudo: em casa. Durante o evento-teste no Engenhão, ele já sentiu um pouco do gosto de ter o apoio da torcida nas arquibancadas. “Eu até estava dançando ali com eles antes de entrar na pista para descontrair um pouco. Isso aqui lotado vai dar um treco no coração. Acho que vai ser uma festa bonita”, previu.
Jovem, brincalhão e vencedor, Daniel até já tem um apelido, graças à semelhança física com um ídolo do esporte brasileiro. “Os espanhóis vieram com essa brincadeira, falando que tem o Neymar do futebol e eu sou o Neymar da corrida. Mas não é Neymar, não, é Daniel mesmo”, frisou o recordista mundial.
Na quinta-feira (19.5), um xará dinamarquês de Daniel, o saltador Jorgensen, quebrou o recorde mundial do salto em distância da classe T42, ao fazer a marca de 6,67m.
Mais um ouro
Depois de vencer os 100m na quinta-feira (19.5), Alan Fonteles voltou a conquistar um ouro no Open de Atletismo. Campeão olímpico nos 200m, o velocista enfim pode correr no Engenhão com a pista seca e aproveitou para fazer sua melhor marca na temporada nessa prova: 22s45.
“Eu quero ir melhorando até chegar às Paralimpíadas. Ano passado eu demorei mais para chegar a essa marca. Falta pouco tempo para as Paralimpíadas, mas o trabalho já é bem forte. Na segunda-feira vou retomar os treinamentos para, na próxima competição, já fazer um tempo bem melhor”, avisou Fonteles.
Alan ainda vai competir no revezamento 4x100m, classes T42 a T47, neste sábado (21.5). Nos Jogos Paralímpicos, ele pretende incluir mais uma prova em seu programa. Além dos 100m, 200m e revezamento, a ideia é correr os 400m. “Ainda não competi este ano nos 400m. Vou competir daqui a trinta dias e vou entrar para fazer o índice e competir na Paralimpíada”, lembrou.
No terceiro dia de competições no Open, o Brasil conquistou mais 40 medalhas, sendo 12 de ouro, 14 de prata e 14 de bronze. O país tem, ao todo, até o momento, 100 medalhas (36 ouros, 30 pratas e 34 bronzes). Confira todos os resultados do dia aqui.
Carol Delmazo e Mateus Baeta - brasil2016.gov.br