Atletismo
Jogos Paralímpicos
Uma seleção paralímpica de R$ 117 milhões em investimentos federais diretos via Bolsa Atleta
A maior delegação do país numa edição de Jogos Paralímpicos fora do Brasil vai estrear no Japão respaldada por um investimento total de R$ 117 milhões do Governo Federal via Bolsa Atleta. Esse é o valor repassado historicamente, desde 2005, a 226 esportistas (95,7% da delegação) do grupo de 236 titulares da delegação nacional presentes na capital japonesa.
Só no ciclo entre os Jogos Rio 2016 e Tóquio 2021, são R$ 75 milhões depositados diretamente aos integrantes do elenco nacional pelo programa da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania. Em 15 das 20 modalidades em que o Brasil terá representantes nas competições que serão de 24 de agosto e 5 de setembro, 100% dos atletas fazem parte do programa. Entre os bolsistas, 135 são homens (59,7%) e 91 são mulheres (40,3%).
O atletismo responde pela maior quantidade de repasses no ciclo Rio - Tóquio. Na modalidade, 64 dos 65 inscritos fazem parte do Bolsa Atleta. O aporte para eles no período foi de R$ 30,9 milhões. A natação aparece na sequência. A modalidade tem 32 dos 36 atletas em Tóquio contemplados. Eles receberam um montante equivalente a R$ 12,9 milhões entre os Jogos do Rio 2016 e os de Tóquio 2021.
Num recorte que indica o potencial da delegação nacional, a ampla maioria dos bolsistas na capital japonesa pertence à categoria Pódio, a principal. São 136 atletas (57,6%) que recebem mensalmente entre R$ 5 mil e R$ 15 mil por terem resultados expressivos no cenário internacional e estarem entre os 20 melhores do mundo em suas classes e modalidades. Os demais estão divididos entre as categorias Paralímpica (44), Internacional (26) e Nacional (20).
“A gente ainda vê que algumas empresas chegam na véspera dos Jogos, investem no atleta ou na modalidade e somem. Mas o nosso trabalho é de um ciclo inteiro. O Bolsa Atleta está lá o tempo todo. O mais incrível vai ser depois, quando a gente perceber o número de medalhas que virão dos bolsistas. É investimento com retorno para o país”
Edênia Garcia, da natação paralímpica
Confiabilidade
Em sua quinta edição de Jogos Paralímpicos, a nadadora Edênia Garcia é uma das veteranas no projeto. A tetracampeã mundial dos 50m costas integra o Bolsa Atleta desde 2005 e faz parte da categoria Pódio desde 2014. “Eu vim de Natal morar em São Paulo em 2014. O custo de vida por si só já é mais alto. Para manter minha estrutura lá, precisaria obviamente de investimento. O Bolsa Pódio foi fundamental nisso”, comentou a atleta, medalhista nos Jogos Paralímpicos de Atenas (2004), Pequim (2008) e Londres (2012). Em Tóquio, Edênia vai disputar os 50m costas e os 100m livre da Classe S3.
Para ela, um dos pontos essenciais do Bolsa Atleta é a confiabilidade. “A gente ainda vê que algumas empresas chegam na véspera dos Jogos, investem no atleta ou na modalidade e somem. Mas o nosso trabalho é de um ciclo inteiro. O Bolsa Atleta está lá o tempo todo”, comentou a atleta, que ressaltou ainda o potencial retorno do investimento. “O mais incrível vai ser depois, quando a gente perceber o número de medalhas que virão dos bolsistas. Não é só a questão de manutenção da performance. É investimento com retorno para o país”, disse.
“A nossa visão é a de sempre ter um olhar proporcional, igualitário e atento aos investimentos feitos no alto rendimento, sejam eles no esporte olímpico ou paralímpico. Inclusive trouxemos para a estrutura da nossa pasta uma secretaria nacional específica para pensar políticas públicas voltadas para o paradesporto como um todo”, afirmou Marcelo Magalhães, secretário especial do Esporte do Ministério da Cidadania, referindo-se à Secretaria Nacional de Paradesporto, criada durante sua gestão.
“A nossa visão é a de sempre ter um olhar proporcional, igualitário e atento aos investimentos feitos no alto rendimento, sejam eles no esporte olímpico ou paralímpico. Inclusive trouxemos para a estrutura da nossa pasta uma secretaria nacional específica para pensar políticas públicas voltadas para o paradesporto como um todo”
Marcelo Magalhães, secretário especial do Esporte do Ministério da Cidadania
Complementação
Técnico da seleção feminina de vôlei sentado e titular da Secretaria Nacional de Paradesporto do Ministério da Cidadania, José Agtônio Guedes Dantas entende que o esporte paralímpico está em um processo de transição para a profissionalização. Com isso, muitos dos atletas ainda exercem uma segunda atividade de sustento, o que faz o Bolsa Atleta ser ainda mais estratégico.
“Programas como o Bolsa Atleta são imprescindíveis para a manutenção da excelência do treinamento. O Bolsa Atleta é um subsídio importantíssimo e estritamente necessário para que o atleta paralímpico se mantenha em treinamento e participando de competições internacionais”, destacou.
