Halterofilismo paralímpico
LIMA 2019
Brasil conquista seis medalhas na estreia do halterofilismo em Lima
Cada atleta que disputa os Jogos Parapan-Americanos Lima 2019 sente uma conexão particular com a maior competição paralímpica do continente. Para o potiguar João França Junior, nascido em Natal, em 20 de outubro de 1995, por exemplo, as lembranças do torneio no Peru certamente ficarão guardadas como um dos episódios mais felizes de sua carreira até aqui. Em sua estreia no megaevento, na primeira prova do primeiro dia do halterofilismo em Lima, nesta quinta-feira (29.08), João competiu na categoria até 49kg masculina e chegou ao ouro ao erguer 141 quilos.
A marca representou o novo recorde da competição. Na mesma prova, Lucas Santos garantiu a dobradinha ao erguer 123 quilos e faturar o bronze. A prata ficou com o colombiano Jhonny Morales, com 125 quilos. As medalhas de João e Lucas abriram as portas para o início de um dia muito feliz para o Brasil na modalidade.
“Até ontem, antes de eu competir, eu não conseguia dimensionar o que era esse evento. É o segundo maior evento paralímpico do mundo. Eu ainda não tinha dimensionado que era a minha estreia, pelo fato de eu já ter participado de outros eventos internacionais. Então, eu estava muito tranquilo. Mas quando a gente entra para competir é uma sensação tremenda, é muito grande”, conta João.
Após a estreia dourada de João França pela manhã, o Brasil conquistou outros dois ouros nas provas disputadas à tarde no ginásio 2 da Villa Desportiva Nacional (Videna). Na categoria -50kg feminina, a paraibana Maria Luzineide Santos ergueu 88 quilos e chegou ao segundo ouro do país. Pouco depois, o paulista Bruno Carra, após as pratas conquistadas nas edições de Guadalajara 2011 e Toronto 2015, finalmente chegou ao ouro ao erguer 163 quilos na categoria -54kg. O Brasil conquistou ainda uma prata, com Lara Sullivan, na categoria unificada dos 41kg e 45kg feminina; e um bronze, com Rene Belcassia, na categoria -55kg feminina.
“Foi muito emocionante, porque você tem aquela sensação de missão cumprida”, resume Maria Luzineide. “Você ver a bandeira brasileira subindo e você sendo a responsável é algo fantástico. É um reconhecimento por todo o trabalho feito nos bastidores. Queria agradecer aos meus técnicos, Carlos William e Leandra Lima, à minha família e a toda a equipe multidisciplinar, que trabalhou muito para que esse resultado acontecesse. Eu já tinha disputado dois Parapans, mas como eles unificaram as categorias nos outros, eu não tinha conseguido a medalha. Agora eu consegui e estou muito feliz”, prossegue a campeã.
“Nos outros dois Parapan-Americanos, eu fiquei em segundo lugar. E neste, graças a Deus, consegui ficar em primeiro lugar e garantir minha primeira medalha de ouro no Parapan. É muito gratificante. A melhor parte disso tudo é que eu consigo retribuir por meio dessa medalha ao nosso país, aos nossos amigos e aos nossos familiares. A gente sente que, quando conquista algo assim, é uma honra e um orgulho para todo mundo”, ressalta Bruno Carra.
Emoção e orgulho
Tanto para Bruno quanto para Maria Luzineide, os ouros em Lima marcaram seus primeiros títulos em Jogos Parapan-Americanos. Mas para João França a conquista teve um significado ainda maior. Afinal, Bruno e Luzineide já haviam experimentado por duas vezes a sensação de defender o país no maior evento esportivo paralímpico das Américas. Para João, essa foi uma experiência inédita.
O halterofilista potiguar começou na modalidade em 2015. Nascido com artrogripose, doença que compromete o movimento das pernas, ele ainda tinha pouco tempo de estrada para brigar pela classificação para as Paralimpíadas Rio 2016. Assim, foi em Lima que ele viveu emoções em níveis comparáveis às do maior evento esportivo do mundo.
"O atleta de alto rendimento precisa abdicar de sua vida para chegar a um grande evento como este e representar bem o Brasil. Foi a medalha mais bonita que já conquistei"
João França
“Eu fico muito emocionado ao falar sobre essa medalha, porque o atleta batalha muito para chegar em qualquer evento. O atleta de alto rendimento precisa abdicar de sua vida para chegar a um grande evento como este e representar bem o Brasil. Eu costumo dizer que é um orgulho levar a bandeira nas costas e tentar representar o Brasil da melhor forma possível. Eu tenho bastante medalha. Mas essa é a mais bonita que eu já ganhei. Uma medalha pesada, de ouro... Fico sem palavras. Ela é muito trabalhada”, diz João.
“Chegar aqui, na minha estreia, conquistar o ouro e ainda bater o recorde da competição para mim não tem palavras que descreva tamanha emoção. Agora o foco é Tóquio. Vamos continuar treinando, nos preparando, porque temos uma luta ainda para chegar até lá”, continua o halterofilista.
João ainda falou sobre a emoção de desfilar com o time nacional na cerimônia de abertura dos Jogos em Lima. “Eu até me arrepio em falar. Cantar ‘Eu sou brasileiro...’ com o estádio peruano vindo junto com a delegação brasileira foi demais. Nós chamamos muita atenção. Nós mostramos nossa garra, a união da delegação, e poder gritar ali que eu sou brasileiro foi um orgulho”.
Bolsa Atleta
Dos 22 atletas da equipe de halterofilismo do Brasil no Parapan, 20 são apoiados pelo Bolsa Atleta do Governo Federal.
Seis deles recebem a Bolsa Pódio, a mais alta categoria do programa: Bruno Carra, Evânio Rodrigues, Márcia Menezes, Mariana D’Andrea, Tayana Medeiros e Terezinha Santos. O investimento em todos os beneficiados no halterofilismo em Lima é de R$ 956,7 mil.
“Agradeço à Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania, que tem o programa Bolsa Atleta. Se isso não existisse, eu acho que o esporte não existiria também. Muitas pessoas se dedicam muito a isso e acabam deixando de trabalhar, de fazer outras coisas, para melhor representar a nossa nação. Sem o Bolsa Atleta isso não seria possível”, destaca João França.
“Eu sou ajudado tanto pelo Governo Federal quanto pelo Governo do Estado de São Paulo, que são meus dois patrocinadores, já que eu recebo a Bolsa Atleta Pódio e sou parte do Time São Paulo. Sou muito grato aos dois, pois são eles que possibilitaram que esse meu sonho de ser atleta seja realidade”, completou Bruno Carra.
Luiz Roberto Magalhães, de Lima, no Peru – rededoesporte.gov.br