Geral
Buenos Aires 2018
"Burnout", um dos inimigos dos atletas de alto rendimento
A ideia de que seria preciso treinar muito, todos os dias, e que só assim seria possível formar um campeão ficou no passado. Atualmente, o cuidado com a rotina do atleta, desde as categorias de base, tem como objetivo prevenir o burnout, uma síndrome que gera queda de desempenho e até a falta de prazer para continuar praticando um esporte que o atleta amava.
Psicóloga do Comitê Olímpico do Brasil (COB) desde 2015, Alessandra Dutra, 47 anos, com 25 de experiência em psicologia do Esporte, explica que o burnout tem diagnóstico complexo. "Entre os sintomas psicológicos temos a depressão e a desmotivação, que podem levar à desistência", explica. "Muitas vezes o atleta chega para as competições vindo de outros campeonatos e isso se reflete nos Jogos. Atletas podem chegar já desanimados, mesmo após ter treinado tanto. Isso pode causar sentimentos contraditórios e afetar seu rendimento como um todo", completa.
Mestre em Psicologia Social e ex-psicóloga da Seleção Feminina de Handebol de 2009 a 2016, Alessandra revela que o COB aproveita os Jogos da Juventude para prevenir que excessos ocorram já entre os mais novos. Segundo ela, o acompanhamento psicológico no alto rendimento auxilia na preparação mental e permite que os atletas aproveitem ao máximo suas habilidades cognitivas e emocionais durante treinamentos e competições, além de contribuir para o estabelecimento de metas para a transição de carreira. Durante os Jogos de Buenos Aires, ela atua com atletas e treinadores de dentro de um dos apartamentos da Vila Olímpica.
Alessandra revela que, além do equívoco sobre a necessidade de intenso treinamento, o atleta brasileiro também confunde competição com comparação, e que esse é um traço cultural que também está sendo trabalhado pela equipe interdisciplinar no COB.
"Entre os sintomas psicológicos temos a depressão e a desmotivação, que podem levar à desistência"
Alessandra Dutra
"A representação mental do que uma cultura entende como competição impacta significativamente na forma de encarar as competições. Muitas culturas, incluindo a do Brasil, vêm de uma educação comparativa. Quando estão competindo, a pressão e a ansiedade aumentam por conta da cultura comparativa e não da competitiva", explica.
Integração
Os Jogos Olímpicos da Juventude terminam nesta quinta-feira (18.10), após 13 dias de competições. Nesse período, os atletas convivem juntos, na Vila Olímpica, durante todo o tempo. Mesmo aqueles cujas competições se encerraram continuaram no espaço até o encerramento. Essa intensa convivência é uma regra do Comitê Olímpico Internacional, que busca garantir aos jovens o contato com o ambiente de Jogos Olímpicos desde cedo.
"A experiência é importante para que os atletas tenham a vivência olímpica e se sintam estimulados para continuar no esporte. Conviver com os demais países, ter a oportunidade de aprender com cada adversário, com cada modalidade e exercer os valores olímpicos da forma mais plena: a amizade, o respeito e a excelência", afirma a psicóloga. Para evitar o desgaste de tanta convivência, a equipe do COB busca a integração positiva entre o Time Brasil, permitindo o desenvolvimento do espírito esportivo.
Foi a partir de ação combinada, usando diferentes modalidades, que a equipe do COB trabalhou a integração. "O treinador do boxe aguçou na atleta do pentatlo moderno aquela raiva boa da modalidade, aquela proatividade. Atletas de outras modalidades experimentaram o treinamento combinado do pentatlo, que une corrida e tiro", citou ela. "Um experimenta a modalidade do outro e tira o melhor proveito para sua própria modalidade", concluiu.
Andrea Cordeiro, de Buenos Aires, na Argentina - rededoesporte.gov.br