Atletismo
Budapeste 2019
O "conto de fadas" do sul-coreano de 19 anos, 157º do mundo, que garantiu o pódio
An Jaehyun chegou ao Campeonato Mundial de Tênis de Mesa como um ilustre desconhecido da maioria dos torcedores e de muitos dos atletas mais badalados do circuito mundial. Aos 19 anos, o sul-coreano disputa pela primeira vez em Budapeste a versão adulta do torneio. Atualmente na 157ª posição no ranking mundial, a melhor que ele já teve na carreira foi a 114ª, em fevereiro de 2019. Não ostenta, no currículo esportivo, títulos expressivos nos torneios relevantes da modalidade.
Com esse histórico, entrou no Mundial pela "porta dos fundos", no Qualifying. Disputou uma fase de grupos com dois jogos, contra Emir Garyagdyyev, do Turcomenistão, e diante de Alexander Valuch, da Eslováquia. Ganhou os dois. Precisou ainda de uma terceira partida, eliminatória, diante do ucraniano Yaroslav Zhmudenko, para garantir vaga na chave principal, com os 128 melhores. Venceu por 4 a 0.
Desde então, An Jaehyun passou a escrever uma das páginas mais improváveis da história dos mundiais de tênis de Mesa. Um "conto de fadas". Estreou contra Wong Chung Ting, 14º do mundo, e venceu por impressionantes 4 a 0 (11/3, 11/5, 11/8 e 11/9). Encarou na sequência um sueco habilidoso e conhecido no circuito, Truls Moregard, e saiu com nova vitória, dessa vez por 4 a 2 (3/11, 11/2, 11/13, 11/5, 11/8 e 11/8).
Com isso, já tinha chegado à fase com os 32 melhores. Mas não era suficiente. Enfrentou o austríaco Daniel Habesohn (29º), que havia eliminado o brasileiro Eric Jouti na rodada anterior, e saiu da mesa com uma vitória por 4 sets a 2. Chegou às oitavas para o que parecia ser o seu limite, o teto do possível. Do outro lado havia o japonês Tomokazu Harimoto, número quatro do mundo aos 15 anos e apontado por muitos dos especialistas como favorito para chegar à final. Harimoto é um fenômeno da modalidade, com títulos do circuito mundial e vitórias contra quase todos os chineses do top ten.
Mesmo com todo esse histórico desfavorável, An Jaehyun não se intimidou. Impôs dificuldades ao japonês, adotou um estilo moderno, bem agressivo, perto da mesa, com contra-ataques consistentes e muita precisão nas trocas de bola. Saiu da mesa com novo triunfo, por 4 sets a 2 (11/7, 3/11, 11/8, 11/7, 8/11 e 11/9), para espanto da imprensa mundial e questionamentos da torcida japonesa, que vê em Harimoto uma das apostas para pódio nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020. "Na última vez que eu tinha jogado com ele o jogo foi bom, mas melhor para ele. Agora eu estava muito mais confiante de que poderia ganhar e estou feliz demais porque consegui", disse o sul-coreano após o duelo.
"O resultado dele mostra o quanto o nível do nosso esporte é difícil. Existem muitos bons jogadores, independentemente do ranking que ocupam. Muitos que podem surpreender Top 50"
Francisco Arado, técnico da seleção brasileira masculina de tênis de mesa
Na sequência, nas quartas de final, derrotou outro atleta do Top Ten, o compatriota dele Jang Woojin (10º), numa maratona de sete sets definida pela diferença mínima permitida no tênis de mesa, de dois pontos: 4 a 3 (12/10, 10/12, 7/11, 11/3, 11/5, 8/11 e 12/10), após mais de uma hora de jogo e de salvar um match point contra. Ao todo, já são oito vitórias em sequência no principal palco do esporte, com 32 sets vencidos e 11 perdidos, além da classificação para a semifinal e a garantia de um lugar ao pódio, já que não há disputa de terceiro lugar no tênis de mesa.
"Ele merece os parabéns. Está jogando muito bem. A verdade é que o nível médio do tênis de mesa hoje é bem alto", elogiou o técnico Jean-René Mounie, responsável pelo brasileiro Hugo Calderano. "O resultado dele mostra o quanto o nível do nosso esporte é difícil. Existem muitos bons jogadores, independentemente do ranking que ocupam. Muitos com o nível bem alto e que podem surpreender Top 50. Basta lembra que o número 1 e o número 2 caíram nas oitavas", ressaltou Francisco Arado, o Paco, técnico da seleção brasileira masculina.
