Você está aqui: Página Inicial / Notícias / Para retornar aos tatames, seleção de judô embarca com 28 atletas para Portugal

Judô

23/06/2020 16h35

Judô

Para retornar aos tatames, seleção de judô embarca com 28 atletas para Portugal

Período de treinos na Europa faz parte de uma iniciativa do COB e deverá ter, ao todo, mais de 200 brasileiros, seguindo medidas de prevenção ao coronavírus

Ao redor do mundo, os países tentam, aos poucos, retomar os calendários esportivos após a pausa forçada pela pandemia de Covid-19. No tênis de mesa, por exemplo, a Bundesliga teve sua fase final disputada na Alemanha e o brasileiro Hugo Calderano chegou ao vice-campeonato com sua equipe, o Liebherr Ochsenhausen. Já a Federação Internacional de Judô (FIJ) indicou que, se a situação de saúde permitir, o Circuito Mundial pode ser recomeçado em setembro. Para pisarem novamente nos tatames e se prepararem para a nova corrida pelo ranking olímpico, 28 judocas brasileiros devem embarcar em julho para Portugal.

A iniciativa de formar uma delegação para um período de treinos na Europa partiu do Comitê Olímpico do Brasil (COB). Ao todo, já estão confirmados 207 nomes de 15 modalidades, para as atividades previstas para ocorrer ao longo dos últimos seis meses do ano. O judô é a segunda modalidade com o maior número de inscritos, atrás apenas do atletismo (29), e deve ser uma das primeiras a embarcar. A previsão é que os atletas cheguem a Portugal entre os dias 10 e 11 de julho, retornando ao Brasil em 24 de agosto.

48865912138_4e7ee2e0ee_k.jpg
David Moura e Rafael Silva travam uma disputa pela vaga olímpica no pesado. Foto: Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br

Segundo o gestor de Alto Rendimento da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), Ney Wilson, será uma possibilidade de ajudar os atletas que estão enfrentando dificuldades para treinar durante o período de isolamento social. Durante todos esses meses, os judocas tentaram adequar a preparação física contando com  acompanhamento dos técnicos dos clubes e da equipe multidisciplinar da seleção.

"Teremos grupos separados, com o masculino e o feminino treinando em horários diferentes. Dentro de cada horário, teremos três subgrupos e, gradativamente, como vamos ficar lá em torno de 50 dias, vamos liberando com segurança nossos atletas”
Ney Wilson, gestor de Alto Rendimento da Confederação Brasileira de Judô (CBJ)

“Se algum atleta está mais ansioso, a gente aciona a área de psicologia. Graças a Deus não tivemos nenhum identificado com Covid, mas se um atleta ainda está sentindo uma lesão, entramos com as áreas médica e de fisioterapia. Às vezes algum está comendo demais, aí a gente faz uma abordagem também com a área nutricional. Estamos monitorando permanentemente, mesmo que a distância”, conta. “Estamos de olho no nosso time e caminhando com eles neste momento de dificuldade”, completa Ney Wilson.

Poder retomar o ritmo de luta, contudo, será fundamental sobretudo para quem espera logo voltar à briga pela vaga olímpica. De todos os 14 homens e 14 mulheres convocados para a viagem, apenas Luiza Cruz (+78kg) e Thiago Palmini (+100kg) não se enquadram nesse perfil e entram como atletas de apoio. Isso porque Maria Suelen Altheman e David Moura decidiram não participar da concentração por já contarem com boas condições de treinamento no Brasil.

“São duas categorias em que é difícil ter com quem treinar e que são muito fortes para o Brasil, com possibilidade de conquista de medalhas. Por isso vamos levar dois atletas que serão fundamentais como suporte”, justifica o gestor. Entre os 28 judocas na lista, 18 são contemplados com a Bolsa Atleta do Ministério da Cidadania, sendo 11 da categoria Pódio, a mais alta do programa. Ao todo, o investimento federal anual no grupo é de mais de R$ 1,2 milhão.

