Judô
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Com 80 medalhas conquistadas em 2017, seleção disputa o Mundial de Budapeste
Depois de disputar 15 torneios internacionais ao longo do primeiro semestre do novo ciclo olímpico rumo a Tóquio, e de se habituar às mudanças nas regras estabelecidas pela Federação Internacional de Judô (IJF, na sigla em inglês), a seleção brasileira estreia no próximo dia 28 no evento mais importante do ano. Com 21 atletas convocados, entre eles os que disputarão na inédita equipe mista, a delegação segue em treinamento escalonado durante a aclimatação em Sainte Geneviève des Bois, ao sul de Paris, na França.
A adaptação ao fuso horário teve início no último dia 19, com as categorias mais leves, e o último grupo desembarca na Europa nesta sexta (25.08). "Todos vão passar cinco noites na França para se adaptar ao fuso e depois vão seguindo para Budapeste. Isso é também para não chegarem com muita antecedência e perderem o foco", diz o gestor de Alto Rendimento da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), Ney Wilson. A mesma estratégia foi adotada pela comissão técnica no envio dos judocas à Vila Olímpica do Rio 2016.
Apesar do reforço na concentração dos atletas e da expectativa por bons resultados, o dirigente destaca que, por se tratar do primeiro Mundial após os Jogos Olímpicos, o evento funcionará como um grande laboratório para todos os países. "Tivemos mudanças no regulamento, alguns atletas deixaram de competir e encerraram a carreira, enquanto outros estão começando e já se destacando. O próprio ranking é meio distorcido em função disso. Então é difícil fazer uma previsão, traçar uma meta", aponta.
"Vamos conhecer agora nossos grandes adversários e ver como os nossos atletas estão, apesar de saber que eles estão em ascendência e bem preparados. Teremos adversários diferentes dos das Olimpíadas, e é um grande momento para entender isso e, aí sim, estabelecer metas para 2020", acrescenta Ney Wilson.
"Vamos conhecer agora nossos grandes rivais e ver como os nossos atletas estão. Teremos adversários diferentes dos das Olimpíadas"
Ney Wilson
Novas regras
De qualquer forma, os brasileiros já tiveram diversas oportunidades para retomar o ritmo após os Jogos e testar as novas regras, entre elas a abolição do yuko e a redução no tempo de luta do masculino (de 5 para 4 minutos). Entre os 15 eventos internacionais disputados no primeiro semestre pela seleção principal, sendo oito Abertos, três Grand Slams, três Grand Prix e o Pan-Americano, o Brasil conquistou, ao todo, 80 medalhas, sendo 38 de ouro, 17 de prata e 25 de bronze.
O número ainda é menor do que os 110 pódios, em 14 competições, do mesmo período de 2013 – desconsiderando as 12 medalhas conquistadas naquele ano no Mundial Militar, que em 2017 será disputado apenas em setembro –, também um início de ciclo olímpico. Contudo, Ney Wilson destaca que, desta vez, o número de medalhas de ouro é superior: são 38 em 2017 contra as 36 registradas há quatro anos. "Estamos dentro do previsto, sem sinal de alerta. É um processo de início de ciclo, de adaptação e com novos atletas chegando à seleção", comenta.
No Mundial de 2013, disputado no Rio de Janeiro, a equipe brasileira subiu seis vezes ao pódio, com uma medalha de ouro, três de prata e duas de bronze. A conquista dourada ficou por conta da carioca Rafaela Silva (57kg) que, três anos mais tarde, se consagraria campeã olímpica também lutando dentro de casa. Já na última edição do Mundial, disputado em Astana, em 2015, a seleção faturou duas medalhas de bronze, com Érika Miranda (52kg) e Victor Penalber (81kg).
Expectativa em alta
A comissão técnica pode até não ter traçado uma meta de resultados para Budapeste, mas ao menos um dos judocas já tem bem definido o que pretende alcançar. Depois de subir ao pódio nas três últimas competições que disputou, com o bronze no Grand Prix de Tbilisi, em abril, e os ouros no Grand Slam de Ecaterimburgo, em maio, e no Grand Prix de Cancún, em junho, o peso-pesado David Moura não espera desfecho diferente na Hungria. "Minha expectativa é buscar no mínimo uma medalha. Nunca estive tão bem preparado para uma competição, tanto fisicamente quanto mentalmente", pondera.
