Você está aqui: Página Inicial / Notícias / Enfim, um dos mais aguardados ouros veio esculpido na química entre torcida e seleção

Futebol

20/08/2016 22h16

Futebol

Enfim, um dos mais aguardados ouros veio esculpido na química entre torcida e seleção

No penúltimo dia dos Jogos Rio 2016, Brasil vence a Alemanha nos pênaltis, após 1 x 1 no tempo normal e na prorrogação e conquista o título que faltava ao país do futebol

Demorou mais de seis décadas, cinco jogos, o desenrolar de 120 minutos e dez cobranças de pênaltis, mas enfim o Brasil encontrou os 18 ourives capazes de esculpir a medalha de ouro no futebol masculino. Vários chegaram perto de acertar a medida precisa. Erraram a mão em algum momento e a química não funcionou. Em Los Angeles 1984, Seul 1988 e Londres 2012, a cor saiu no tom prata. Em Atlanta 1996 e Sydney 2000, com a coloração bronze. Desta vez, a bancada era o Maracanã, o amarelo das arquibancadas indicava como a joia deveria ser feita e o placar de 1 x 1 no tempo normal, 0 x 0 na prorrogação e 5 x 4 nas penalidades contra a Alemanha deram o resultado perfeito.   

O Brasil se torna o terceiro país a conquistar o ouro jogando em casa. Antes, a Grã-Bretanha em Londres (1908) e a Espanha em Barcelona (1992) alcançaram o feito

A medalha vale mais que o peso. A espera, entrega e sofrimento até o grito de “é campeão” neste sábado (20.08), no penúltimo dia dos Jogos Rio 2016, tem gostinho ainda mais especial. O alívio após a cobrança de Neymar, a última da série de cinco para cada time, após o alemão Nils Petersen desperdiçar a penalidade anterior, foi como uma catarse coletiva no Maracanã e pelo país.

"Essa é a conquista que almejávamos há muito tempo, um anseio grande, uma responsabilidade que todo time olímpico carrega por ser o desporto número um do pais. Acredito que essa fase passou e no futuro teremos tranquilidade maior para lidar com essa situação. Nosso futebol não está morto, acredito no potencial dos nossos jogadores e que podemos oferecer muito ao futebol mundial", afirmou o técnico da seleção olímpica, Rogério Micale.

futebol_neymar1_danilo.jpg
Neymar corre para comemorar com os jogadores do banco o gol que definiu o título olímpico. Foto: Danilo Borges/Brasil2016.gov.br

Antes da disputa de pênaltis, o camisa 10 abrira o placar, em cobrança de falta perfeita, aos 26 minutos do primeiro tempo. O empate da Alemanha veio em tabela pela lateral que achou o camisa 7, Meyer, livre na área para completar para o fundo das redes, aos 13 minutos da segunda etapa. Uma jogada que silenciou o estádio e lembrou o recente pesadelo dos 7 x 1 na Copa de 2014.

» Leia também: Boulevard Olímpico ficou lotado para a comemoração histórica

"Foi uma marca muito difícil para o nosso futebol. Uma situação que gerou ampla discussão no nosso meio futebolístico. Mas, encaramos o jogo como uma partida de Olimpíadas, para enfrentar um time alemão que hoje tem excelência em fazer futebol. Mas tínhamos o sentimento de ter que dar uma resposta para o nosso povo e para o meio do futebol", afirmou Micale. 

Junto a técnico e time, o público se reergueu, voltou a incentivar, mas o gol não saía. As enfiadas de bola eram feitas, mas os atacantes Gabriel, Gabriel Jesus e Luan não concluíam bem.  Veio a prorrogação, o Brasil se mostrou melhor fisicamente, a Alemanha trocava passes na defesa sob vaias, mas diante da ansiedade da seleção, levou a partida para os pênaltis. 

O Brasil se isola como o maior medalhista da modalidade entre os homens, com seis pódios, deixando a Hungria para trás

Nas duas primeiras batidas dos alemães, Weverton foi na bola e por pouco não defendeu. Um a um os atletas foram convertendo as cobranças, até que Petersen parou no goleiro do Brasil. Estava nos pés do nosso atleta mais talentoso inscrever o nome do país na medalha. Neymar deslocou o goleiro e bateu no alto. Agora, as peças estão no peito de todos os brasileiros.

"A gente tinha muita confiança de que dependia somente de nós. O jogo foi extremamente difícil, mas em nenhum momento a gente perdeu a concentração. Confiamos no propósito que a gente tinha e no trabalho que foi feito. Passamos uma dificuldade muito grande no começo, superamos, chegamos à final e conseguimos fazer um belíssimo jogo, com várias oportunidades, e coroamos com o título nos pênaltis, com uma emoção muito grande", comentou o zagueiro Rodrigo Caio.

