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Geral

11/06/2018 15h51

Cochabamba 2018

Delegação feminina puxa para cima o desempenho do Brasil nos Jogos Sul-Americanos

As 156 mulheres da equipe nacional ganharam mais medalhas e mais ouros que os homens do Brasil e superaram, no recorte por gênero, inclusive a Colômbia, campeã do megaevento

Jogos Sul-Americanos Cochabamba 2018

 

Gabrielle Roncato, de 19 anos, pulou na piscina cinco vezes no Centro Aquático de Cochabamba. Ouviu o Hino Nacional em quatro ocasiões e carregou uma prata na bagagem. Bruna Takahashi, de 17 anos, viveu uma "overdose" de 32 sets disputados em um só dia no Coliseu Evo Morales, palco do tênis de mesa. Mesmo fisicamente abalada ao fim da maratona, acumulou quatro ouros em quatro possíveis. Ana Carolina Vieira foi outra a pulverizar a relevância do fator idade. Aos 16 anos, conquistou quatro ouros nas provas da natação que disputou: uma individual, nos 100m peito, e três em revezamentos. A experiente Natália Gáudio, por sua vez, reforçou a hegemonia da ginástica rítmica brasileira no continente, com quatro ouros em cinco disputas de que participou.

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Bruna Takahashi: campanha 100% no tênis de mesa, com quatro ouros em quatro possíveis. Foto: Abelardo Mendes Jr./rededoesporte.gov.br

As quatro integram o quadro dos cinco principais multimedalhistas dos Jogos Sul-Americanos de Cochabamba, na Bolívia, encerrados na última sexta-feira (08.06). Entre elas, apenas uma chilena, Antonia Francisca Abraham Schussler, que também reúne quatro ouros em quatro provas disputadas no remo. Mais do que uma coincidência, as quatro indicam uma tendência expressa no quadro final de medalhas do megaevento que reuniu 4.030 atletas, de 14 países, na Bolívia: o peso das performances femininas no resultado final do Brasil.

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"A gente entende que há um campo fértil para investimentos na participação das mulheres, porque há potencialmente maior chance de elas obterem resultados expressivos em curto prazo do que no masculino em muitas modalidades"
Marco La Porta, chefe de delegação do Brasil

A delegação nacional viajou com uma jovem e enxuta equipe de 316 atletas. Eram 160 homens e 156 mulheres, um quase equilíbrio quantitativo. No quadro final, contudo, a balança pende para o lado feminino. Das 204 medalhas conquistadas, 106 (52%) ficaram com as mulheres e 88 com os homens (43%), fora as 10 (5%) que vieram de modalidades mistas. Foram 48 ouros femininos contra 36 masculinos.

O Brasil terminou em segundo no quadro geral da competição, atrás apenas da Colômbia, que somou 239 pódios e 94 ouros com uma delegação bem mais experiente e numerosa, de 462 integrantes. Ainda assim, os 48 ouros das meninas do Brasil, vistos de forma separada, são superiores aos 45 obtidos pelos homens da delegação colombiana e aos 46 das colombianas.

"Esse avanço feminino reflete uma maior participação das mulheres na prática esportiva e a força que elas têm. O ciclo que o Brasil teve de maior investimento permitiu uma maior entrada de mulheres em todos os esportes, ampliou o nosso leque. No COB, a gente entende que há um campo fértil para investimentos na participação das mulheres, porque há potencialmente maior chance de elas obterem resultados expressivos em curto prazo em muitas modalidades. Há um campo a ser explorado", disse o chefe de delegação do Brasil em Cochabamba, Marco La Porta, que também é vice-presidente do Comitê Olímpico do Brasil.