Com os resultados dos últimos meses, David chega a Budapeste na liderança do ranking mundial. "A vantagem é ser cabeça de chave, com a possibilidade de fazer uma luta a menos, o que é importante para ser campeão", acredita. "Para os outros não faz diferença, mas para mim é importante porque sei que ganhei um Grand Slam e um Grand Prix duríssimos. Quando vejo uma chave dura, sei que sou capaz de ganhar de todo mundo nela. A confiança no nosso esporte determina muito em uma competição", ressalta.
"Coloquei cartazes de Tóquio na academia. Quando vem um momento de dificuldade, com dores e coisas que temos que superar, olho para o objetivo final e isso me ajuda, me dá forças"
David Moura
É também a confiança o lema do brasileiro na trajetória rumo a Tóquio. "Não consegui ir para o Rio, mas o peso pesado tem uma durabilidade maior. Eu sempre soube que em Tóquio estaria no auge. Não penso só em participar, mas penso, com certeza, que vou como um dos favoritos ao ouro. Isso me motiva muito", afirma o judoca de 29 anos, que adotou uma estratégia para se manter, desde já, com foco olímpico. "Coloquei cartazes de Tóquio na academia. Quando vem um momento de dificuldade, com dores e coisas que temos que superar, olho para o objetivo final e isso me ajuda, me dá forças", conta.
O atleta mato-grossense, que no ano passado viu a vaga olímpica da categoria ser preenchida por Rafael Silva, acredita que, agora, vive um novo momento na carreira. "Venho evoluindo em vários sentidos. Acho que dei uma amadurecida mentalmente para a luta, estou mais tático, mais estratégico, errando menos. Eu sempre soube que, no dia que parasse de errar, ganharia mais lutas, seria mais estável", analisa. "Comecei a me dedicar a isso, a estudar os adversários e a me dedicar nos treinos para sofrer menos pontos".
A própria mudança nas regras tem contribuído nesse desenvolvimento. "Antes era possível perder por um shido (punição). Agora consigo entender que estou ganhando e lutar de forma a anular o adversário sem sofrer uma falta, ganhando certa tranquilidade. O Grand Slam da Rússia, para mim, foi resultado disso. Fiz uma final muito dura, fui para o Golden Score, mas meu pensamento estava em fazer o cara (Levani Matiashvili, da Geórgia) tomar uma punição. É diferente de querer jogar porque aí você tem o risco de ser jogado também", explica.
Conhecido por ter uma agilidade dificilmente encontrada entre judocas do peso pesado, David Moura não se vê prejudicado pela diminuição do tempo de luta, o que poderia aliviar o cansaço dos rivais. "Por ser mais rápido, passo os quatro minutos sendo mais intenso que meus adversários. Não estou preocupado se eles vão se cansar. Sei que não vou me cansar e que nesse tempo estarei sempre na frente, entrando antes e colocando o meu ritmo. Mesmo se ele não se cansar, vai perder", brinca.
Antes de embarcar para a França, na próxima quinta-feira (24), o brasileiro aproveita para fazer os últimos ajustes no treinamento. "Estou tirando o volume nas duas últimas semanas, mantendo a alta intensidade para ter o corpo ativo, mas sem acúmulo de cansaço", conta. David competirá na Hungria em 2 de setembro, último dia de lutas do individual. O sorteio de chaves do Mundial será no dia 27, com lutas de 28 de agosto a 3 de setembro.
Programação
27.08: Sorteio das chaves
28.08: Eric Takabatake (60kg), Phelipe Pelim (60kg), Stefannie Arissa Koyama (48kg)
29.08: Charles Chibana (66kg), Érika Miranda (52kg), Sarah Menezes (52kg)
30.08: Marcelo Contini (73kg), Rafaela Silva (57kg)
31.08: Victor Penalber (81kg), Eduardo Yudi Santos (81kg), Ketleyn Quadros (63kg)
01.09: Maria Portela (70kg), Mayra Aguiar (78kg), Samanta Soares (78kg)
02.09: Luciano Corrêa (100kg), David Moura (+100kg), Rafael Silva (+100kg), Maria Suelen Altheman (+78kg)
03.09: Mundial por equipes mistas
Horários
Preliminares: 5h*
Finais: 11h*
*Horário de Brasília
Ana Cláudia Felizola – Rededoesporte.gov.br