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Boxe

05/08/2021 10h41

TÓQUIO 2021

Com dendê no sangue, Beatriz Ferreira e Hebert Conceição mudam a cor da medalha e vão às finais no boxe

Brasileiros venceram seus confrontos pelas semifinais e, agora, já têm pelo menos as pratas garantidas. Objetivo, entretanto, é o ouro

Responda rápido: o que os boxeadores baianos têm correndo pelas veias?

“É dendê no sangue, papai!”, afirma Hebert Conceição, enquanto estapeia o próprio antebraço esquerdo.

Templo do sumô no Japão, o Kokugikan Arena, em Tóquio, ganhou uma batida e um gingado diferentes nesta quinta-feira (05.08) quando os baianos Beatriz Ferreira e Hebert Conceição, ambos nascidos em Salvador, subiram ao ringue para disputarem as semifinais das Olimpíadas no Japão.

Bia Ferreira: em busca da mãe de todas as medalhas. Foto: Miriam Jeske/COB

Para os dois pugilistas, que neste ciclo olímpico foram escalando com muita personalidade os degraus que os trouxeram até a capital japonesa, tendo subido ao pódio em todos os principais eventos nos últimos anos – Campeonato Sul-Americano, Campeonato Pan-Americano e Campeonato Mundial –, o primeiro objetivo, que era conquistar uma medalha em Tóquio, já estava assegurado antes mesmo que o primeiro golpe fosse desferido. Afinal, quem chega à semifinal no boxe já garante, no mínimo, o bronze nos Jogos.

Mas nenhum semifinalista olímpico chega nessa fase sem estar credenciado para disputar as finais. Do outro lado das cordas há sempre alguém que sabe muito bem o que está fazendo.  Nesta quinta-feira, entretanto, apesar do quilate dos rivais, o dendê falou mais alto: Bia e Hebert são finalistas olímpicos!

Investimentos federais

O boxe recebeu repasse direto via Bolsa Atleta do Governo Federal de R$ 6 milhões no ciclo Rio - Tóquio, investimento que se reverteu na concessão de 431 bolsas. Seis dos sete integrantes da equipe brasileira que participaram dos Jogos no Japão são atualmente contemplados, mas os sete já receberam os recursos do programa durante o ciclo.

Aos 28 anos, Bia é a atual campeã mundial da categoria leve (57-60kg) e número 1 do ranking mundial da Associação Internacional de Boxe. Após o triunfo no Mundial de Ecaterimburgo, na Rússia, em 2019, o último disputado antes da pandemia, a brasileira se tornou, em 2020, a primeira do país na história a liderar o ranking mundial.

Na semifinal em Tóquio, ela enfrentou uma rival que conhecia bem: a finlandesa Mira Potkonen, bronze nos Jogos Olímpicos Rio 2016. O confronto marcou o quarto encontro entre as duas. Bia, que havia sido derrotada nas duas primeiras lutas, em 2018, vinha de um triunfo tranquilo sobre Potkonen, conquistado neste ano, no Torneio de Strandja, na Bulgária, por 5 x 0, e repetiu o placar no Japão. Inconsolável, Potkonen caiu em um choro comovente ao final do combate. Já a brasileira carimbou seu lugar na decisão, assegurando ao menos mais uma prata para o Brasil.

Hebert Conceição: dendê no sangue. Foto: Miriam Jeske/COB

“Estar no pódio é o objetivo final, mas aí a gente separa em metas. A meta era passar a primeira luta, e assim por diante, degrau por degrau. Então, fui alimentado isso, fui acreditando nisso, fui estudando as adversárias, e hoje estou aqui. Estou feliz, mas ainda não acabou. Eu tenho isso em mente. Fico muito feliz por ter todo esse apoio da galera, do público acordando de madrugada para estar torcendo por mim. Estou bem treinada, tenho os melhores aqui do meu lado – Mateus Alves e Leo Macedo, seus treinadores – e a gente vai brigar até o fim por essa medalha para, aí, sim, finalizar a missão”, avisa a baiana, beneficiada pelo Bolsa Atleta do Governo Federal.

Pouco depois da luta de Bia, o brasileiro Herbert Conceição entrou no ringue para disputar a semifinal contra o russo Gleb Bakshi, pela categoria dos médios (69-75kg). O duelo foi uma revanche do último Mundial, em Ecaterimburgo, em 2019, quando Herbert acabou derrotado, ficou com o bronze e viu o russo avançar para a final e conquistar o título em casa.

Em Tóquio, contudo, o script foi diferente. O brasileiro foi superior desde o início e, após vencer os dois primeiros rounds, entrou para o último apenas para administrar o triunfo e carimbar a vaga na sonhada final olímpica por um placar de 4 x 1.

“Eu estava um pouco tenso antes da luta, como sempre eu fico. A gente tem que ter essa adrenalina antes da luta, mas também estava bem seguro. Eu treinei muito com minha equipe, pois ninguém ganha nada sozinho. Que bom que eu consegui reverter mais uma revanche. Eu peguei uma chave muito dura, só com lutas duríssimas. A próxima será uma luta muito dura, mas é confiar de novo no jogo, no meu trabalho e da minha equipe para poder buscar essa medalha de ouro para o Brasil”, avalia o pugilista, apoiado pelo Bolsa Atleta na categoria internacional.

Hebert será o primeiro a lutar pelo ouro olímpico. Na madrugada deste sábado (07.08), às 2h45, no horário de Brasília, ele enfrenta o ucraniano Oleksandr Khyzhniak, campeão mundial em 2017. Já Bia enfrenta, na madrugada de domingo (8), às 2h, a irlandesa Anne Harrington, campeã mundial em 2018. O confronto marcará o primeiro encontro entre as duas últimas campeãs do mundo, e a expectativa é de um incrível duelo.

“Eu queria muito essa luta. A gente participou de alguns campeonatos, mas, infelizmente, não chegamos a lutar. Ela é campeã mundial, tem todo o meu respeito, admiro muito o boxe dela. Acredito que a gente vai dar um show e estou ansiosa para esse espetáculo aí. Mas vou brigar até o fim para a mãe de todas (as medalhas) ser douradinha”, diz Beatriz Ferreira.

Luiz Roberto Magalhães, de Tóquio, no Japão – rededoesporte.gov.br