Tenis de mesa
Buenos Aires 2018
China barra Japão nas finais e impede "mudança geopolítica" no tênis de mesa
As duas finais individuais dos Jogos Olímpicos da Juventude no tênis de mesa reuniram um simbolismo que remete, desde já, às Olimpíadas de Tóquio, em 2020. Nos últimos anos, a nova geração de atletas japoneses foi uma das que mais se destacou no cenário internacional, a ponto de vez por outra fazer frente à China, país que se acostumou a ser potência hegemônica e quase intransponível na modalidade. Estão na China, por exemplo, 28 das 32 medalhas de ouro disputadas desde que o tênis de mesa entrou no programa olímpico, nos Jogos de 1988, em Seul. A última vez que um campeão olímpico individual foi um não chinês ocorreu em 2004, nos Jogos de Atenas, com o sul-coreano Ryu Seung Min.
Em Buenos Aires, dois prováveis integrantes da seleção japonesa em Tóquio fizeram uma escala na Argentina como uma espécie de laboratório para que ganhem ainda mais "casco" e resistam à pressão de atuar em casa. Miu Hirano, de 18 anos, e Tomokazu Harimoto, de 15, estão no Top 10 do ranking adulto. Chegaram invictos às finais no torneio na Arena de Tecnópolis, em Buenos Aires. Mas, do outro lado, havia os chineses.
"Sim, é verdade que tenho um bom ranking na listagem adulta, mas aqui há vários jogadores que são de muito bom nível. Para mim foi um desafio grande enfrentar esse torneio"
Tomokazu Harimoto
Na versão feminina da decisão, a mineração de ouro nipônica esbarrou em Sun Yingsha, que também tinha uma campanha sem deixar margem para percalços. A chinesa conseguiu ser mais consistente que Hirano e levou o título por 4 sets a 1, com parciais de 13/11, 9/11, 11/9, 11/9 e 11/6. "A rivalidade como Japão é apenas na mesa. É uma partida a mais", afirmou a campeã. "É bom poder dar um espetáculo para a torcida. Na final ela foi melhor e é a justa vencedora", disse Hirano. O terceiro lugar ficou com a romena Andreaa Dragoman, que superou na disputa do bronze a indiana Archana Girish Kamath por 4 a 1.
Sem brechas
No masculino, o embate envolveu Harimoto e o chinês Wang Chuqin, de 18 anos. O favoritismo do japonês pelo retrospecto recente dele em etapas do circuito mundial não se comprovou na mesa. O chinês, canhoto e com velocidade marcante, venceu por 4 sets a 1, com parciais de 11/8, 11/5, 11/1, 13/11 e 11/9. "Acho que foi um lindo espetáculo para se ver e uma boa forma de encerrar o torneio, e pessoalmente muito importante esse ouro", disse Chuqin.
Harimoto, por sua vez, ficou claramente decepcionado. "Foi uma pena não ter conseguido render o melhor nível na decisão", lamentou, para em seguida enaltecer os adversários. "É verdade que tenho um bom ranking na listagem adulta, mas aqui há vários jogadores que são de nível alto. Para mim, foi um grande desafio enfrentar esse torneio", disse. "O foco maior e o trabalho são voltados para 2020, mas os Jogos da Juventude não deixam de ser Jogos Olímpicos, e por isso enxergo aqui como parte importante da minha preparação", completou o astro japonês, que recentemente bateu os dois últimos campeões olímpicos em sequência para levar o título do Aberto do Japão, em agosto.
Para chegar pronto a 2020, Harimoto entende que ainda precisa trabalhar de forma minuciosa a parte mental, que permite aos atletas ter tranquilidade e precisão nos movimentos nos instantes mais tensos, além da potência de seus ataques. "A parte mental e meu ataque de forehand certamente podem ser melhores do que são hoje", afirmou o atleta, que aproveitava cada brecha que tinha em Buenos Aires para repetir movimentos de saque, de recepção, de ataque e de defesa.
O bronze no torneio masculino ficou com o americano Jha Kanak, após uma batalha eletrizante diante de Yun-Ju Lin, de Taiwan, vencida por 4 sets a 3.
Aprendizado fora das mesas
Olhando atentamente Harimoto durante a semifinal contra Lin Yun-Ju, de Taiwan, Guilherme Teodoro buscava subsídios para os próximos treinos e para a sequência da competição em Buenos Aires, com a equipe mista, a partir de sexta-feira (12.10).
"É um nível de jogo impressionante. Os dois estão entre os melhores juvenis do mundo e já estão entre os melhores adultos. Vendo eles, todos aprendem, seja no jogo ou quando estão treinando. O Brasil ainda precisa melhorar bastante a parte de alto rendimento na base", avaliou Teodoro, que treina na Alemanha e caiu nas oitavas de final do torneio argentino, diante do americano Kanak Jha, que saiu com o bronze.
"Antes de vir para cá, já tinha visto a lista de atletas. Sabia que seria duro. Dei meu máximo. Fiz tudo o que pude, mas acho que tive um pouco de azar por pegar no caminho os dois primeiros cabeças de chave", afirmou o brasileiro, em referência também a Harimoto, a quem enfrentou na fase de grupos.
"A Bruna, pelo nível que estava apresentando, poderia certamente brigar por medalha, mas ela sabe que está no caminho certo, tem que continuar trabalhando para chegar ainda melhor em 2020"
Nelson Kusuoka, técnico da Seleção Brasileira
Só perdeu para a campeã
Bruna Takahashi teve uma performance digna de jogadora que figura entre as 70 melhores do mundo no ranking adulto. Levando em conta a fase de grupos e as oitavas de final, venceu os quatro confrontos por 4 sets a 0. Nas quartas de final, contudo, teve pela frente a chinesa Sun Yinsha, que já ocupou a sétima colocação do ranking mundial adulto e que terminou com a medalha de ouro. Bruna deu trabalho. Pressionou a rival em muitos momentos. Chegou a ter dois set points na terceira parcial, mas acabou derrotada por 4 sets a 0.
"A Bruna, pelo nível que estava apresentando, poderia certamente brigar por medalha, mas de qualquer forma a participação aqui conta muito para a carreira dela. Ela sabe que está no caminho certo e que tem de continuar trabalhando forte para chegar ainda melhor em 2020", afirmou o treinador da Seleção Brasileira, Nelson Kusuoka. Bruna já tem no currículo uma experiência olímpica. Com 16 anos, ela foi a caçula da delegação nos Jogos Rio 2016. Hoje, aos 18, treina na Dinamarca.
Gustavo Cunha, de Buenos Aires, na Argentina - rededoesporte.gov.br
