Brasil tem "choque de realidade" e apenas Calderano sobrevive na chave do Mundial

A terça-feira (23.04) trouxe para a delegação brasileira um "choque de realidade" no Campeonato Mundial de Tênis de Mesa disputado em Budapeste, na Hungria. Sim, o país classificou pela primeira vez na história sete atletas para a chave principal. E sim, o time iniciou o dia como uma das seis únicas nações com cinco atletas no abre do mata-mata do torneio individual masculino.

Porém, ao fim de duas rodadas, os sete representantes e o quinteto masculino se reduziram a um. Hugo Calderano, número sete do mundo, confirmou as expectativas projetadas em torno dele e venceu os dois confrontos que disputou. Primeiro, diante do argentino Horacio Cifuentes, por 4 sets a 2 (11/6, 9/11, 15/13, 11/7, 7/11 e 11/1). Na sequência, contra o ótimo japonês Kazuhiro Yoshimura, pelo mesmo placar (11/7, 14/12, 7/11, 10/12, 11/5 e 11/8).  

"É um jogador muito forte, entre os 30 do mundo, e tem um controle muito bom. Usa a velocidade e a força dos adversários a favor dele. Tenho de me preparar para esse estilo"

Calderano, sobre o adversário que enfrentará nesta quarta-feira, o indiano Sathiyan Gnasekaran

"Foi um jogo muito difícil. Eu consegui abrir 2 x 0, mas sabia que ele podia voltar para o jogo a qualquer momento. Então mantive a concentração e ele realmente começou a jogar melhor. Aí tive de adaptar meu jogo ao dele. Ele tem uma recepção muito forte, uma Chiquita (recepção que vira um ataque de backhand) muito boa. Estou feliz por ter passado por esse teste", afirmou Calderano. O resultado já iguala a melhor campanha do atleta carioca de 22 anos em Mundiais. Em 2017, ele também chegou à terceira rodada, quando acabou eliminado pelo chinês Xu Xin.

Nesta quarta-feira (24.04), Calderano disputa uma vaga nas oitavas de final diante de um aniversário inédito em sua carreira, o indiano Sathiyan Gnasekaran, de 26 anos, 28º do mundo. A partida será a partir das 12h (de Brasília-DF), com transmissão ao vivo pela internet pelo site oficial do evento, na Mesa 1 da arena principal do Hungexpo, onde estão sendo realizadas as compeetições. "É um jogador muito forte, entre os 30 do mundo, e tem um controle muito bom. Usa a velocidade e a força dos adversários a favor dele. Tenho de me preparar para esse estilo".

A geografia da fase dos 32 melhores mostra como o tênis de mesa é um esporte de talentos pulverizados ao longo do planeta. Embora haja claro domínio asiático, com cinco chineses, quatro sul-coreanos e quatro japoneses classificados, há representantes de 18 países, com três alemães, dois portugueses, dois franceses e um integrante de nações como Nigéria, Grécia, Croácia, Polônia, Brasil, Índia, Bielorrússia, Áustria, Dinamarca, Suécia, Eslováquia e Coreia do Norte. Calderano é o único representante das Américas que persiste no torneio. 

Jogo contra o japonês Yoshimura foi bastante complicado e definido em detalhes por Hugo. Foto: Abelardo Mendes Jr./ rededoesporte.gov.br

Virada surreal

Entre os demais integrantes do time, um misto de emoções. Eric Jouti, que passou pela primeira rodada eliminatória ao vencer o chileno Felipe Olivares por 4 sets a 2, viu muito próxima a vaga no grupo dos 32 melhores diante do austríaco Daniel Habesohn, 29º do ranking. Eric chegou a abrir 3 sets a 0 com parciais contundentes (11/4, 11/8 e 11/3), mas viu o adversário encontrar força mental e técnica para dar a volta por cima e fechar as outras quarto parciais em sequência (7/11, 6/11, 7/11 e 8/11).

"Acho que não conseguimos aproveitar as chances que criamos para transformar isso numa performance especial e avançar na chave"

Francisco Arado, técnico da seleção brasileira masculina

Bruna Takahashi, outra que chegou até a fase dos 64 melhores, teve dois instantes bem divergentes na chave de simples. Estreou diante da chilena Judith Morales e não teve problemas para fechar em 4 sets a 0, com parciais de 11/9, 11/6, 11/7 e 11/5. Na sequência, contudo, caiu na armadilha do ótimo saque da sul-coreana Hyowon Suh, 11ª do ranking mundial. e saiu da mesa derrotada por 4 sets a 1, com parciais de 7/11, 4/11, 11/9, 4/11 e 3/11.

