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17/03/2018 06h57

Jogos Paralímpicos de Inverno

Aline guarda o melhor para o fim e Cristian repete o "top ten"

Na prova de média distância do esqui cross-country, paranaense termina em 12º. Agora, volta o foco para os Jogos de Verão. Ela pretende tentar medalhas em Tóquio nos 1.500m e na maratona

A postura aliviada ao fim da prova indicava uma face inédita de Aline Rocha em PyeongChang. A atleta paranaense conseguiu reunir pela primeira vez num mesmo dia uma boa performance na parte técnica, a escolha de equipamentos correta e um resultado condizente com sua posição no ranking internacional. Com a junção de fatores, fechou os 5km da prova de média distância do esqui cross-country sentado em 12º lugar entre as 22 atletas inscritas, representando outros 11 países, todos eles com neve "no quintal".

Aline na reta de chegada da prova do cross-country: agora a chave vira para os Jogos de Verão. Foto: Marcio Rodrigues/MPIX/CPB

"Ontem fizemos um treino e o circuito estava bem parecido com o que encontramos hoje. A gente sentiu que estava rápido, mas desde que a gente corresse fora do trilho principal. No trilho estava mais lento", explicou Aline. "Foi tudo muito bom. A escolha do equipamento foi incrível, consegui melhorar questões técnicas. Foi excelente", avaliou a atleta.

"A estratégia era ficar fora do trilho o maior tempo possível. A escolha do equipamento foi incrível e consegui melhorar questões técnicas"
Aline Rocha

A prova dos 5km foi vencida por uma das atletas mais consistentes dos Jogos Paralímpicos de PyeongChang. Oksana Masters, de 28 anos, disputou seis provas, entre o esqui cross-country e  o biatlo. Subiu ao pódio cinco vezes. Em duas, no ponto mais alto. Soma ainda duas pratas e um bronze.

"Claro que a gente sempre quer a perfeição, mas sem arrependimentos. Estou extremamente satisfeita com o nível que consegui apresentar", afirmou a atleta, que nasceu com hemimelia tibial, má formação que se complicou ao longo da infância e forçou a atleta a amputar as duas pernas numa região acima do joelho. A prata ficou com a alemã Andrea Eskau e o bronze, com a atleta paralímpica da Rússia Marta Zainullina.

>> Confira os resultados completos

No masculino, o brasileiro Cristian Ribera manteve sua constância de boas performances. O atleta de apenas 15 anos, o mais novo entre os quase 570 inscritos na competição na Coreia do Sul, terminou na nona posição entre os 34 atletas de 14 países que estavam na disputa. O adolescente adotou uma estratégia kamikaze. Forçou bastante na primeira das três voltas de 2,5km, tanto que chegou a ocupar a quarta posição, mas perdeu um pouco de fôlego e energia. Terminou com o tempo de 23s41s60. "Eu fiz uma estratégia de arriscar. De forçar mesmo. Aí acho que quebrei no meio da segunda volta, mas consegui segurar um pouco e terminei dentro da minha meta do top ten", afirmou.

Eui Hyun Sin conquista o primeiro ouro da Coreia do Sul em Jogos Paralímpicos

🙌 A historic moment 🙌#KOR have won their FIRST EVER #Gold thanks to Eui Hyun Sin in #Paracrosscountry#PyeongChang2018 #Paralympics pic.twitter.com/LP2dwvuO0t

— Paralympic Games (@Paralympics) March 17, 2018

Para delírio  da torcida no Centro Esportivo de Alpensia, a vitória foi do sul-coreano Eui Hyun Sin. O resultado representou a primeira medalha de ouro da história da Coreia do Sul em Jogos Paralímpicos de Inverno. Ele completou a prova em 22min28s40, seguido pelo norte-americano Daniel Cnossen (22min33s70) e pelo ucraniano Maksym Yarovyi (22min39s90). 

"Era meu sonho um dia conquistar uma medalha de ouro paralímpica e não tenho palavras para descrever o que estou sentindo agora. Estou feliz demais de ter uma performance assim em casa. No biatlo eu fiquei um pouco nervoso, mas prometi aos jornalistas que ainda cantaria o hino da Coreia. Hoje isso vai acontecer", afirmou Sin, de 39 anos. Ele perdeu as duas pernas num acidente de carro em 2006. O sul-coreano já havia conquistado o bronze na prova de 15km. 

Cristian terminou com a nona colocação, outro ótimo resultado para o adolescente de 15 anos. Foto: Marcio Rodrigues/MPIX/CPB

Treinador aliviado

Para o exigente treinador da dupla nacional, Fernando Orso, a prova representou com precisão o nível técnico dos atletas. "Finalmente conseguimos ter um dia em que eu, como treinador, fiquei de fato realizado pelo trabalho que foi feito. O Cristian já vinha com atuações expressivas, mas a Aline tinha a responsabilidade de mostrar um bom resultado, condizente com a posição dela no ranking mundial. Hoje ela fez uma prova muito boa, usou bem a técnica, aplicou bastante a força nas subidas, teve confiança na neve, escolhemos o equipamento correto e o melhor dela na pista rendeu o resultado que estávamos esperando".

