Toronto 2015
Toronto 2015
Após melhor campanha da história, CPB tem injeção de R$ 90 milhões no horizonte
Em Toronto, a melhor campanha da história, deixando para trás as performances de Guadalajara, em 2011, e até do Rio, em 2007, com 109 ouros e um total de 257 pódios. No plano legislativo, a sanção, em julho, de uma mudança que determina um aumento estimado de R$ 90 milhões anuais na quantidade de recursos provenientes anualmente da Lei Agnelo/Piva. No futuro próximo, a inauguração do Centro de Treinamento Paralímpico de São Paulo, uma estrutura voltada para a prática de 15 modalidades nas melhores condições de estrutura.
Com esse panorama, o presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro, Andrew Parsons, não tem dúvidas em dizer que tem todos os ingredientes à mão para que o esporte paralímpico brasileiro chegue em médio prazo a um patamar ainda superior ao que demonstra hoje. “Com a aprovação da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (sancionada em julho), a gente está saindo de uma arrecadação de R$ 39 milhões da Lei Agnelo/Piva, para cerca de R$ 130 milhões. Isso muda a realidade e nos dá uma tranquilidade muito grande”, afirmou o dirigente.
Tranquilidade suficiente, segundo ele, para que o CPB tenha condições de gerir com recursos próprios o Centro de Treinamento de São Paulo, que tem previsão de entrega da estrutura física em setembro e estimativa do início efetivo das operações em janeiro de 2016. “Se em janeiro tivermos o Centro de Treinamento disponível para utilização, temos totais condições de cuidar da operação esportiva. Sempre se diz isso em termos das instalações. Uma coisa é construir, a outra é gerir, manter, fazer com que continuem operando. A gente fez uma ampla pesquisa no mundo para perseguir os melhores modelos”.
Nesta conversa com o brasil2016.gov.br durante o período em que tentava acompanhar as delegações nacionais nos 15 esportes em Toronto, Parsons também comentou os acertos e erros da organização do Parapan, explicou algumas formas pensadas pela equipe do Rio2016 para garantir que as instalações estejam cheias na Paralimpíada e citou as estratégias do Comitê para que novas gerações de atletas sejam descobertos.
A organização de Toronto
Cada cidade, cada estado, cada país adota o conceito que lhe convém. Em Toronto eles tinham essa dimensão de divulgar a província de Ontario, o que fez com que as instalações ficassem, em alguns casos, distantes umas das outras. Apesar disso, e do trânsito pesado, a organização esteve muito boa. Poderia ter havido um pouco mais de promoção para evitar a situação de alguns locais não tão cheios. Esse é o único ponto que destacaria como não tão positivo. Mas as instalações ficaram muito boas, confortáveis. A Vila os atletas adoraram, a comida era de alto nível, o transporte não vi reclamação da qualidade, só citações às distâncias.
Arenas vazias como desafio para o Rio
Eu não vejo isso para o Rio. O Brasil inteiro sabe da Paralimpíada. Tem ainda a questão de estarmos vindo de resultados positivos em Londres e aqui em Toronto, no Parapan. Estabelecemos ainda a meta agressiva do quinto lugar no quadro geral. Fora que, entre nossos atletas, alguns já são conhecidos. As pessoas sabem quem é o Daniel Dias (natação), as pessoas conhecem a Teresinha Guilhermina (atletismo). Temos um desafio, talvez, em outras modalidades. Por exemplo, pela própria distribuição das instalações, o tiro com arco ficou um pouco isolado, no Sambódromo. E na Paralimpíada acaba tendo pouca coisa naquela área. É o que a gente chama de uma “stand alone venue", longe das outras, e pode prejudicar. Mas ao mesmo tempo o Sambódromo tem um charme diferente e saímos do Parapan com um resultado bastante importante. Eu não vejo o público como uma preocupação, mas como um foco de atenção.
Três milhões de ingressos
Sim, temos um desafio grande de vender 3 milhões de ingressos, o que colocaria o Brasil como a maior bilheteria, como a edição com maior número de ingressos vendidos na história paralímpica. Fora isso, o município do Rio tem projetos de levar estudantes, a garotada, na Olimpíada. Na Paralimpíada também deve ter. Não vejo demérito, existem modalidades que não são tão conhecidas ou a gente não tem um grande atleta. A esgrima, por exemplo, não tão difundida no Brasil, mas a gente tem um campeão paralímpico, que é o Jovane Guissone. No dia de ele competir, por que não colocar alunos, ou pessoas da comunidade para assistir? Volto a dizer: é um ponto de atenção, mas não uma preocupação. Até porque os preços são convidativos. Tem ingressos a R$ 10 e, se você estiver nas categorias da meia, pode pagar R$ 5 e dividir em cinco vezes no cartão. É mais barato que o cinema. Tem também a própria promoção publicitária dos Jogos. A gente vai incrementar isso no ano que vem. Acho que não vamos ter lugares vazios.
