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Atletismo

07/06/2018 01h49

Cochabamba 2018

Vítor Hugo retoma o sonho de ser o primeiro brasileiro a correr os 100m abaixo dos 10s

Velocista crava 10s12 e conquista o bronze na final dos Jogos Sul-Americanos após longo período afastado das pistas por lesões

Jogos Sul-Americanos Cochabamba 2018

Vítor Hugo tem um sonho: tornar-se o brasileiro mais rápido da história e correr na casa dos nove segundos. Para virar realidade, ele precisa baixar 11 milésimos o seu melhor tempo na prova de maior glamour do atletismo, os 100m rasos. A cada dia a marca fica mais próxima, mas o medo vem sendo o principal adversário. Após um 2017 para ser esquecido, ele teve nesta quarta-feira (06.06) uma boa oportunidade de concretizar o trabalho. Não deu. Porém, o carioca saiu da pista de atletismo dos Jogos Sul-Americanos com a sensação de ter pulverizado o fantasma das lesões que assombram a sua mente e garantiu o seu melhor tempo em 2018, ao cruzar a linha de chegada em 10s12, com a medalha de bronze.

"Estou voltando. Estou constante com os resultados e isso é importante para baixar o tempo para a casa dos 10s. Não adianta fazer só uma vez. Na final de hoje, errei um pouco na arrancada, e na fase final dei uma caída. Agora, é focar na Europa, que vai ser uma ótima temporada", avaliou Vítor.

Chegada dos 100m nos Jogos Sul-Americanos de Cochabamba. Foto: cochabamba.bo

O brasileiro fez um tempo acima da média das competições internacionais. A prova dos 100m rasos dos Jogos Sul-Americanos foi considerada de um nível técnico alto. Foi vencida com direito a recorde dos Jogos, com o tempo de 10s01 de Alonso Henry, do Panamá. A prata ficou com o equatoriano Alex Martínez, que fez 10s09. Para se ter ideia, a melhor marca de um atleta sul-americano é de 10s00, feito do brasileiro Robson Conceição em 1988.

"Baixar o tempo do Robson é um sonho. Muitos já tentaram. Quando fui crescendo no esporte, fui entendendo o que significava esse recorde para os brasileiros" 
Vítor Hugo

"Baixar o tempo do Robson é um sonho. Desde pequeno tive a oportunidade de treinar com pessoas mais velhas e elas sempre falaram da barreira dos 10s. Muitos já tentaram. Quando fui crescendo no esporte, fui entendendo o que significava esse recorde para os brasileiros. Foi aí que alimentei o desejo. O que o Robson fez é muito grande. Se ele conseguiu, eu e outros brasileiros temos condições de baixar. Vou seguir tentando", disse.

Historicamente, os velocistas brasileiros lidam bem com a altitude. Em Cochabamba, na prova desta quarta-feira, a expectativa era a de um ótimo tempo de Vítor. Ele correspondeu. Fez o melhor do ano, com 10s12. A melhor marca da vida do carioca é de 10s11, a quinta melhor da história do País.

Recomeço

Vítor foi do céu ao inferno em dois anos. De 2016, o velocista lembra com carinho. Melhorou a massa corporal, ganhou peso, estrutura física para explosão da largada e estava mais bem concentrado nas provas. Foi nesse período que cravou os 10s11. Até que virou o ano.

"Fiquei feliz e achava que iria conseguir fazer história. O meu treinador fez um treino especial para o Mundial de Revezamento de 2017. Na hora da competição, quando vi o britânico na frente, acelerei e, nas duas primeiras passadas, senti um estalo no pé e uma dor muito grande. Foi o pior 100m da minha vida. Pensei em continuar correndo devido aos meus outros três companheiros, que se dedicaram muito para competir no Mundial. Quando cheguei perto da linha de chegada, doeu muito e ali bateu um desespero, caí no chão. Veio na minha cabeça que eu tinha perdido o ano", recorda.

A lesão no músculo reto femoral da coxa, sofrida no mês de abril de 2017, tirou Vítor Hugo de treinamentos e competições por três meses. Um tempo de espera que o carioca nunca tinha enfrentado. Período em que passou muita coisa em sua cabeça: dúvidas, incertezas, insegurança e muito medo de sofrer outra lesão grave. A volta foi lenta.

"Foi um momento em que me questionei sobre várias coisas. Se voltaria a correr novamente como antes ou se iria disputar mais uma vez um Mundial. Eram tantos 'se', que fiquei abalado", revela.

"Essa marca de hoje me libertou de tudo o que me prendia, o medo se transformou em alegria"

Libertação

O medo virou "um professor". Ele aprendeu a controlar a ansiedade, esvaziar a mente e descobrir partes do corpo que não conhecia, além de respeitá-las mais. "Qualquer dor que sinto, volta aquele medo. Ficar fora novamente por lesão é aterrorizante. Às vezes não estou sentindo nada, e sei que são coisas da minha cabeça. Foi uma grande lição", afirma.

Depois de tantos altos e baixos, Vítor considera que voltou aos 100% para buscar o sonho de baixar a barreira dos 10s depois dos Jogos Sul-Americanos. "O objetivo deste ano é melhorar minha marca. Era um desejo meu participar dos Jogos. Essa marca de hoje me libertou de tudo o que me prendia, o medo se transformou em alegria", disse.

Segundo Vítor, a sua paixão pelo atletismo é a mesma de uma criança que deseja ser um jogador de futebol. "Competir é uma alegria muito grande. Quero que o atletismo volte aos tempos gloriosos de Robson Caetano, Joaquim Cruz e João do Pulo. Isso para mim seria emocionante".

Breno Barros, de Cochabamba, na Bolívia – Rededoesporte.gov.br