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Aquece Rio
Arqueiros e dirigentes ajustam a pontaria no Sambódromo
A passarela do samba foi testada, nesta terça-feira (15.09), sob o ponto de vista do esporte. Arqueiros de 27 países entraram em ação no primeiro dia do Desafio Internacional de Tiro com Arco, evento-teste da modalidade que ocorre no Sambódromo, e colocaram à prova a área que será usada para treinos oficiais e para a etapa qualificatória da competição nos Jogos Olímpicos Rio 2016.
Os atletas se concentraram na percepção de condições de temperatura e vento. Do ponto de vista da organização, ruídos externos foram observados atentamente. Na competição em si, um fato inusitado envolvendo o atual campeão olímpico, o sul coreano Oh Jin Hyek, deu uma ajudinha ao time brasileiro que, por sua vez, lamentou a ausência de público. Confira os destaques do primeiro dia:
Área de competição
Os principais testes são da área de competição e do sistema de resultados. São dois campos de jogo, um para treinos e para a etapa qualificatória, e outro para os combates, que é a fase eliminatória. Nesta terça-feira, o primeiro campo foi testado.
O solo do sambódromo apresenta ondulações e desgaste em virtude da chuva e, por isso, foi montada uma plataforma de um metro de altura, de onde os atletas atiraram em 22 alvos. Alguns, como Oh Jin Hyek, disseram que a plataforma poderia estar um pouco mais estável, para evitar que a movimentação dos arqueiros atrapalhasse a concentração. Ajustes na estrutura podem ser feitos, segundo Gustavo Nascimento, diretor de Instalações do Comitê Rio 2016.
“Aqui a gente está testando já nas condições de competição. É pouco provável que mude (a posição dos alvos). O que a gente pode mudar é a altura da plataforma, as questões de acessibilidade, a posição das rampas, das escadas. São detalhes difíceis de enxergar, mas importantes de ser testados”, disse.
Para o secretário geral da Federação Internacional de Tiro com Arco (World Archery), Tom Dielen, o evento está correndo bem e a prova principal são as altas pontuações obtidas pelos atletas na etapa qualificatória. O trabalho integrado é outro aspecto fundamental.
“Estamos testando os fluxos, a pontuação, o sistema de resultados, a ação dos voluntários. Normalmente, a melhor forma de se preparar para os Jogos Olímpicos é ter todo mundo se comunicando. O evento-teste força todo mundo a trabalhar em conjunto, de diferentes áreas”, acrescentou.
Atenção com ruídos
O tiro com arco não é como o tênis, em que o silêncio é fundamental. Os arqueiros estão acostumados com um certo nível de barulho, mas há alguns ruídos que exigem atenção dos organizadores, especialmente pela existência de avenidas movimentadas nos arredores do Sambódromo.
“Uma das nossas preocupações é com apitos e buzinas, porque há sinais sonoros na competição para começar ou parar de atirar, ou até mesmo se é uma emergência. Os atletas reagem a esses sons pensando que há algo errado. Isso é uma preocupação e temos que ficar atentos nos próximos dias”, disse Dielen.
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O dirigente informou que, neste primeiro dia, os ruídos não atrapalharam, mas é preciso analisar a questão, sobretudo, na área de competição ao lado, onde serão realizadas as fases eliminatórias, as finais do individual e as disputas por equipes no evento-teste e nos Jogos.
“A gente colocou uma barreira de segurança que já ajudou muito no barulho que normalmente vem das ruas. Vamos esperar esses dias todos passarem para fazer uma avaliação e saber se a gente tem que tomar algum outro tipo de medida. Do jeito que está hoje, até agora está indo bem”, explicou Agberto Guimarães, Diretor Executivo de Esportes do Comitê Rio 2016.
“Não achei barulhento. Para ser honesto, os ruídos nem entraram na minha mente hoje, então acho que isso não será uma grande questão”, disse o norte-americano Brady Ellison, tricampeão mundial e prata por equipes nos Jogos Olímpicos de Londres 2012.
“Barulho? Eu não escutei nada. Apenas umas crianças e dois gatos brigando em algum momento, mas foi durante os treinos”, disse o canadense Crispin Duenas.
