Badminton
LIMA 2019
“Ygordinho” ou “Negão da Chacrinha”, Ygor Coelho é ouro nos Jogos Pan-Americanos
Para os amigos da comunidade carioca, ele é o “Negão da Chacrinha”. Ganhou até uma música temática, à época dos Jogos Olímpicos da Juventude de 2014, que canta e samba enquanto dá entrevistas. Já para a técnica dinamarquesa Nadia Lyduch, ele é o “Ygordinho”, apelido em referência ao frequente diminutivo dos nomes dos jogadores de futebol brasileiros, e não ao peso na balança. Para os alto-falantes da Villa Desportiva Nacional (Videna) de Lima, nesta sexta-feira (02.08), porém, havia um nome e um título prontos para ecoar. “Medalhista de ouro e campeão pan-americano, representando o Brasil, Ygor Coelho”.
Ao marcar o ponto da vitória em cima do canadense Brian Yang e fechar a partida em 2 x 0 (21/19, 21/10), o brasileiro viu passar pela cabeça, em questão de segundos, uma longa sequência do caminho que percorreu até chegar ao inédito ouro dos Jogos Pan-Americanos. “Pensei no projeto social do meu pai, nos amigos que perdi para o tráfico, nas pessoas que estão lutando pelos seus sonhos, em quando fui morar fora do país, passei frio, fiquei sem comer ou dormir direito. Tudo isso desabou na quadra depois que fiz o último ponto”, desabafa Ygor.
Depois de uma disputa muito acirrada na semifinal, quando superou o também canadense Jason Ho-Shue, Ygor sobrou na decisão. Brian Yang até ameaçou no primeiro set, empatando o jogo em 19/19, antes que o brasileiro conseguisse confirmar a parcial. No segundo set, contudo, não houve espaço para reação. Com 11 pontos a mais que o rival, Ygor vibrou e chorou muito com a conquista da primeira medalha de ouro para o badminton brasileiro em Jogos Pan-Americanos.
“Eu vim muito preparado, foquei bastante. Foi bem pesado, mas acho que no final ele sentiu a pressão do torneio e acabei levando”, avalia o atleta, que conseguiu descansar na última noite mesmo sabendo da pressão que viveria nesta sexta-feira. “Conversei com a minha namorada, saí das redes sociais, procurei não responder as pessoas. Dormi, tive uma noite tranquila. Falei com a minha psicóloga, procurei focar ao máximo mentalmente para esse jogo”, conta.
Para chegar à medalha que define como “a mais importante da carreira”, o atleta precisou superar uma jovem promessa do Canadá, país que levou o ouro em todas as outras provas do badminton em Lima. Aos 17 anos, Brian Yang eliminou outros favoritos, como Kevin Cordón, da Guatemala, bicampeão pan-americano, e o cubano Osleni Guerrero, prata em Guadalajara 2011 e bronze em Toronto 2015.
Inspiração
O início no esporte dentro de uma favela carioca encontra semelhança na história da judoca campeã olímpica Rafaela Silva. “Ela é um espelho para mim”, diz Ygor. A maior inspiração, contudo, é o próprio pai, Sebastião, fundador do projeto social Miratus e a quem o filho constantemente agradece pelo ensinamento de que nada é impossível. “Meu pai criou uma oração e todo dia faz na Miratus: ‘Eu quero, eu posso, eu vou conseguir. Conseguir o quê? Me superar’. Se não fosse por ele, eu não teria essa garra de lutador. Acho que puxei do sangue do meu pai”, afirma.
Foi ainda na Chacrinha que Ygor viu pela primeira vez uma medalha de Jogos Pan-Americanos. “Em 2007, durante o Pan do Rio, a canadense Charmaine Reid foi lá na Miratus e levou uma medalha de prata, bem iluminada. Ela falou sobre os Jogos Olímpicos e Pan-Americanos, disse que, com trabalho, a gente poderia chegar também”, relembra, emocionado.
Bem distante do Rio de Janeiro, Ygor vive e treina na Dinamarca, com a técnica Nadia Lyduch. “Estou orgulhosa. É difícil explicar. O trabalho de uma técnica é mais do que ser técnica. É ser também uma amiga, uma mãe, um membro da família, a professora, a boa e a má pessoa”, opina a treinadora. “Experiências como essa fazem valer a pena todo o trabalho duro”, completa.
Próximos passos
E o trabalho não para por aí. Com o ouro no peito, Ygor volta ao Rio de Janeiro e terá apenas um dia na cidade antes de seguir para a Dinamarca novamente. O foco agora é na preparação para o Mundial, entre os dias 19 e 25 deste mês, na Suíça. No evento, terá a oportunidade de somar mais pontos cruciais para a classificação olímpica.
“Ano que vem acredito que estarei na minha melhor forma. Ainda estou escalando, colocando cada tijolo. Aqui foi um grande tijolo! Tenho que continuar construindo e trabalhando”, comenta Ygor.
Além da medalha de ouro do carioca, a seleção brasileira de badminton conquistou em Lima outras quatro de bronze. Foi a melhor campanha da história da modalidade em Jogos Pan-Americanos. Toda a equipe é contemplada pela Bolsa Atleta da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania, em um investimento de R$ 192,6 mil ao ano.
Ana Cláudia Felizola, de Lima, no Peru – rededoesporte.gov.br