"Se a gente levar em consideração também o snowboard, tivemos quatro resultados no top ten. Isso é muito expressivo"
Stefano Arnhold, presidente da CBDN

Nas duas provas anteriores, Aline não havia se saído muito bem. Na de longa distância, sua especialidade, terminou em 15º entre 19 atletas. No sprint, de 1,5km, ficou em 22º entre 25 competidores. "Hoje a Aline mostrou a que veio. Na estreia ela sentiu um pouco. Hoje a gente teve a Aline de volta. Nossa participação não poderia ter sido melhor. Se alguém me perguntasse antes de sair do Brasil se esses resultados seriam possíveis, a gente provavelmente diria que não", afirmou Stefano Arnhold, presidente da Confederação Brasileira de Desportos na Neve (CBDN). "Se a gente levar em consideração também o snowboard, tivemos quatro resultados no top ten", comentou o dirigente, em referência às atuações de André Cintra nas categorias cross e banked slalom do snowboard.

A americana Oksana Masters conquistou o segundo ouro em PyeongChang. Foto: Thomas Lovelock/OIS/IOC

Horizonte em 2026

Na verdade, a delegação nacional até queimou, em PyeongChang, algumas das etapas de longo prazo imaginadas pela CBDN. Na prova de 15km do esqui cross-country, Cristian Ribera terminou com a sexta posição, resultado que é o melhor de um atleta olímpico e paralímpico brasileiro em Jogos de Inverno. "No nosso plano, este resultado não estava no script, mas é óbvio que é muito bem vindo".

Segundo Stefano Arnhold, a entidade conduz um trabalho com metas e projeções para chegar a um patamar competitivo, com condições de pódio, nos Jogos de 2026. "Começamos o plano em Sochi, em 2014. É um plano de 12 anos. Estudamos os resultados de 90 mil atletas de várias categorias, entre olímpicos e paralímpicos. E ele vem de trás para frente. Mostra em 2020 e 2026, nas modalidades masculinas e femininas, o que seria necessário para estarmos numa final e possivelmente disputar uma medalha", explicou o dirigente.

"É um detalhamento de tudo o que precisa ser feito, entre detectar atletas, fazer o desenvolvimento físico, trabalhar a parte técnica, ter equipamentos necessários, conduzir a avaliação psicológica, estabelecer o número de dias de treino com roller-esqui, o número de dias na neve. É tudo minucioso", pontuou.

No ciclo entre Sochi (2014) e PyeongChang (2018), a CBDN recebeu, em recursos federais via Lei Agnelo/Piva, um total de R$ 8,8 milhões para investimentos nas modalidades realizadas na neve. Para 2018, a previsão é de R$ 2,3 milhões.

"Na volta, vou trabalhar também em provas de verão, mas sem abrir mão do cross-country. É onde tenho mais oportunidades. Quero estar bem focado"
Cristian Ribera

Virando a chave

Com o fim dos Jogos Paralímpicos da Coreia do Sul no horizonte, Aline Rocha já se prepara para "virar a chave" para o modo Verão. A prioridade da atleta volta a ser as provas de atletismo em cadeira de rodas, em especial os 1.500m e a maratona. Foi nelas que a paranaense representou o Brasil nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro, em 2016.

"Claro que vou continuar treinando uma vez ou outra na neve, para me manter no ranking e participar de competições umas duas vezes por ano, mas o foco é Tóquio e, quem sabe, uma medalha. Essa é a meta. As minhas fichas estão nos 1.500m e na maratona, mas vou tentar também participar do revezamento misto 4 x 100m, que vai estrear em Tóquio. São diversas classes juntas, com deficientes visuais, amputados, atletas com paralisia cerebral e cadeirantes". No horizonte próximo da atleta brasileira, estão as maratonas de São Paulo e de Boston, em abril, além do Open de atletismo, no CT Paralímpico. Em maio haverá GP de atletismo da Suíça.

Cristian, por sua vez, vai manter o foco mais voltado para o cross-country. "Na volta ao Brasil, vou trabalhar também para provas de verão, mas sem abrir mão do cross-country. É o que ocupa mais minha vida, é onde tenho mais oportunidades. Quero estar bem focado", afirmou o atleta, que costuma fazer, no programa de verão as provas de 100m, 400m e 1.500m em cadeira de rodas. "Já alcancei o objetivo de estar numa Paralimpíada de Inverno. Agora, quero uma medalha", disse.

Gustavo Cunha, de PyeongChang, na Coreia do Sul - rededoesporte.gov.br