Sol e vento
A terça-feira foi de muito calor no Rio de Janeiro. Se o sol marcou presença, o vento ficou em segundo plano. “No ano passado, o Campeonato Brasileiro teve muitos desafios, com o vento muito forte. Este ano a questão é só o calor para os estrangeiros. A gente já está acostumado. Hoje a gente pode dizer que o clima está perfeito para o tiro com arco”, disse o brasileiro Marcus Vinícius D´Almeida.
O calor não incomodou o norte-americano Brady Ellison. “Estou feliz que isso seja o inverno. Não é ruim, nós suamos um pouco porque é úmido, mas está mais fresco do que nos Estados Unidos no verão, no nosso torneio. Então não é um choque. E se o vento estiver como hoje (nos Jogos), teremos altas pontuações”, disse.
Não foi o caso de Ellison, mas o inverno com cara de verão, segundo a Federação Internacional, foi estranhado por alguns arqueiros. “O calor foi uma surpresa para muitos, porque estamos no inverno. Mas já tivemos Mundiais na Dinamarca em julho, onde é muito frio e úmido. Os arqueiros têm que competir em qualquer circunstância”, disse Tom Dielen.
Vacilo coreano, vaga para o Brasil
Nas competições internacionais, são os próprios arqueiros que preenchem o cartão de pontuação. Na segunda rodada da qualificatória desta terça, ninguém menos que o campeão olímpico Oh Jin Hyek assinou o cartão sem colocar o total de pontos. Resultado: ficou com zero na segunda rodada e com o último lugar na disputa individual.Por isso, pegará o arqueiro mais bem colocado no combate eliminatório.
“A regra é clara. Você recebe os pontos que você assina. Ele assinou o nada. É o atleta mesmo que preenche o cartão e verifica. Ele tem experiência o suficiente, sabe como fazer. É um grande erro. Ele colocou as flechadas, mas não o total”, explicou Tom Dielen.
A pior consequência veio para o time sul-coreano. Os 343 pontos obtidos na primeira rodada por Oh foram muito inferiores à pontuação de mais de 600 da maioria dos oponentes, que somaram os dois rounds. Isso tirou a Coreia do Sul da disputa por equipes e o Brasil, que ficaria de fora, pegou a última vaga.
“Estava brincando ali que foi um empurrão do mundo pra gente entrar. Vamos enfrentar a Índia, não vai ser fácil, mas acho que estavam querendo que a gente entrasse, porque a gente nunca ia esperar isso de um coreano campeão olímpico. Não sei o que aconteceu para ele se perder nos pensamentos. Não é nada comum. É quase impossível um campeão olímpico errar assim”, disse Marcus Vinícius D´Almeida.
Ausência de público
Marcus Vinícius elogiou a organização da competição no sambódromo, com uma ressalva: gostaria que o evento-teste pudesse ser acompanhado pelo público. “É a primeira vez que temos um evento internacional no Brasil e isso é importante para a modalidade crescer e para gerar novos atletas, e cada vez mais profissionalizar o esporte. Seria uma honra ter aqui a torcida, ainda não entendi o porquê de ser fechado ao público, acho que seria importante porque a gente nunca teve público no tiro com arco, ainda mais a favor”, disse.
O Comitê Rio 2016 explicou a decisão de não testar a operação de público. “Não vamos fazer dois Jogos Olímpicos, um neste ano e outro no ano que vem. Decidiu-se não testar operação de espectador aqui por questão de eficiência na aplicação dos recursos em cada evento. É uma decisão estratégica com base nos recursos que temos. A razão é: se você tem público, precisa também de banheiro, de limpeza, segurança, de staff, precisa alimentar esse staff. É uma questão de como gastar o dinheiro. Não é prioridade para nós testar público aqui”, disse.
Se não foi possível para o evento-teste, os atletas e a Confederação Brasileira de Tiro com Arco (CBTarco) esperam casa cheia nos Jogos. Marcus Vinícius acredita que a torcida vai ajudar. O presidente da CBTarco está de acordo, mas preocupa-se com a preparação psicológica dos atletas.
“Este é um dos aspectos que nós estamos trabalhando com a equipe de treinamento mental. É importante perceber o apoio, mas não deixar isso interferir no tiro. Estamos fazendo isso desde agora”, disse Fernando Blumenschein.
Carol Delmazo, brasil2016.gov.br