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Tenis de mesa

05/08/2019 17h28

Lima 2019

Tsuboi: um operário a serviço do tênis de mesa brasileiro

Com três ouros e duas pratas em quatro edições anteriores do Pan, o atual 32º do mundo é o coringa da delegação, inscrito em quatro categorias e com medalha já garantida em duas

Jogos Pan-Americanos Lima 2019

O paulista Gustavo Tsuboi é do estilo “formiguinha”. Trabalha quieto, focado, com paciência. É o cara da persistência, característica que usualmente desempenha longe dos holofotes. “De grão em grão”, como escreveu em post recente em seu Instagram. Aos 34 anos, construiu no tênis de mesa uma carreira sólida. Até 2014, era o brasileiro que mais longe tinha ido no ranking mundial nos moldes modernos da ITTF, em 36º. Chegou em agosto de 2019 a sua melhor colocação nessa listagem, em 32º. Soma três ouros e duas pratas em Jogos Pan-Americanos entre a edição de Santo Domingo, em 2003, e a de Toronto, em 2015.

Em Lima, é o “operário” do time. Dá expediente nas quatro categorias que valem medalha. Faz duplas com Bruna Takahashi e com Hugo Calderano e já garantiu medalhas com os dois. É peça indispensável na disputa por equipes. E entra na chave individual como cabeça de chave número dois. O número um é seu parceiro Hugo Calderano, ao lado de quem já ocupou o Top 3 do ranking mundial de duplas e contra quem fez a final de simples há quatro anos, em Toronto. Ficou com o vice.    

Tsuboi e Bruna Takahashi: na final das duplas mistas do Pan. Foto: Abelardo Mendes Jr./rededoesporte.gov.br
Quando eu era mais jovem, juvenil, infantil, não tinha essa perspectiva de Seleção. Jogava porque gostava. Fui levando, jogando, treinando. As coisas foram acontecendo. Sempre foi assim, passo a passo. Conquistava uma coisa, traçava novas metas

Os quase 12 anos de diferença entre ele e Calderano são mais do que uma transição de gerações, mas de momentos distintos em relação ao potencial profissional do tênis de mesa no Brasil. Gustavo Tsuboi se formou como atleta numa era em que as perspectivas técnicas, táticas, mentais e físicas disponíveis eram de bom patamar, mas não de excelência numa comparação com o cenário mundial. Calderano é produto de um período de maiores investimentos, até em função dos Jogos Olímpicos Rio 2016, o que propiciou a presença de técnicos estrangeiros, recursos para treinamentos, material esportivo de qualidade e possibilidade de intercâmbio.

“Tudo o que vem acontecendo na minha carreira ultimamente é bem longe do que eu esperava quando comecei no tênis de mesa, mesmo quando comecei a figurar nas seleções de base. Confesso que não sabia do meu potencial e até onde poderia chegar. Acho que faltava um pouco de conhecimento geral na época”, disse Tsuboi.

O atleta canhoto e de estilo agressivo e eficiente se consolidou nos últimos anos não só como um dos titulares inquestionáveis da seleção, mas como peça fundamental ao lado de Calderano para que o Brasil chegasse, em 2018, às quartas de final do Mundial por equipes e da Copa do Mundo por equipes, posição inédita para o país. No Pan, é uma das apostas da comissão técnica para que o Brasil construa um resultado histórico na capital peruana. Confira a entrevista.

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Tsuboi tem forte protagonismo nas campanhas que levaram o Brasil a se consolidar como um dos oito times mais fortes do mundo. Foto: Abelardo Mendes Jr./rededoesporte.gov.br

Número 32 do mundo

Fiquei bem surpreso e feliz com essa notícia de que alcancei a 32ª posição no ranking. É a minha melhor colocação na carreira. Apesar de não ter jogado as etapas mais recentes do circuito, esse novo sistema permite essa troca de posições aconteça. Alguns adversários tinham de defender pontos dessa mesma época do ano passado e houve essa variação. Fiquei bem feliz. Claro que foi apenas uma posição diante da minha melhor marca anterior, mas me dá motivação para seguir treinando firme, trabalhando com seriedade e alcançar metas cada vez mais distantes.

"Essa é minha quinta participação. Estive antes em Santo Domingo (2003), Rio de Janeiro (2007), Guadalajara (2011) e Toronto. Apesar disso, sempre dá um frio na barriga. É uma competição importante para o Brasil, importante para mim e dá uma certa ansiedade por só ocorrer de quatro em quatro anos"

Horizontes internacionais

Tudo o que aconteceu na minha carreira é bem longe do que eu esperava quando comecei no tênis de mesa, mesmo quando comecei a figurar nas seleções de base. Eu não sabia do meu potencial nem até onde poderia chegar. Acho que faltava um pouco de conhecimento na época, por parte das pessoas com quem eu convivia, uma visão de até onde poderíamos ir ou chegar. Isso não quer dizer, claro, qualquer demérito a essas pessoas, porque fizeram o melhor que podiam e contribuíram demais para minha carreira, para estar evoluindo, ainda que com as limitações da época. O importante é que fico bem contente de estar cada vez mais alto no ranking, conquistando títulos e evoluindo com certa constância.

Motivação para o Pan

Chegar ao Pan com essa nova colocação me dá, claro, mais força, motivação. Não só para esse Pan, mas para a temporada que está vindo, com um novo recomeço da Liga Alemã e as competições no circuito mundial. E isso vem um ano antes das Olimpíadas, o que dá um gás maior para melhorar meu nível, minhas conquistas e minhas metas. Só traz coisas positivas.