48645751652_f34533879a_k.jpg
Leonardo Gonçalves quer somar mais pontos este ano para a corrida pela vaga olímpica contra Buzacarini. Foto: Roberto Castro/ rededoesporte.gov.br

Mão no quimono

"Vai dar para a gente treinar com o companheiro de equipe, ter contato com o quimono. Isso vai facilitar a volta às competições"
Leonardo Gonçalves, categoria -100kg

Depois de três meses treinando em casa apenas com os pesos emprestados pelo clube Sogipa, Leonardo Gonçalves (-100kg) comemora a chance de encostar novamente no quimono de um companheiro de seleção. "Lá vai dar para a gente treinar com o companheiro de equipe, ter contato com o quimono. Isso vai facilitar a volta às competições", acredita o atleta de 24 anos que, na última atualização do ranking da FIJ, ocupava a 19ª colocação na categoria. Rafael Buzacarini é o 12º.

"Estou com uma expectativa boa para a retomada das competições. Acho que esses treinos isolados, esse tempo parado, sem competir, foi bom para o meu corpo, para a minha cabeça", avalia Leonardo. "Espero que consiga continuar o que estava fazendo nas competições do início do ano, em que tive bons resultados, para somar mais pontos. Se tiver competição este ano, esses pontos serão importantes para mim para buscar a minha vaga para 2021", completa. Em janeiro, ele foi prata no Grand Prix de Tel Aviv e, em fevereiro, venceu o Open de Oberwart.

Protocolos 

Até efetivamente pisarem nos tatames portugueses, contudo, o elenco brasileiro precisará cumprir uma série de requisitos sanitários. “Os atletas vão fazer exame de sorologia e de PCR antes de embarcar, para sairmos daqui seguros de que todos estão sem contaminação. Ao chegarmos lá, faremos novos exames, vamos do aeroporto direto para o laboratório. Depois entramos em um Centro de Treinamento e ficamos de quarentena até sair o resultado”, conta Ney.

Mesmo quando os treinos forem liberados, outros cuidados serão seguidos. “Teremos grupos separados, com o masculino e o feminino treinando em horários diferentes. Dentro de cada horário, teremos três subgrupos e, gradativamente, como vamos ficar lá em torno de 50 dias, vamos liberando com segurança nossos atletas”, detalha.

48844169213_41f70606ef_k.jpg
Ney Wilson, gestor de Alto Rendimento da CBJ. Foto: Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br

Segundo a CBJ, a programação da viagem está em fase final de planejamento, com reuniões semanais com representantes do COB, da Federação Portuguesa de Judô e do Comitê Olímpico de Portugal. Na primeira fase, a delegação brasileira ficará concentrada em Rio Maior, a 75km de Lisboa, até 14 de julho, sem contato com outras pessoas. Em seguida os atletas partirão para Coimbra, onde poderão treinar com a seleção portuguesa, até 23 de agosto. 

“Fizemos contato com todas as confederações para identificar necessidades e planejar, em conjunto, os treinos na Europa. Foi primordial, além de priorizar atletas classificados para os Jogos de Tóquio, ter certeza da condição de continuidade aos treinos após encerrado o período na Europa”
Marco Antônio La Porta, chefe de missão do COB nos Jogos de Tóquio

Saúde mental

Apesar de tantas restrições para evitar qualquer possibilidade de contaminação, o dirigente acredita que o período será benéfico aos brasileiros. “A viagem traz também um ponto importante que não é só a saúde física, mas a saúde mental dos atletas. Eles já estavam no limite por estarem nesse ambiente sem poder sair, treinando em casa de maneira improvisada”, comenta.

A expectativa agora é que, ao retornarem de Portugal, os atletas brasileiros já tenham condições de seguir com o treinamento no Brasil. “Estamos nos preparando para dar continuidade quando voltarmos de Portugal. Não faria sentido a gente fazer esse investimento todo, treinar em Portugal e não dar continuidade quando chegar no Brasil. Não sabemos como estará, mas a gente espera poder seguir com o nosso projeto, montando uma estrutura de treinamento para os atletas no retorno”, afirma Ney Wilson.

