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Judô

12/02/2020 09h04

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“Estamos na fase de ganhar confiança”, aposta a técnica Yuko Fujii, na reta final da classificação olímpica do judô

Treinadora da seleção masculina acredita na conquista de vagas em todas as categorias e investe na lapidação mental dos atletas

País-sede dos Jogos Olímpicos Rio 2016, o Brasil teve, há quatro anos, o benefício de contar com um representante garantido em cada uma das 14 categorias do judô. Desta vez, os atletas dependem dos pontos que, ao longo de quatro anos, os situem na almejada zona de classificação, restrita aos 18 melhores de cada peso, até a realização do Masters, em Doha, entre 28 e 30 de maio. Depois desse evento, a Federação Internacional de Judô (IJF, na sigla em inglês) divulgará a listagem que definirá os nomes presentes em Tóquio. Para a técnica da seleção masculina, Yuko Fujii, o Brasil tem condições de marcar presença em todas as categorias.

“A gente acredita que vai classificar todas as categorias. Dependendo da categoria, temos que trabalhar bastante, enquanto outras estão mais seguras, mas não dá para dizer que podemos deixar de trabalhar”, comenta a japonesa, que atua junto ao judô brasileiro desde 2013, e está à frente da equipe masculina desde 2018.

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Yuko Fujii, a japonesa que comanda a seleção brasileira masculina. Foto: Roberto Castro/ rededoesporte.gov.br

De fato, em alguns pesos o Brasil já está praticamente com os pés no Japão. É o caso, por exemplo, do meio-leve (66kg), em que Daniel Cargnin ocupa o quinto lugar do ranking, e dos médios (90kg), em que Rafael Macedo é o 12º, de acordo com a última atualização da IJF, na segunda-feira (10), após a realização do Grand Slam de Paris. No ligeiro (60kg), Eric Takabatake lidera a disputa nacional, em nono, enquanto Felipe Kitadai, bronze em Londres 2012, aparece em 27º.

“Meu foco é melhorar a performance dos atletas e prepará-los espiritualmente para o dia da competição mesmo. Estou tentando fazer um trabalho para que eles acreditem neles mesmos"
Yuko Fujii

Nas categorias mais pesadas, o país também dispõe de mais de um forte candidato. A rivalidade é acirrada entre Rafael Buzacarini (17º) e Leonardo Gonçalves (19º), no peso -100kg, e também entre Rafael Silva (7º), dono de dois bronzes olímpicos, e David Moura (8º), no +100kg. Em situação um pouco mais complicada estão as categorias leve (73kg) e meio-médio (81kg), em que Eduardo Barbosa (38º) e Eduardo Yudy (26º) são os brasileiros mais bem colocados, respectivamente.

Se o ranking indica os resultados colhidos pelos atletas ao longo das últimas competições, Yuko Fujii aponta que a performance no tatame olímpico pode ser outra. “Olimpíada é diferente. Claro que todo o desempenho do ciclo olímpico, nos quatro anos, é importante, mas sei que os atletas crescem bem no finalzinho, na reta final, então estou acreditando que, dependendo do nosso trabalho, todos os atletas têm potencial de surpreender no dia da Olimpíada”, aposta.

Para isso, a treinadora acredita na força do trabalho mental com a seleção. “Meu foco é melhorar a performance dos atletas e prepará-los espiritualmente, mentalmente para o dia da competição mesmo. Estou tentando fazer um trabalho para que eles acreditem neles mesmos. Acho isso importante”, ressalta. “A gente já fez um trabalho duro e hoje eles estão numa fase de ganhar confiança”, completa.

Renovação

A busca pela confiança dentro do tatame é ainda mais intensa considerando-se a taxa de renovação da equipe masculina. Nos Jogos Rio 2016, os representantes do país foram Felipe Kitadai (60kg), Charles Chibana (66kg), Alex Pombo (73kg), Victor Penalber (81kg), Tiago Camilo (90kg), Rafael Buzacarini (100kg) e Rafael Silva (+100kg). Deles, apenas Buzacarini e Baby lideram em suas categorias, no momento, para se garantirem em mais uma edição, caso superem a rivalidade com os postulantes a estreantes Léo Gonçalves e David Moura.

"Claro que todo o desempenho do ciclo olímpico é importante, mas eu sei que os atletas crescem bem na reta final, então estou acreditando que, dependendo do nosso trabalho, todos têm potencial de surpreender no dia da Olimpíada”
Yuko Fujii

Mesmo diante da possibilidade de uma equipe totalmente renovada, Yuko Fujii mira no potencial do elenco. “Estou vendo que os atletas que estão nessa fase de renovação também estão bem espertos, não são novos mais. Já são veteranos, no sentido bom. O resultado está começando a sair. No Grand Prix de Tel Aviv, nossa primeira competição do ano, eles sofreram, mas medalharam. Esse é um parâmetro bom para a gente, e acredito que eles vão crescer ainda mais”, avalia. Na ocasião, Léo Gonçalves conquistou a prata, enquanto Cargnin, Yudy, Macedo e Buzacarini levaram medalhas de bronze.

