Você está aqui: Página Inicial / Notícias / Um Hugo "mapeado pelo mundo" estreia em Budapeste contra argentino número 100

Tenis de mesa

22/04/2019 18h49

Budapeste 2019

Um Hugo "mapeado pelo mundo" estreia em Budapeste contra argentino número 100

Brasileiro, que passou a ser intensamente conhecido pelos adversários após se consolidar no top 10, faz a primeira partida no Mundial de Budapeste nesta terça, contra Horacio Cifuentes

Mundial de Tênis de Mesa 2019

Em parâmetros numéricos, o Campeonato Mundial já faz parte de uma zona de conforto para Hugo Calderano. Desde os 15 anos com presença fixa na competição em suas versões de equipe e individual, ele chega a Budapeste, na Hungria, para sua oitava participação. "Já não é nada tão novo, mas sempre que vou para um Mundial há uma sensação diferente. Competir contra todos os melhores é sempre muito bom", afirma o atleta, que estreia nesta terça-feira (22.04), a partir das 10h50 (de Brasília), contra o argentino Horacio Cifuentes, número 100 do mundo. A partida eliminatória será na Mesa 2 da Arena principal do Hungexpo, e vale pela fase de 128 atletas. O site oficial da Federação Internacional transmite ao vivo pela internet.

Pelo chaveamento, o caminho de Calderano cruza potencialmente, nas oitavas de final, com o bicampeão do mundo e campeão olímpico, o chinês Ma Long, se os dois chegarem lá. Tanto Hugo quanto o técnico dele, Jean-René Mounie, contudo, preferem não gastar energia nisso. "Eu foco no que posso controlar. É claro que vejo o resultado do sorteio, mas isso não interfere na minha forma de pensar, que é jogo a jogo", diz Hugo.

hugo_calderano_tenis_mesa_20abril2019_abelardomendesjr-1130c.jpg
O potente golpe de backhand é uma das marcas registradas do atleta brasileiro. Foto: Abelardo Mendes Jr. / www.rededoesporte.gov.br

Mesmo que o ambiente seja conhecido e o viés se mantenha degrau por degrau, há uma diferença nítida na relação dos outros com Calderano. O brasileiro chega pela primeira vez ao evento ocupando o Top Ten da modalidade, na sétima posição. Um gráfico ascendente que ele percorre desde 2013, quando era o 260º do mundo, tinha 17 anos e venceu o Aberto do Brasil. Na ocasião, superou nas semifinais e finais dois dos então titulares da seleção nacional: Cazuo Matsumoto e Gustavo Tsuboi.

Em Budapeste, Hugo chama a atenção até de quem não conhece o tênis de mesa. Seu rosto está estampado no centro da cidade, em vagões de trem de uma campanha de marketing de sua patrocinadora de material esportivo. É convocado para ações de "trick shots" (jogadas de habilidade) de empresas que patrocinam o Mundial. Simpático, até concede entrevista tentando falar frases em húngaro a pedido do canal oficial da Federação Internacional de Tênis de Mesa (ITTF). É um Hugo mapeado por todos.

"Por eu estar no Top Ten todos já me conhecem, estudam meu jogo e sabem que têm de entrar muito preparados para jogar contra mim. E é comum os outros jogadores terem mais motivação de ganhar de um Top Ten. Faz parte"

"Com certeza por eu estar no Top Ten todos já me conhecem bastante, estudam meu jogo e sabem que têm de entrar muito preparados para jogar contra mim. E acho que é comum os outros jogadores terem mais motivação de querer ganhar de um Top Ten. Faz parte. É bom ter essa concorrência e faz parte do alto rendimento essa briga, essa luta para continuar no topo", diz o atleta.

Nessa entrevista à www.rededoesporte.gov.br, o atleta, integrante do programa Bolsa Pódio da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania, conversa sobre suas perspectivas para o torneio e para a temporada, sobre as mudanças que tornaram a modalidade mais imprevisível, critica a falta de padronização do material esportivo e até comenta a importância de um ritual dele, que já ficou conhecido mundo afora, de repetir uma série de gestos e trejeitos como parte de seu processo para sacar.

hugo_calderano_tenis_mesa_20abril2019_abelardomendesjr1130vertical.jpg
Ritual para sacar: busca por alguns segundinhos a mais de concentração. Foto: Abelardo Mendes Jr. /rededoesporte.gov.br

Confira os principais pontos:

Top Ten
Com certeza por eu estar no Top Ten todos já me conhecem bastante, estudam meu jogo e sabem que têm de entrar muito preparados para jogar contra mim. E acho que também há o fato de os outros jogadores terem mais motivação de querer ganhar de um Top Ten. Faz parte. É bom ter essa concorrência e faz parte do alto rendimento essa briga, essa luta para continuar no topo.

Sorteio da chave
Eu foco só no que posso controlar. Não adianta ficar pensando na chave. É claro que vejo o resultado do sorteio. Vejo todos os jogadores e quais podem ser os confrontos, mas isso não interfere na minha maneira de pensar. Vou sempre jogo a jogo. Nunca conversamos (ele e o técnico Jean René) sobre sorteio. Só esperamos o adversário. Se for um chinês ou um cara de qualquer país, tanto faz. Tenho de entrar da mesma forma para ganhar.