Para ele, ações como a transmissão de jogos pela tevê e a repercussão das redes sociais ajudam a consolidar uma nova fase para o movimento paralímpico. “Eu vivi o antes e o agora. Já são 20 anos e estamos em um caminho muito bom. A gente já consegue ter transmissão dos Jogos em canais de televisão, e as mídias sociais, que são grandes impulsionadoras, ajudam para que possamos, em um curto intervalo de tempo, ter maior profissionalização dos atletas paralímpicos. Com isso, o Bolsa Atleta passa a ser um ‘up’ para um atleta de altíssimo rendimento”, disse.
Renovação, experiência e consistência
No grupo de bolsistas, a mais jovem é Jardênia Felix da Silva, do atletismo, com 17 anos e 11 meses. Integrante da nova safra de talentos paralímpicos, a potiguar integra a categoria Internacional do programa e foi medalhista de prata nos 400m da Classe T20 no Mundial de Jovens da Suíça, em 2019. Além disso, conquistou dois bronzes, nos 100m e 200m, no INAS Global Games, na caminhada para os Jogos de Tóquio, onde vai disputar os 400m e o salto em distância.
A mais experiente também é do atletismo. Elizabeth Gomes tem 56 anos e sete meses e chega com grandes perspectivas no lançamento de disco na Classe F52, para cadeirantes. Em 2019, quebrou duas vezes o recorde mundial da categoria e foi ouro no Parapan de Lima e no Mundial de Dubai.
Além disso, a integrante da categoria Pódio tem no currículo o bronze no arremesso de peso no Mundial de 2015, no Catar, e o ouro no lançamento de disco e a prata no arremesso de peso no Parapan de Toronto 2015. Ex-jogadora de vôlei e diagnosticada com esclerose múltipla, ela também fez parte da seleção de basquete em Pequim 2008, antes de abraçar o atletismo.
Longevidade
“Quando a Bolsa Pódio saiu para mim, mudou tudo na minha vida, sabe? Eu pude me dedicar 100% ao esporte. Pude criar meus filhos. Esse é o meu trabalho e trato com grande responsabilidade. Se estou recebendo é exatamente para me dedicar e trazer resultados. Acho que o fato de a bolsa estar se renovando por todo esse tempo mostra que faço por onde, né?”
Jane Karla
No grupo de contemplados, a atleta mais assídua no histórico do Bolsa Atleta é a goiana Jane Karla. Contando o tempo em que praticou o tênis de mesa e o período mais recente, em que está dedicada ao tiro com arco, a atleta, de 46 anos, já viu seu nome na lista de contemplados de 17 editais do Bolsa Atleta. Atualmente na categoria Pódio, Jane chega Tóquio com boas perspectivas. Foi sexta colocada no Mundial de 2019 e bateu o recorde indoor da modalidade e um torneio disputado em Nimes, na França, em 2020.
“Quando a Bolsa Pódio saiu para mim, mudou tudo na minha vida, sabe? Eu pude me dedicar 100% ao esporte. Pude criar meus filhos. Esse é o meu trabalho e trato com grande responsabilidade. Sou exigente. Se estou recebendo é exatamente para me dedicar e trazer resultados. Acho que o fato de a bolsa estar se renovando por todo esse tempo mostra que faço por onde, né?”, comentou a atleta, que passou a dar ainda mais valor ao perceber que não existem ações similares em muitos dos principais países do mundo.
“Assim como aconteceu com os atletas que disputaram os Jogos Olímpicos de Tóquio, edição que terminou com o recorde de medalhas para o Brasil, com 21 pódios, o Programa Bolsa Atleta tem papel determinante na preparação de nossos atletas paralímpicos. Trata-se de um incentivo importantíssimo para todos os que o recebem e vamos seguir trabalhando para aprimorar esse programa, de modo que o Brasil possa alcançar resultados cada vez melhores, tanto nas Olimpíadas quanto nas Paralimpíadas”, frisou o secretário nacional de Esporte de Alto Rendimento, Bruno Souza.
Salto de qualidade
A delegação paralímpica brasileira também chega a Tóquio com um salto de qualidade na estrutura esportiva de treinamento de alto rendimento. No ciclo entre os Jogos Rio 2016 e Tóquio 2021, os atletas do país passaram a contar de forma integral com os recursos de ponta oferecidos pelo Centro de Treinamento Paralímpico de São Paulo.
O complexo é uma referência mundial e o principal centro de excelência da América Latina. A instalação, sob gestão do Comitê Paralímpico Brasileiro, recebeu R$ 187 milhões do Governo Federal, sendo R$ 167 milhões na construção e outros R$ 20 milhões em equipagem, e foi concluído antes dos Jogos Rio 2016.
O local tem capacidade para hospedar mais de 200 atletas simultaneamente e estrutura para treinamentos e competições de 15 modalidades: atletismo, basquete em cadeira de rodas, bocha, natação, esgrima em cadeira de rodas, futebol de 5, futebol de 7, goalball, halterofilismo, judô, rúgbi em cadeira de rodas, tênis de mesa, tênis em cadeira de rodas, triatlo e vôlei sentado.
Gustavo Cunha, de Tóquio, no Japão – rededoesporte.gov.br