Já no tradicional Grand Slam de Paris, no último fim de semana, o Brasil subiu ao pódio apenas no feminino, com os bronzes de Larissa Pimenta e Beatriz Souza. “Foi o primeiro Grand Slam da Europa neste ano, e geralmente são três nessa época, que a gente chama de Circuito Europeu. Vamos para Dusseldorf e depois Ecaterimburgo, na Rússia. Esses três são um parâmetro para a gente”, enumera a treinadora. “Por enquanto, mesmo não medalhando, os atletas estão lutando bem, demonstrando  vontade. Acho que ainda temos que trabalhar, mas estão começando a mostrar o potencial deles”.

Foi também em Paris que o mundo viu a primeira derrota do francês Teddy Riner após 154 lutas de invencibilidade. “Ninguém consegue ganhar a vida toda. A derrota faz parte. Para o Teddy Riner, acho que essa derrota vai fazer ele crescer mais ainda. A gente não pode ficar achando que ele perdeu e acabou. Vamos continuar trabalhando, independentemente de ele perder ou não. O nosso trabalho segue em frente, e acredito que os atletas estão pensando assim também”, afirma.

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Foto: Rodolfo Vilela/ rededoesporte.gov.br

Classificação

O calendário da IJF ainda prevê a realização de três etapas do Grand Slam (Dusseldorf, Ecaterimburgo e Baku) e de três do Grand Prix (Rabat, Tbilisi, Antalya) antes do Masters de Doha, data final da contagem de pontos para o ranking. Além das 18 vagas reservadas aos melhores de cada categoria, e das 14 do Japão como país-sede, há as cotas continentais. No caso da Pan-América, são 10 cotas para homens e 11 para mulheres, em uma lista que reúne todos os pesos. Cada país só pode ter um atleta classificado por esse caminho, independentemente do gênero. Hoje, Eduardo Barbosa herdaria a vaga continental pelo Brasil.

“Todos os atletas ainda estão brigando pela vaga olímpica. Ainda temos muitas competições para eles pontuarem. Por enquanto, o nosso foco é melhorar a performance e a cabeça de cada um para brigarmos pela vaga”, reforça Yuko. “Acredito que os atletas estão fortes, cresceram bem, melhoraram o seu judô. Daqui para frente, a gente vai tampando os pontos fracos para conseguir ir bem na Olimpíada. É uma hora de paciência, mas de se motivar mais ainda para ficar pronto”, define.

Histórico de pódios

O judô é a modalidade individual que mais rendeu pódios ao Brasil na história dos Jogos Olímpicos. Ao todo, são 22 medalhas, sendo quatro de ouro, três de prata e 15 de bronze. A trajetória foi inaugurada em Munique (1972), com o bronze de Chiaki Ishii, japonês naturalizado brasileiro. Na última edição, no Rio de Janeiro, o país conquistou o ouro com Rafaela Silva (57kg) e os bronzes com Mayra Aguiar (78kg) e Rafael Silva (+100kg).

Em Tóquio, as lutas serão entre 25 de julho e 1º de agosto, no Nippon Budokan, estrutura que é considerada um templo das artes marciais no Japão e que foi construída para a primeira edição de Jogos Olímpicos sediada pelo Japão, em 1964.

O Nippon Budokan tem traços arquitetônicos que remetem ao templo Yumedono, em Nara. A estrutura interna é em formato de octógono. O pé direito tem 42 metros de altura e as cadeiras recebem até 14 mil torcedores, a depender do tipo de evento realizado. Para os Jogos Olímpicos, serão 11 mil lugares. 

Famosa por receber torneios de judô, caratê, aikidô, wrestling e kickboxing, a Arena Budokan ainda tem no 'currículo' uma série de shows importantes. Os Beatles foram a primeira banda pop do Ocidente a performar ali, em 1966. Nos anos 1970, a estrutura foi usada para a gravação de álbuns ao vivo de artistas como Bob Dylan, Santana, Eric Clapton, Frank Sinatra, Deep Purple, Duran Duran, Pearl Jam e Avril Lavigne.

Nippon Budokan é considerado uma espécie de 'Maracanã' do judô pelos atletas, pela ampla tradição de competições importantes no local. Foto: Roberto Castro/ rededoesporte.gov.br

Investimento federal

O judô olímpico brasileiro conta hoje com 15 atletas contemplados pela Bolsa Pódio, sendo oito mulheres e sete homens. O investimento anual previsto para o grupo é de R$ 1.644.000. Nas demais categorias do programa Bolsa Atleta, do Ministério da Cidadania, são 227 beneficiados (108 mulheres e 119 homens), somando R$ 2.337.720.

Já no judô paralímpico, são hoje 11 contemplados na categoria Pódio (sete mulheres e quatro homens), com previsão de investimento anual de R$ 1.452.000, além de 53 atletas nas demais categorias (20 mulheres e 33 homens), no valor de R$ 633.300.

Ana Cláudia Felizola – rededoesporte.gov.br