"Eu não conseguia receber. No último momento em que ela tocava na bola, não dava para ver se era muito pesado ou muito para cima. Quando recebia bem e ia para a disputa, eu jogava bem. Consegui até ganhar um set, mas a recepção é fundamental, e hoje faltou isso. De qualquer forma, foi a primeira vez que consegui passar pela primeira fase do mata-mata, joguei bem as duplas e levo coisas boas do campeonato", afirmou Bruna Takahashi, de apenas 18 anos.

Se Bruna encontrou motivos para celebrar, Gustavo Tsuboi, 40º do ranking mundial, não escondia a frustração com ele mesmo após uma eliminação por 4 sets a 0 (5/11, 8/11, 7/11 e 5/11) diante do romeno Cristian Pletea, a quem ele havia vencido no início do ano, também na Hungria, por 4 sets a 3.

"Hoje foi um dia em que nada estava dando certo. Acho que criei várias oportunidades e busquei ter iniciativa e atacar primeiro. Fui criativo com meus saques e tive muitas bolas de chance, mas o problema é que acabei errando muito sozinho. Ele percebeu que eu estava sem confiança e começou a focar em receber meu saque e esperar para os contra-ataques. Meu melhor golpe, que é o ataque de forehand, hoje não estava entrando", lamentou Tsuboi.

Vitor Ishiy, número 126 do ranking, estreou diante do frances Can Akkuzu, 66º do mundo, que está em ótima fase,  não deu brechas ao brasileiro e fechou o jogo em 4 sets a 1 (4/11, 7/11, 8/11, 11/7 e 10/12). "Desde o começo ele colocou muita pressão. Ele joga bem em cima da mesa e está num bom ritmo de jogo, foi campeão francês recentemente. A gente se conhece, treina junto, mas a verdade é que demorei uns dois sets para entrar na intensidade certa do jogo. Eu estava sempre um pouco atrasado. Depois, tirei um set dele e fiz 10 x 9 no quinto set, o que poderia ser um 3 x 2, mas, infelizmente pequenas execuções mal feitas deram vantagem a ele", comentou Vitor.

Thiago Monteiro fez uma partida super equilibrada contra o português Marcos Freitas, que já integrou o top ten. Foto: Abelardo Mendes Jr./ rededoesporte.gov.br

Thiago Monteiro, por sua vez, não lamentou sua performance, mas a sensação nítida de que poderia ter saído da mesa com melhor sorte diante do português Marcos Freitas, que já integrou o top ten mundial e hoje ocupa a 26ª posição do ranking. O duelo terminou com vitória de Freitas por 4 sets a 1, com praticamente todas as parciais definidas pela diferença mínima (10/12, 10/12, 11/9, 11/13 e 8/11).

"Foi realmente decidido no detalhe. Uma ou outra bola de chance que eu poderia ter aproveitado melhor. Ele sabe que jogo bem com ele. Já ganhei dele quando ele era Top 10. Ele não fica tão confortável jogando comigo. Claro que ainda fico um pouco chateado por ter saído. É uma pena sair assim num Mundial, mas faz parte do jogo", disse Thiago, que chegou a ter 9/4 e 10/7 no segundo set, e acabou sofrendo a virada.

Lin Gui, por sua vez, não teve muito o que fazer diante da japonesa Hitomi Sato, número 13 do mundo com apenas 21 anos. Com um estilo agressivo e sem deixar a brasileira respirar, Sato fechou o duelo da fase inicial da chave principal por 4 sets a 0, com parciais de 3/11, 5/11, 3/11 e 5/11.

Para o técnico Francisco Arado, o Paco, faltou aos atletas brasileiros a capacidade de saber aproveitar as oportunidades criadas, tanto na chave individual quanto de duplas. "Acho que não conseguimos aproveitar as chances que criamos para transformar isso numa performance especial e avançar na chave", afirmou.

Galeria de fotos (imagens disponíveis para download em alta resolução e uso editorial gratuito. Crédito: Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br) 

Duplas

Assim como no individual, as parcerias com brasileiros se despediram também do Mundial, todos na rodada com os 32 melhores. Gustavo Tsuboi e Eric Jouti foram superados pela dupla húngara formada por Nandor Ecseki e Adam Szudi por 4 sets a 1, com parciais de 11/5, 9/11, 4/11, 10/12 e 7/11. Thiago Monteiro e Vitor Ishiy fizeram uma partida parelha, mas perderam os pontos cruciais e o jogo para a dupla Yun-Ju Lin e Tai-Wei Wang, de China Taipei, por 4 sets a 1 (11/5, 9/11, 9/11, 8/11 e 9/11).

Bruna Takahashi, que jogava o torneio feminino ao lado da sérvia Andrea Todorovic, acabou eliminada após um confronto de seis sets contra as alemãs Chantal Mantz e Sabine Winter: 4 sets a 2, com parciais de 12/10, 7/11, 4/11, 7/11, 11/8 e 9/11).

Gustavo Cunha, de Budapeste, na Hungria - rededoesporte.gov.br