Judô
Mundial de Judô 2019
Categoria de maior concorrência interna, pesados fecham o Mundial com boas perspectivas
Em nenhuma categoria do judô brasileiro há uma disputa tão aberta e de qualidade pela vaga olímpica quanto entre os pesados. No masculino e no feminino, os atletas nacionais ocupam postos de destaque no ranking, têm resultados expressivos e chegam ao Mundial de Tóquio com boas perspectivas de pódio.
Como os Jogos Olímpicos só permitem a cada nação a inscrição de um atleta por categoria, o Mundial também simboliza uma janela de oportunidade para que os judocas conquistem pontos preciosos no ranking mundial, um dos critérios principais para a Confederação Brasileira de Judô definir até maio de 2020 quem estará novamente no Japão no ano que vem.
"Pessoalmente não é confortável. São dois atletas sonhando a mesma coisa e só uma vaga, mas para o judô brasileiro é importante ter essa disputa acirrada, essa rivalidade"
Rafael Silva, Baby
No masculino, David Moura e Rafael Silva (Baby) são veteranos na seleção que reeditam uma seletiva que pendeu para o lado de Baby nos últimos ciclos, e sempre com resultados. Rafael Silva conquistou os bronzes nos Jogos Olímpicos de Londres (2012) e do Rio de Janeiro (2016). Além disso, tem três pódios em mundiais no currículo. Foi prata no Rio de Janeiro, em 2013, e bronze em 2014 (Cheliabinsk, na Rússia) e 2017 (Budapeste, na Hungria).
"Pessoalmente não é confortável. São dois atletas sonhando a mesma coisa e só uma vaga, mas para o judô brasileiro é importante ter essa disputa acirrada, essa rivalidade. Acaba que os dois precisam crescer para se superar. O atleta que passa pelo processo da vaga com certeza tem grandes chances de ir bem nos Jogos Olímpicos", afirmou Baby, 32 anos, que chega a Tóquio na fase final de recuperação de uma lesão.
"Tive uma lesão na mão esquerda num treino aqui mesmo, no Japão, dois meses e meio atrás. Estou em recuperação, treinando forte, mas é um Mundial atípico. Preciso pensar na recuperação junto com a preparação. Tenho de conciliar isso e ao mesmo tempo não posso ser afoito, afobado, e jogar tudo fora de uma vez. Tenho de pensar dia a dia", comentou o atleta, quinto colocado no ranking mundial. Em 2019, foi campeão do Campeonato Pan-Americano e terceiro no Grand Slam de Ecaterimburgo, na Rússia.
"Com certeza ter um adversário como o Baby não só me dá motivação todo dia, por saber que tenho uma grande disputa dentro do Brasil, mas como também sou grato porque sei que, por causa dessa disputa de anos e anos, me tornei um atleta melhor", ponderou David Moura, de 32 anos. O número três do mundo foi vice-campeão no Campeonato Pan-Americano e terceiro no Grand Prix de Montreal (Canadá) e de Ecaterimburgo (Rússia) em 2019. David ainda conquistou a medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos de Lima antes de embarcar para o Japão.
"Ter um adversário como o Baby não só me dá motivação todo dia, por saber que tenho uma grande disputa dentro do Brasil, mas como sou grato porque sei que, por causa dessa disputa, me tornei melhor"
David Moura
Sem a presença do imbatível francês Teddy Rinner, dono de dez títulos mundiais e de um bicampeonato olímpico, a disputa pelo título entre os pesados fica mais aberta. Quem tem aproveitado esse vácuo é o georgiano Guram Tushivili, líder do ranking e vencedor de quatro títulos no circuito internacional em sequência, incluindo o último Mundial, disputado em Baku, no Azerbaijão, em 2018.
Para David Moura, a receita para tentar surpreender os adversários do topo do ranking pode estar em retomar um estilo que marcou o início de sua carreira. "Para ser campeão preciso voltar um pouco a ser o David do início, mais ousado, mais disposto a arriscar. O campeão tem de estar disposto a isso. Claro, sem deixar a tática de lado, a segurança e toda a maturidade que conquistei, mas buscar uma ousadia do David lá de 2011, 2012", afirmou. "O importante é resolver no início. Tenho uma característica de ser um atleta versátil. De tirar proveito do início da luta. Quero surpreender e pontuar no início, para ou ganhar lutas rápido ou pontuar e segurar até o fim", comentou.
David estreia na segunda rodada. Ele espera o vencedor do confronto entre Myo Zaw, de Mianmar, e Rakan Zaidan, da Arábia Saudita, dois atletas listados abaixo do número 150 no ranking mundial. Rafael Silva também estreia na segunda rodada, mas já tem adversário definido. Será Harun Sadikovic, jovem de 23 anos da Bosnia e Herzegovina. É o atual número 79 do ranking mundial e teve como resultado de destaque no ano o bronze no Aberto da Europa, disputado em Roma, em fevereiro.
Suelen e Bia
Uma reprodução da disputa entre David e Rafael ocorre entre as atletas da categoria pesado (+78kg) no feminino. Maria Suelen Altheman, de 31 anos, é a número quatro do mundo. A jovem Beatriz Souza, de 21, aparece como a número nove. Duas gerações distintas e uma busca por resultados no circuito e pelo sonho de representar o Brasil nos Jogos Olímpicos. Sonho que Suelen já realizou duas vezes, e bateu na trave do pódio com um quinto lugar nos Jogos de Londres, em 2012. Suelen também tem no currículo duas pratas no Mundial adulto, em 2012 e 2013.