Além disso, o título acaba com o tabu de a seleção nunca ter subido ao lugar mais alto do pódio, mesmo tendo tido grandes craques e equipes olímpicas. "Esse sonho não era só nosso, era de todo brasileiro e vai muito além de ganhar uma medalha", analisou o atacante Luan.

A pressão pela conquista inédita voltava à tona de quatro em quatro anos. A seleção mais vitoriosa em Mundiais, era também a única a vencer a Copa sem ter o ouro – considerando a Inglaterra como integrante da Grã-Bretanha. O meio-campista Renato Augusto deu a dimensão pessoal do feito alcançado nesta noite. "Nem no meu melhor sonho, teria sonhado com um momento tão especial".   

Campanha

A seleção brasileira chegou para a disputa da final sem ter levado gol. Após dois empates em 0 x 0, contra África do Sul e Iraque, ambos no Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília, a equipe goleou a Dinamarca por 4 x 0 na Fonte Nova, em Salvador, pela terceira rodada do Grupo A. O resultado garantiu a classificação na liderança da chave.

Nas quartas de final, um duelo contra a Colômbia, que trouxe à tona os recentes embates entre as duas seleções principais na Copa de 2014, com vitória brasileira por 2 x 1, e na Copa América 2015, quando os colombianos venceram por 1 x 0. Nas Olimpíadas, a rivalidade, principalmente com Neymar, ficou clara e a partida teve vários momentos tensos. No fim, melhor para o Brasil, que venceu por 2 x 0.

Na semifinal, a seleção teve um reencontro especial com o Maracanã e com grande atuação ofensiva não deu chances à Honduras, goleando por 6 x 0 e garantindo a volta ao estádio três dias depois.  

futebol_podio_danilo.jpg
Pódio com os jogadores brasileiros perfilados para o Hino Nacional. Foto: Roberto Castro/Brasil2016.gov.br

Rivalidade

A rivalidade entre Brasil e Alemanha, ampliada pela goleada na Copa do Mundo de 2014, é tema recorrente nas conversas entres os torcedores. Para uns, o jogo de hoje era uma oportunidade de vingança. Para outros, apenas a conquista do ouro interessava.

A armação gigante de seus óculos e a roupa confeccionada com bandeiras do Brasil destacavam da multidão o artista de rua Fábio Costa, o "Fabinho Caxotada". Ele compôs uma música para homenagear a seleção e pensa que a final olímpica foi o cenário perfeito para o Brasil apagar a história recente com os alemães. “Depois dos 7 x 1, o Brasil tem que ganhar hoje e mostrar seu valor. Não esquecemos aquela derrota. Ela mexeu muito com o brasileiro”, declarou, antes da partida.  

08202016_persaongem.jpg
Caxotada era uma das figuras que apostavam na vitória do Brasil antes do jogo. Foto: Rafael Brais/Brasil2016.gov.br

O alagoano, que mora no Rio de Janeiro há nove anos, ganha a vida com “serviços artísticos” em eventos, o que inclui, como traz seu cartão de visitas, atuações como sanfoneiro, músico de qualquer estilo, DJ, animador e até palhaço. Após executar sua composição e atrair olhares dos torcedores que chegavam ao estádio, Caxotada previu, com precisão: “É a hora da revanche”.

Grande fã de esporte, o analista de sistemas João Gilberto Teixeira trouxe o filho João Pedro, de 10 anos, para ver a tão aguardada disputa da medalha de ouro. Eles viajaram de São José dos Campos-SP especialmente para o Brasil x Alemanha e contavam os minutos para a abertura dos portões do Maracanã. “Final olímpica é uma experiência única, muito emocionante para nós”, analisou.

O alemão Rùdi Schuch veio de Frankfurt para os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro. Ele andava pelos arredores do Maracanã chamando a atenção. Com balões presos a um chapéu nas cores da Alemanha, Rùdi a todo instante parava para tirar fotos. A viagem ao Brasil, segundo ele, está sendo maravilhosa. “Falaram de problemas da cidade, mas para mim está tudo ótimo. As pessoas são muito boas e cordiais”, elogiou. 

O alemão acredita que a rivalidade entre os países só existe no esporte e brinca com a goleada na Copa. “Primeiramente, desculpe pelos 7 x 1”, provocou. “Na verdade, essa rivalidade existe só dentro de campo e estou sendo muito bem tratado aqui”, afirmou. 

Galeria de fotos (disponíveis gratuitamente para uso editorial, desde que creditadas para Danilo Borges ou Roberto Castro/brasil2016.gov.br, conforme o caso)

Rio 2016 - Futebol - Final - 20/08/2016

 

Gabriel Fialho e Rafael Brais. Colaborou Ana Cláudia Felizola - brasil2016.gov.br