Bagagem no Pan

Essa é minha quinta participação em Jogos Pan-Americanos. Estive antes em Santo Domingo (2003), Rio de Janeiro (2007), Guadalajara (2011) e Toronto. Apesar de ter participado de todos esses, com certeza dá um frio na barriga. É uma competição importante para o Brasil, importante para mim como atleta e dá uma certa ansiedade por só ocorrer de quatro em quatro anos. O clima é totalmente diferente do que acontece em nosso cotidiano, de etapas do Circuito Mundial, Copa do Mundo, Mundial. Aqui você participa com todos os esportes, fica na vila. É um clima diferente, uma logística distinta. É gostoso de estar nesse meio de profissionais. Acabo não vendo muito a rotina dos outros esportes, mas é curioso estar no mesmo ambiente. É por isso que é especial. Tenho três medalhas de ouro e duas de prata. Santo Domingo fui prata em dupla com Bruno Anjos. No Rio, ouro em equipe. Guadalajara, ouro em equipe e Toronto, ouro em equipe e prata no individual.

"Espero que a nossa trajetória, as nossas atitudes, a forma com que a gente está colocando o nome do Brasil no mapa do mundo sirva de inspiração para as novas gerações, para que possam também almejar o que a gente seguiu, conquistou e que fique como legado"

Técnicas para baixar a ansiedade

Eu não tenho ritual ou qualquer coisa especial para lidar com esse ambiente diferente. Como já estive em outras edições do Pan, além de Jogos Sul-Americanos e Olimpíadas, já estou meio acostumado. O mais importante é conseguir na hora do jogo garantir que as coisas fora da mesa não atrapalhem. Mas tenho, sim, algumas técnicas para poder focar só na mesa. Espero que consiga usá-las e que consiga transformar a mesa apenas no ambiente de trabalho, com foco total.

Responsabilidade do favoritismo

A gente chega nesse Pan com uma força diferente das outras. O tênis de mesa brasileiro com certeza está evoluindo cada vez mais. Nós chegamos aqui como favoritos, como equipe mais forte, com os dois jogadores de melhor ranking. Isso traz uma pressão sobre os ombros, não tem como negar, mas todos aqui têm a experiência necessária para lidar com isso.

Mudança de patamar do Brasil

Acho que o Brasil evoluiu bastante, tanto tecnicamente quanto mentalmente. E mudamos bastante desde que o Jean-René Mounie e outros técnicos começaram a trabalhar com a seleção. Acho que aí foi o ponto de partida para a gente alterar a nossa forma de ver esse meio profissional do tênis de mesa, tanto dentro quanto fora da mesa. Ele conseguiu fazer um bom trabalho com a seleção e claramente com o Hugo Calderano. Acho que isso levou com que todos os jogadores conseguissem subir de nível e evoluir cada vez mais. Espero que a nossa trajetória, as nossas atitudes, a forma com que a gente está colocando o nome do Brasil no mapa do mundo sirva também de inspiração para as novas gerações, para que possam também almejar o que a gente seguiu, conquistou e que fique como legado.

Fazia tempo que não jogavam juntos, mas dupla de Tsuboi e Calderano já esteve entre as três melhores do ranking da ITTF. Foto: Washington Alves/COB

Devagar, mas sempre

Quando eu era mais jovem, juvenil, infantil, não tinha essa perspectiva de Seleção. Jogava porque gostava. Fui levando, jogando, treinando. As coisas foram acontecendo, na minha vida e na minha carreira. Sempre foi assim, passo a passo. Conquistava uma coisa, traçava novas metas. E assim sempre foi seguindo. Hoje, como estamos conquistando cada vez mais coisas, o pessoal mais novo tem como pensar: Se o Eric Jouti, o Cazuo Matsumoto, o Gustavo Tsuboi, o Hugo Calderano chegaram longe, por que eu também não? Acho que, de fato, o horizonte ficou mais aberto para a molecada. Sou bem realizado com tudo o que já fiz. E não paro. Conquistando o 32º lugar no ranking, já quero o Top 30, quem sabe o Top 20. Sigo aí lutando.

Investimento federal

A Bolsa Atleta me ajuda demais. Desde que conquistei o meu primeiro título internacional conto com essa parceria. Primeiro, com a bolsa internacional. Depois, quando fui para as Olimpíadas, passou a ter a categoria olímpica. É algo que me ajuda bastante a ter uma retaguarda. A saber que posso me dedicar ao esporte, que existe uma renda para me sustentar nessa profissão. Sempre podemos pensar em formas de melhorar, mas é claro que ajuda demais com as despesas de ir ao treino, se alimentar, suplementação, viagens para campeonatos, investir em preparação física. Já faz tempo que conto com o Bolsa Atleta  e tenho de reconhecer que ela tem um grande papel na minha carreira para eu me dedicar, investir e procurar me aperfeiçoar, melhorar meu nível e conquistar mais títulos.

Operário em Lima

Aqui no Pan vou jogar individual, dupla mista com a Bruna, dupla com o Hugo e equipe. Faz bastante tempo que não repito essa parceria com o Hugo. Na época estávamos muito bem. Ficamos com o vice no Aberto do Catar, vice no Aberto da Hungria e fomos campeões do Aberto da Suécia. Chegamos ao top três do ranking mundial, mas nós dois temos um bom nível e nos entendemos bem. Tenho confiança de que a gente vai desenvolver um bom papel aqui.

Galeria de fotos (imagens disponíveis para download em alta resolução; uso editorial gratuito; crédito obrigatório)

Tênis de mesa - Jogos Pan-Americanos Lima 2019

Gustavo Cunha – rededoesporte.gov.br