Judô
Mundial de Judô
Aclimatação em Hamamatsu no Mundial é "evento-teste" para a seleção de judô
O chefe de cozinha do Hamanako Hotel já adicionou feijão, farofa, aipim e grelhados aos ingredientes básicos de suas receitas. O café da manhã passou a incluir frutas frescas, granola, iogurte e queijos. O Ginásio Yuto, a menos de 500 metros da hospedagem, tem a bandeira brasileira hasteada em sua entrada e duas áreas de luta do judô com tatame de padrão internacional. Brasileiros que vivem em Hamamatsu foram convocados como tradutores, para a conversa entre atletas japoneses aproveitados como apoio, comissão técnica nacional e imprensa local ficar mais fluida, natural.
A 250km de Tóquio, Hamamatsu é a maior colônia brasileira no Japão, com cerca de dez mil cidadãos naturais do Brasil entre os 800 mil moradores. Uma parceria entre a prefeitura local, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) e o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) pretende transformar o município em uma sucursal do esporte de alto rendimento nacional no período prévio aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, em 2020. O judô, o tênis de mesa e o rúgbi de sete feminino estão confirmados para os Jogos Olímpicos. O CPB trará praticamente toda a delegação nacional para aclimatação antes das Paralimpíadas.
Um ano antes disso, o Mundial de Judô, que será disputado de 25 de agosto a 1 de setembro em Tóquio, já serve de ensaio geral. O torneio reúne 889 competidores de 152 países em sete categorias no masculino e outras sete no feminino. É um evento-teste oficial da preparação da capital japonesa para receber o megaevento de 2020. Com uma delegação de 50 integrantes, entre 32 atletas (18 inscritos no individual, outros quatro que se juntam para a disputa em equipes mistas e mais 10 de apoio) e comissão técnica, a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) e o COB aproveitam o principal torneio da modalidade na temporada para ajustar toda a operação e a logística necessárias.
"É muito quente e muito úmido. A gente parado sua. Imagine eles, de quimono, uma vestimenta que já é quente, fazendo um treino intenso. Por isso a gente tem de aumentar a atenção com a reposição hídrica e de micronutrientes"
Roberta Lima, nutricionista da seleção brasileira de judô
A aposta é em concentrar os atletas numa área mais distante do centro da cidade, próximo ao centro de treinamento e com todas as estruturas de suporte ajustadas. Ao lado dos tatames há uma academia montada para fortalecimento muscular e preparação física. A equipe de fisioterapia tem sala no hotel e espaço no ginásio. "Cada detalhe importa numa operação voltada para o alto rendimento. Quanto mais focados pudermos estar, melhores as chances de bons resultados", afirma Ney Wilson, gestor de alto rendimento da CBJ.
Cardápio e clima
A nutricionista Roberta Lima acompanha cada refeição e orienta os atletas na hidratação e recomposição de nutrientes nos treinos, face essencial diante de uma temperatura de mais de 30 graus numa cidade com umidade relativa do ar usualmente acima dos 95% no verão. "É muito quente e muito úmido. A gente parado sua. Imagine eles, de quimono, uma vestimenta que já é quente, fazendo um treino intenso. A produção de suor é grande. Por isso a gente tem de aumentar a atenção com a reposição hídrica. Além da água, temos os isotônicos e usamos pastilhas de sal, porque quando o atleta sua não perde só líquidos, mas micronutrientes que a gente precisa repor".
Roberta já esteve na cidade japonesa em 2018. Conheceu o chefe de cozinha do hotel escolhido pela seleção e passou a fazer um cardápio em conjunto, se aproveitando do fato de alguns mercados da cidade terem ingredientes voltados para os brasileiros residentes na região. "Em lugares específicos você encontra gêneros como feijão, farinha, aipim. Assim, quando vamos almoçar temos arroz, feijão, frango, carne, macarrão, farofa. No café da manhã também fizemos adaptações. Pedi frutas frescas, porque aqui a maioria é em conserva, a base de açúcar. Então eles colocam frutas, granola, mel, iogurte, queijo", relata.
"É como se fosse um evento-teste para 2020. Todo mundo chegou junto, vão ficar entre nove e dez dias aqui e depois há uma saída escalonada"
Soraya Carvalho, responsável pela aclimatação em Hamamatsu no CO
Só na véspera das lutas
Outra face conceitual aplicada ao Mundial é a saída escalonada. Os atletas de cada categoria deixarão Hamamatsu para a competição dois dias antes de suas lutas, para a pesagem. Assim, serão várias partidas para Tóquio. "Estamos fazendo exatamente a operação do ano que vem. É como se fosse um evento-teste para 2020", afirma Soraya Carvalho, responsável no COB pela base de aclimatação de Hamamatsu. "Todo mundo chegou junto, o time vai ficar entre nove e dez dias aqui e depois há uma saída escalonada", completa a ex-ginasta, que também tem a função de gerente do Instituto Olímpico Brasileiro.
"Eu considero isso o ideal. Gosto de estar isolado, numa cidade menor. Há uma força-tarefa gigantesca para dar a melhor condição para a gente ter um bom desempenho. E estou me sentindo em casa. Hamamatsu é praticamente um pedaço do Brasil no Japão. A cidade recebe a gente de braços abertos. É um privilégio a gente ter todo esse suporte para chegar bem ao Mundial", diz Rafael Baby, medalhista olímpico e em mundiais na categoria dos pesados (+100kg). Último a competir no individual, Baby vai integrar a leva final de competidores a seguir para Tóquio. "Dá uma certa ansiedade, mas gosto disso. É o melhor formato", comenta.
Investimentos federais
"Sinceramente, para o alto rendimento é difícil pensar em viver sem a bolsa, porque a gente gasta demais com suplementação e alimentação. Comer de forma saudável e regrada custa caro. E precisamos manter o peso"
Leonardo Gonçalves, titular da categoria -100kg da seleção brasileira de judô
Dos 18 atletas inscritos na competição individual do Mundial de Judô, 17 são integrantes do Bolsa Atleta, programa da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania. O investimento anual no grupo é de R$ 1,67 milhão. No judô como um todo, 256 esportistas recebem atualmente o Bolsa Atleta, num investimento federal anual de R$ 4,5 milhões.
Nesse grupo de 17, 12 recebem a Bolsa Pódio, a principal categoria do Bolsa Atleta, voltada para esportistas que se consolidam entre os 20 melhores do ranking mundial. Em outra vertente de investimentos federais, 11 dos 18 judocas estão inscritos no Programa de Alto Rendimento das Forças Armadas.
"Quem recebe o Bolsa Atleta sabe como é surreal esse apoio. Sinceramente, para o alto rendimento é difícil pensar em viver sem, porque a gente gasta demais realmente, principalmente com suplementação e alimentação boa. Comer bem, de forma saudável e regrada, custa caro. E a gente tem de manter peso", afirmou Leonardo Gonçalves, titular da categoria -100kg da seleção e atualmente contemplado no Bolsa Pódio e no programa das Forças Armadas.
Gustavo Cunha, de Hamamatsu, no Japão - rededoesporte.gov.br