Essa também foi uma prerrogativa do próprio COB ao planejar a chamada Missão Europa. “Fizemos contato com todas as confederações olímpicas para identificar necessidades e planejar, em conjunto, os treinos na Europa. Foi primordial, além de priorizar atletas classificados para os Jogos de Tóquio, ter certeza da condição de continuidade aos treinos após encerrado o período na Europa”, explica Marco Antônio La Porta, chefe de missão nos Jogos de Tóquio. O investimento da entidade na logística da viagem é de R$ 13,7 milhões.

Bicampeã mundial e com dois bronzes olímpicos, Mayra Aguiar é um dos destaques da equipe. Foto: Roberto Castro/rededoesporte.gov.br

Circuito Mundial 

Seguir com os treinos também será crucial à equipe caso a Federação Internacional de Judô retome o calendário do Circuito Mundial a partir de setembro. Para o gestor brasileiro, contudo, essa data pode mudar. “Eles disseram que querem dar condições a todos os países de estarem treinando por ao menos dois meses. Isso significa que, para voltar em setembro, a gente tem que estar treinando julho e agosto inteiros. Isso em todos os países, em todos os continentes. Se os países só voltarem aos treinos em agosto, a data passa para outubro, e assim por diante”, explica.

Entre os 28 judocas na lista, 18 são contemplados com a Bolsa Atleta do Ministério da Cidadania, sendo 11 da categoria Pódio, a mais alta do programa. Ao todo, o investimento federal anual no grupo é de mais de R$ 1,2 milhão

“A gente tem uma segurança de dois meses para saber exatamente o que vai acontecer. A primeira sinalização é a possibilidade de voltar em setembro. Eu acho um pouco otimista demais, particularmente não acredito, mesmo com toda a segurança, sem público, só permitindo a entrada no ginásio dos atletas que forem competir naquele dia”, pondera. “É um adversário muito difícil, precisamos trabalhar com várias possibilidades. A primeira é a ida para Portugal. Na sequência, um treinamento na volta, também em pequenos grupos. E, assim que a FIJ, der o ‘start’, o nosso time está pronto para recomeçar a briga pela vaga olímpica”, garante Ney.

Jogos Olímpicos adiados

Apesar de toda a indefinição que ainda existe em torno do calendário esportivo e da própria realização dos Jogos Olímpicos em 2021, o dirigente acredita que o adiamento pode ser benéfico à seleção brasileira. “Eu vejo de uma forma positiva. A gente tem um grupo de atletas bem jovens que estão brigando pela vaga olímpica. É uma equipe renovada, principalmente no masculino. Um ano a mais é uma possibilidade maior de amadurecimento desses atletas para encarar uma competição como uma Olimpíada”, avalia. 

“Por outro lado, você tem os atletas um pouco mais maduros, mas que agora já absorveram, já entenderam que não poderia ser agora e que foi melhor e mais seguro para todo mundo”, afirma. “Eu fico bastante confiante de chegar com uma equipe ainda mais preparada, mais amadurecida. Acho que isso, para uma equipe que está em um processo de renovação, é muito bom”, acrescenta o gestor.  

SELEÇÃO BRASILEIRA DE JUDÔ - Treinamento de Campo Portugal 2020

Equipe feminina
Nathália Brígida (-48kg)
Gabriela Chibana (-48kg)
Larissa Pimenta (-52kg)
Eleudis Valentim (-52kg)
Sarah Menezes (-52kg)
Jéssica Pereira (-57kg)
Alexia Castilhos (-63kg)
Ketleyn Quadros (-63kg)
Maria Portela (-70kg)
Ellen Santana (-70kg)
Mayra Aguiar (-78kg)
Samanta Soares (-78kg)
Beatriz Souza (+78kg)
Luiza Cruz (+78kg) 

Equipe masculina
Eric Takabatake (-60kg)
Phelipe Pelim (-60kg)
Allan Kuwabara (-60kg)
Daniel Cargnin (-66kg)
Willian Lima (-66kg)
Eduardo Katsuhiro (-73kg)
David Lima (-73kg)
João Pedro Macedo (-81kg)
Guilherme Schimidt (-81kg)
Victor Penalber (-81kg)
Leonardo Gonçalves (-100kg)
Rafael Buzacarini (-100kg)
Rafael Silva "Baby" (+100kg)
Thiago Palmini (+100kg)

Ana Cláudia Felizola – rededoesporte.gov.br