"Eu já tenho duas medalhas em mundiais. Ano passado perdi a luta do bronze. Ficou o gostinho de quero mais. O objetivo é sair daqui com medalha e lutar onde vai ser a Olimpíada, viver esse teste"
Maria Suelen
Em 2019, a veterana da categoria conquistou o título do Grand Slam de Ecaterimburgo, na Rússia, foi vice-campeã do Campeonato Pan-Americano e ficou com o bronze no Grand Slam de Dusseldorf, na Alemanha. "Eu já tenho duas medalhas em mundiais. Ano passado fiquei em quinto. Perdi a luta do bronze. Ficou o gostinho de quero mais. Por isso venho focada. O objetivo é sair daqui com medalha e lutar onde vai ser a Olimpíada, viver esse teste. Conhecer o terreno", disse Suelen.
Bia também teve resultados de destaque. Foi prata nas etapas do Grand Prix de Antalya, na Turquia, e de Tbilisi, na Georgia, além de ficar com o bronze no Campeonato Pan-Americano e nos Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru. "Foi um ano intenso, de muitas competições internacionais e de treinamentos fora do país. Chego querendo muito, com a perspectiva de fazer excelentes lutas e conquistar um excelente resultado", afirmou.
"É mais do que maravilhoso estar aqui no berço do judô, onde tudo começou, e vir lutar esse campeonato que vai estar megaforte, um ano antes da Olimpíada. Só traz motivos para termos vontade de entrar no tatame e dar o melhor", completou Bia. Ela começou no judô em Peruíbe, litoral sul de São Paulo, para canalizar um "excesso de energia". "Meu pai era atleta de judô e me colocou no esporte porque eu aprontava demais. Precisava dar uma sossegada na vida. Escolhi o judô porque adorei quando vi o pessoal lutando. Eu me apaixonei por aquilo. A virada de chave para o alto rendimento veio com uma proposta do Palmeiras, para morar em São Paulo. Hoje treino no Pinheiros".
Na categoria de Bia e Suelen, há uma atleta que, se não chega ao currículo de Teddy Riner, se mantém de forma consistente no pódio. A cubana Idalys Ortiz tem cinco medalhas em mundiais (dois ouros, uma prata e um bronze) e uma medalha de cada cor em Jogos Olímpicos. É a atual número um do ranking. Outra força da categoria é a jovem japonesa Sarah Asahina. Aos 22 anos, é a número dois do mundo, atual campeã mundial e vice-campeã do mundo em 2017.
"A Bolsa Atleta é um salva-vidas, me ajuda demais. Quimono, roupa de treino e suplementação eu compro com esse dinheiro"
Beatriz Souza
"A cubana é a primeira do ranking e tem três medalhas olímpicas. A japonesa vem num ciclo ótimo. A China sempre tem atletas fortes, mas tem rodado mais com atletas no circuito. De qualquer forma, temos de estar atentas. São os países mais fortes. China e Japão são fábricas de pesos pesados", disse Suelen.
Bia estreia na segunda rodada, contra a norte-americana Nina Cutro-Kelly, de 34 anos. A adversária ocupa a 28ª posição do ranking e tem dois quintos lugares na temporada, no Campeonato Pan-Americano de Lima, no Peru, e na etapa de Montreal do Grand Prix. Maria Suelen também estreia na segunda rodada, diante da vencedora do duelo entre Wen Tsai, de China Taipei, e da chinesa Yan Wang.
100% Bolsa Pódio
Os quatro pesos pesados do judô brasileiro são integrantes da categoria Pódio, a mais alta do Bolsa Atleta, programa da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania. A Bolsa Pódio é voltada para quem se consolida entre os 20 melhores do mundo, e prevê repasses mensais de R$ 5 mil a R$ 15 mil, de acordo com o currículo esportivo dos contemplados.
"A Bolsa Atleta é um salva-vidas, me ajuda demais. Quimono, roupa de treino e suplementação eu compro com esse dinheiro", comentou Bia, que também integra o Programa de Alto Rendimento das Forças Armadas e vai disputar em outubro os Jogos Mundiais Militares, na China.
"Acho que a Bolsa só vem a acrescentar, a somar. Ser atleta é caro. Você conhece vários lugares, mas se manter é difícil. Precisamos desse suporte, de fisioterapia, de suplemento. São coisas que exigem gastos. Na minha opinião é exatamente por esses apoios que os resultados vêm aumentando. O atleta investe mais nele mesmo e tem mais resultados", completou Maria Suelen.
Investimentos federais
Evento-teste para os Jogos Olímpicos, o Mundial de Judô reúne 839 atletas, de 148 países, em sete categorias de peso no masculino e sete no feminino. Até este sábado (31.08), a disputa é nas categorias individuais. No dia 1 de setembro, será a vez das equipes mistas, formato que será adotado pela primeira vez no programa olímpico nos Jogos de 2020. Pelo sorteio da chave, o time brasileiro vai estrear contra a seleção alemã. Se vencer, terá pela frente o vencedor do confronto entre Portugal e Azerbaijão.
Na chave individual, o Brasil trouxe 18 atletas. Dezessete deles são integrantes do Bolsa Atleta. O investimento anual do governo federal no grupo é de R$ 1,67 milhão. Além disso, 12 dos 18 estão incluídos na Bolsa Pódio. Numa outra frente de investimentos federais, 11 dos 18 atletas integram o Programa de Alto Rendimento das Forças Armadas (PAAR).
Gustavo Cunha, de Tóquio, no Japão - rededoesporte.gov.br