Estudo dos adversários
Na verdade, não gosto de estudar demais os adversários. Hoje, a maioria já conheço. Então, se acho que preciso dar uma analisada extra, vejo um vídeo de uma partida, sem perder tempo demais. O importante é pensar no que eu preciso fazer, no que faço bem, mais do que pensar no outro, até para não acabar entrando de forma errada na partida. O Jean analisa mais. Ele sempre dá algumas dicas momentos antes dos jogos sobre o que pode ser bom. Às vezes é forçar um pouco mais no jogo curto, em outras situações é melhor eu me impor. São detalhes que ajudam a fazer uma diferença.

Mudanças recorrentes no material
Houve muitas mudanças no tênis de mesa nos últimos anos. Infelizmente os jogadores têm de ficar sempre se adaptando. Não é fácil nem tão prazeroso. Cansa a gente sempre estar se adaptando em vez de aproveitar os treinos e se divertir de uma forma profissional. Hoje, em comparação ao passado, com as novas bolas, o efeito faz menos diferença, apesar de continuar sendo um fator importante. Mas todos os jogadores estão podendo jogar mais forte, ser mais agressivos, e não se preocupar tanto com efeito.

Foto: Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br

 

"É como se você estivesse jogando no saibro, no tênis, e depois fosse para a grama. Eu espero que no futuro o esporte evolua e fique mais padronizado, porque hoje é um desafio grande e difícil"

Falta de padronização
Isso é uma coisa que o pessoal de fora, que não está no tênis de mesa, não entende. A diferença dos materiais é muito grande. Se você joga com a bola de uma marca e troca para outra, é totalmente diferente. A mesa também. Em umas a bola para mais, em outras é como se corresse mais. É como se você estivesse jogando no saibro, no tênis, e depois fosse para a grama. Eu espero que no futuro o esporte evolua e fique mais padronizado, porque é um desafio grande e difícil, porque muitas vezes nem os jogadores Top têm acesso às bolas boas ou às mesas da competição. É uma luta.

Bolas do Mundial
Aqui no Mundial, por exemplo. Estávamos treinando na Alemanha teoricamente com a bola do campeonato, mas chegamos e é totalmente diferente. Felizmente a daqui é melhor, mas nas últimas semanas não conseguimos treinar como poderíamos se tivéssemos uma bola dessa qualidade.

Ritual antes do saque
Acho que antes de sacar eu estou focado principalmente no que preciso fazer naquele ponto. Ali eu faço uma cara estranha, um ritual até chegar à posição certa, mas acho que nem penso muito nisso. É o jeito que estou me preparando. O tênis de mesa é muito rápido. Você tem um ou dois segundos para pensar no ponto que passou e já tem de partir para o próximo. Como meu jogo exige bastante de mim física e mentalmente, acho que a minha mente está ali, naquele instante, se preparando. Eu preciso desses segundinhos a mais para ajustar o que quero no próximo ponto.

"Antes de sacar eu estou focado no que preciso fazer. Ali faço uma cara estranha, um ritual até chegar à posição certa. Como meu jogo exige bastante de mim física e mentalmente, acho que preciso desses segundinhos a mais para ajustar o que quero no próximo ponto"

Top Ten
Conseguir se manter no Top Ten é bem difícil. E subir cada degrau a partir de agora, é bem mais complicado. No tênis de mesa a concorrência é muito alta. Tem vários jogadores muito bons, que podem ganhar de atletas Top Ten. Muitas vezes os torcedores olham que vou jogar contra um atleta que é 50, 60, até 100 do mundo, e pensam que o jogo é mais tranquilo. Nunca é tranquilo. Dá para perder de qualquer um. Qualquer um no sentido de que o tênis de mesa tem muitos detalhes finos. Qualquer coisa pode fazer diferença. São só 11 pontos até o fim de cada set. Você tem de estar sempre em sua forma máxima para conseguir ser bem regular.

Ano Olímpico e Pan
Agora vai começar o ano olímpico. Espero conseguir treinar bastante para chegar lá no meu nível mais alto. Vou jogar menos jogos no meu clube na Alemanha para ter mais liberdade em geral, para ir nos campeonatos que quiser, para descansar, para treinar como achar necessário. Temos ainda a final da Liga da Alemanha, em 25 de maio. O Pan vai ser um campeonato muito importante para o Brasil, como sempre. E espero conseguir me classificar com a equipe do Brasil para os Jogos Olímpicos.

Corrida pelo ranking
Há muitos campeonatos estratégicos pela frente. Essa corrida do ranking mundial até Tóquio vai ser importante para chegar lá com condições de uma posição melhor para o sorteio da chave. Se você é o cabeça de chave número 1 ou número quatro não é a mesma coisa de um cabeça de chave 32, que pode pegar um adversário muito forte já na primeira rodada.

Galeria de fotos (imagens disponíveis para download em alta resolução e uso editorial gratuito. Crédito: Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br) 

Mundial de Tênis de Mesa 2019

 

Gustavo Cunha, de Budapeste, na Hungria - rededoesporte.gov.br