Gabrielle Roncatto e Natália Gaudio: multimedalhistas brasileiras na natação e na ginástica rítmica. Juntas, só elas somam oito ouros. Fotos: Abelardo Mendes Jr. e Rodolfo Vilela/rededoesporte.gov.br

Dona da melhor colocação já alcançada por uma mulher brasileira no ranking mundial do tênis de mesa (65º), Bruna Takahashi avalia que os resultados apontam para o reconhecimento do esforço do esporte feminino nacional. "Acho que a gente tem força. A gente dá a garra. E com esses resultados as pessoas podem ver com mais nitidez que a gente tem essa capacidade. Eu me sinto muito bem de ser mulher e representar o Brasil", afirmou Bruna, logo após conquistar o quarto ouro nas quatro disputas de que participou. Foi campeã individual, por equipe, na dupla mista (ao lado de Vitor Ishiy) e na dupla feminina (ao lado de Jéssica Yamada).

"Acho que a gente tem força. A gente dá a garra. E com esses resultados podem ver com mais nitidez que a gente tem essa capacidade"
Bruna Takahashi

Técnico da seleção feminina de tênis de mesa desde 2013, Hugo Hoyama saiu satisfeito, principalmente porque no feminino a modalidade conquistou todos os ouros possíveis. "Com certeza é um momento importante. As mulheres vem batalhando para brigar por seu espaço. Fico muito feliz com isso. Isso dá muita motivação para os passos seguintes, no Pan de Lima, em 2019, e nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020", afirmou.

Outros destaques individuais femininos nos Jogos Sul-Americanos vieram do tiro com arco, com a dobradinha brasileira entre Graziela Paulino (22 anos) e Ana Clara Dias (18 anos) no pódio do arco recurvo. No karatê, modalidade que garantiu sete vagas no Pan de Lima, o único ouro veio com Valéria Kumizaki, na categoria até 55kg. Valéria foi a porta-bandeira do país na Cerimônia de Abertura da competição.

Porta-bandeira do Brasil em Cochabamba, Valéria Kumizaki conquistou o ouro e a vaga de sua categoria para o Pan de Lima. Foto: Abelardo Mendes Jr./rededoesporte.gov.br
"Sabíamos do nosso potencial e treinamos duro. Sofremos mais na preparação do que em campo. E aqui mostramos o resultado"
Raquel Kochhann, rúgbi

O ciclismo de pista foi outro bom exemplo. Os atletas da seleção passaram a treinar recentemente no velódromo do Parque Olímpico da Barra, legado dos Jogos Rio 2016. Mesmo com pouco tempo de experiência, Gabriela Yumi obteve o primeiro pódio da história do keirin feminino na competição e Wellyda Rodrigues alcançou outro bronze da omnium. "Moramos em frente ao Velódromo, vamos andando para a academia. Não tenho dúvida de que o ciclismo brasileiro vai crescer. Os resultados já comprovam isso", disse Wellyda.

Além das modalidades individuais, o país também foi hegemônico no feminino em esportes coletivos que garantiam vagas no Pan de 2019, casos do handebol e do rúgbi. "Sabíamos do nosso potencial e treinamos duro até chegar a Cochabamba. Sofremos mais na preparação do que em campo. E aqui mostramos o resultado do que estamos fazendo. Todo mundo se empenhou, não só as 12 que vieram, mas toda a equipe que não foi convocada para estar aqui", disse a capitã do time de rúgbi, Raquel Kochhann.

Rúgbi feminino manteve a hegemonia no continente e conquistou a vaga no Pan de Lima. Foto: Abelardo Mendes Jr./rededoesporte.gov.br

Bolsistas

Um outro dado expressivo sobre o quadro de medalhas do Brasil diz respeito ao número de bolsistas entre os esportistas que subiram o pódio. Ao todo, 235 dos 316 atletas da delegação nacional obtiveram alguma medalha, entre provas individuais, mistas e de revezamentos. Desse total, 179 (76%) recebem alguma categoria da Bolsa Atleta, do Ministério do Esporte. O percentual casa com o número total de bolsistas na delegação. Dos 316 que viajaram a Cochabamba, 234 (74%) eram bolsistas. 

 

Galeria de fotos da participação brasileira nos Jogos Sul-Americanos Cochabamba 2018

Jogos Sul-Americanos Cochabamba 2018

 

Gustavo Cunha, de Cochabamba, na Bolívia - rededoesporte.gov.br