Semifinal "on fire"
Neste sábado (27.04), a partir das 13h de Brasília, a missão de An Jaehyun será tão complicada quanto as anteriores. O adversário será o sueco Mattias Falck, 16º do mundo, que vem na melhor fase de sua carreira em 2019. Foi semifinalista no Aberto do Catar, após perder uma partida épica contra o chinês Lin Gaoyuan (3º) por 4 a 3, e vice-campeão do Aberto de Omã. Falck chegou à semifinal do Mundial depois de superar nas quartas o francês Simon Gauzy (34º) por 4 sets 1. Gauzy tinha como principal predicado em Budapeste ter eliminado o chinês Xu Xin, número dois do mundo.
"Eu confesso que estava nervoso no início do jogo contra o Gauzy. Era um jogo importante demais para nós dois. Valia uma medalha em Mundial. Era muita coisa em jogo. Acho que só a partir do segundo set eu consegui, de fato, controlar os nervos jogar mais agressivamente e com muitas variações, o que foi decisivo", afirmou Mattias Falck
A outra semifinal individual será entre chineses, a partir das 12h (de Brasília). De um lado, o atual bicampeão mundial e ouro nos Jogos Olímpicos Rio 2016: Ma Long retomou suas melhores apresentações na reta final do torneio. Tirou o brasileiro Hugo Calderano da competição nas oitavas (4 a 1) e eliminou o compatriota Lin Gaoyuan de forma contundente nas quartas, por 4 a 0. Do outro, o chinês Liang Jingkun, de 21 anos, que ocupa a nona posição no ranking e eliminou o número 1, Fan Zhendong, nas oitavas. Nas quartas, passou pelo japonês Koki Niwa em 4 sets a 3.
Duas decisões de ouro
O sábado em Budapeste também marca a definição dos campeões em duas categorias. O individual feminino terá a final 100% chinesa entre Liu Shiwen (5ª do mundo) e Cheng Meng (3ª). Shiwen chega pela terceira vez à decisão. Nas duas anteriores, em 2013 e 2015, acabou com o vice-campeonato. Cheng Meng, que chegou às quartas de final na última edição do Mundial, em 2017, vem de uma ótima experiência em Budapeste: foi campeã do Aberto da Bulgária em janeiro. A partida que define o décimo terceiro título mundial consecutivo de chinesas na competição terá início às 8h (de Brasília).
Outra decisão de medalha de ouro será nas duplas masculinas. Os chineses Ma Long e Wang Chuqin medem forças contra a dupla sensação do torneio, entre o espanhol Alvaro Robles e o romeno Ovidiu Ionescu. A parceria internacional, formada há menos de um ano, levou a Espanha à primeira medalha na história dos Mundiais. Na semifinal, eles venceram os portugueses Tiago Apolónia e João Monteiro por 4 sets a 3 (11/6, 3/11, 10/12, 11/7, 11/7, 9/11 e 11/8). Ma Long e Wang Chuqin chegaram à decisão após eliminar outra parceria chinesa na semifinal. Superaram Liang Jingkun e Lin Gaoyuan por 4 a 0 (12/10, 11/7, 11/7 e 11/5). A decisão do título será a partir das 7h (de Brasília).
Galeria de fotos (imagens disponíveis para download em alta resolução e uso editorial gratuito. Crédito: Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br)
Agenda do dia: Sábado, 27.04
Final de duplas masculina
Ovidiu Ionesco (Romênia) e Alvaro Robles (Espanha) x Ma Long e Wang Chuqin (China) - 7h (de Brasília)
Final feminina
Liu Shiwen (China) x Chen Meng (China) - 8h (de Brasília)
Semifinais do individual masculino
Liang Jingkun (China) x Ma Long (China) - 12h (de Brasília)
An Jaehyun (Coreia do Sul) x Mattias Falck (Suécia) - 13h (de Brasília)
Semifinais de duplas femininas
Hina Hayata e Mima Ito (Japão) x Honoka Hashimoto e Hitomi Sato (Japão) - 14h (de Brasília)
Chen Meng e Zhu Yuling (China) x Sun Yingsha e Wang Manyu (China) - 15h (de Brasília)
Gustavo Cunha, de Budapeste, na Hungria - rededoesporte.gov.br