Injeção de R$ 90 milhões
A aprovação da Lei Brasileira da Inclusão (sancionada pela Presidência da República em 6 de julho de 2015) ampliou de 2% para 2,7% o valor repassado aos comitês Olímpico e Paralímpico brasileiros, e mudou de 15% para 37,04% a fatia do Comitê Paralímpico. A conta foi feita assim quebrada exatamente para não afetar o ingresso de recursos no Comitê Olímpico. A mudança coloca o CPB em outro patamar financeiro. Com esses números, pensando a grosso modo, com os dados do ano passado, a gente está indo de uma arrecadação de R$ 39 milhões para cerca de R$ 130 milhões, aumenta mais R$ 90 milhões. Isso muda a realidade e nos dá uma tranquilidade grande. Uma tranquilidade que nos permite, por exemplo, pensar que se em janeiro tivermos o Centro de Treinamento disponível para utilização, temos totais condições de cuidar da operação esportiva. Sempre se diz isso em termos das instalações. Uma coisa é construir, a outra é gerir, manter. A gente fez uma ampla pesquisa no mundo para perseguir os melhores modelos. Hoje a gente tem confiança de que temos recursos.
Quando a obra estava no início, a gente tinha uma preocupação de talvez mesclar recursos do CPB, do governo do estado, do governo federal, de buscar recursos da iniciativa privada, seja com naming rights ou atividades de geração de receita. Hoje, se todas essas outras receitas vierem, elas serão extras. A gente tem a confiança de que consegue não só aumentar o investimento em todas as 22 modalidades de verão e nas duas de inverno que a gente desenvolve, mas também, ao mesmo tempo, gerir o Centro de Treinamento com alto nível.
Redução de custos
O Centro de Treinamento também vai nos ajudar a diminuir as despesas das confederações. Hoje elas têm de pagar, por exemplo, para fazer uma fase de treinamento: elas alugam o local, pagam a hospedagem, o transporte, a alimentação. No Centro a gente vai reduzir muito esse custo. O efeito para o Rio vai ser pequeno, porque está muito em cima, mas as gerações que vão vir para 2020, em Tóquio, e 2024, terão um grau de preparação muito alto e melhor estruturado. Então a gente tem tudo para dar um salto e evoluir de maneira consistente.
Modelo de gestão
A gente está debatendo de uma forma muito tranquila com o governo federal e com o governo do estado de São Paulo. Aqui mesmo, em Toronto, a gente teve uma conversa. Estamos discutindo todas as possibilidades. O CPB defende que a gestão seja feita por nós mesmos, obviamente com uma estrutura de controle que envolva os dois níveis de governo. “Não estamos aqui com um discurso do tipo: me dê uma instalação que custou R$ 260 milhões de dinheiro público, num espaço público, e a gente faz o que quer. Não. A gente tem de prestar contas do investimento feito, devolver algo para a sociedade, mas lembrando que ali é um Centro de Treinamento. O que a gente vai devolver? A preparação de atletas. A função precípua daquele espaço é ser um centro de treinamento de alto rendimento. A gente não pode tirar isso de nossa alça de mira. Mas isso não impede um trabalho de parceria com a iniciação. Para motivar os nossos jovens, nada melhor que a possibilidade de treinar lá de vez em quando. Quem não quer treinar na pista que treina o Alan, a Teresinha, o Petrúcio, quem não quer nadar na piscina onde está o Daniel Dias?
Início do funcionamento
A obra em tese será entregue em setembro. Depois tem toda a parte de equipamento que temos de colocar ali. Eu acho que realisticamente temos de pensar em 2016 para começarmos com alguma segurança. Entrar 2016 com o Centro funcionando. Além de botar os equipamentos, eu tenho de contratar profissionais. O centro não existe por si só. O equipamento precisa estar, mas também quem vai treinar as modalidades específicas, mais a academia, a parte de recuperação, de ciência esportiva. Não temos uma pressa desmedida para botar o centro em funcionamento. A gente quer que ele funcione bem.
Busca de novos talentos
São várias estratégias. Uma coisa fundamental para nós é a Paralimpíada Escolar. Ali vem gente das 27 unidades da Federação. Tem um efeito de capilaridade muito grande. O Petrúcio foi descoberto na delegação da Paraíba numa paraolimpíada escolar. O Alan, na delegação do Pará. Outra coisa que a gente orienta muito as federações também é a buscar a fase regional do circuito de atletismo e natação. É ali que muitos atletas aparecem pela primeira vez. Alguns ainda estão descobrindo sua modalidade. Atletismo e natação, até pelo apelo, são porta de entrada. Mas muitos atletas podem ter aptidões físicas e técnicas para outras modalidades e podem ser apresentados a elas ali. É um trabalho de garimpo, realmente, de buscar talentos, mas de levar o esporte à população. É difícil que alguém que saia da reabilitação e pense: vou para a esgrima, vou para a canoagem. A lógica é diferente. No Olímpico você oferece estrutura e espera o interesse. No nosso caso a gente tem de ir atrás muitas vezes.