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Volei paralímpico

20/08/2021 08h23

Entrevista

Técnico do vôlei sentado feminino, secretário nacional do Paradesporto fala da expectativa para os Jogos Paralímpicos

Para José Agtônio Guedes Dantas, equipe tem chance de brigar novamente pelo pódio, e delegação brasileira em Tóquio chega para se manter no Top 10 Mundial. Abertura do evento será no dia 24 de agosto

Nem todos sabem, mas o secretário nacional do Paradesporto do Ministério da Cidadania, José Agtônio Guedes Dantas, é também o técnico da seleção feminina de vôlei sentado. No comando da equipe desde 2013, ele fez parte da histórica conquista da medalha de bronze nos Jogos do Rio 2016.  

Nesta sexta (20.08), pouco antes da viagem de Hamamatsu (cidade de aclimatação da delegação paralímpica) a Tóquio, o secretário falou com o rededoesporte.gov.br. A equipe feminina de vôlei sentado estreia na competição em Tóquio contra o Canadá, no dia 25 de agosto, a partir das 6h30 (de Brasília). A seleção ainda enfrenta na fase de classificação as equipes de Japão e Itália. O secretário e treinador falou sobre a preparação dos atletas, a expectativa para os Jogos e ressaltou a importância e representatividade do apoio do Governo Federal ao desporto paralímpico.

Confira a conversa:

O técnico José Agtônio com a seleção feminina em Hamamatsu: meta é repetir o pódio de 2016. Foto: Ale Cabral/CPB

O vôlei sentado brasileiro em Tóquio

No feminino temos quatro seleções que devem brigar pelo pódio e o Brasil é uma dessas, junto com Rússia, China e Estados Unidos. São seleções que se credenciam para a medalha. Com isso, as seleções e os atletas devem estar muito bem preparados

A conquista da medalha de bronze no Rio 2016 já nos colocou em uma situação de vanguarda no cenário internacional. Hoje somos os terceiros colocados no ranking mundial com a equipe feminina e segundos com a masculina. Naturalmente, essas posições nos colocam como uma das seleções favoritas à medalha. É claro que existem no cenário internacional, tanto no masculino quanto no feminino, equipes que vêm para brigar lá em cima, não apenas uma ou duas seleções. No feminino temos quatro seleções que devem brigar pelo pódio e o Brasil é uma dessas, junto com Rússia, China e Estados Unidos. No masculino existe um grupo maior, com Bósnia, Irã, Egito, Brasil, Rússia e Alemanha. São seleções que se credenciam para a medalha. Com isso, as seleções e os atletas devem estar muito bem preparados. É uma competição que a gente chama de tiro curto. São cinco jogos até a disputa da medalha: três na fase classificatória, semifinal e final. Então, a gente não tem o direito de pensar em errar, desde o primeiro momento tudo tem que dar certo. Temos trabalhado todos os aspectos: físico, técnico, tático e emocional para que possamos estar preparados para jogar essa final, que é a meta da seleção feminina.

Investimento direto

Vinte e dois dos 24 atletas do vôlei sentado em Tóquio (levando em conta as seleções masculina e feminina) são integrantes da Bolsa Atleta, programa de patrocínio individual do Governo Federal Brasileiro, num aporte somado para esses atletas de R$ 2,4 milhões no ciclo entre os Jogos Rio 2016 e Tóquio 2021. Levando em conta a modalidade como um todo, o Governo Federal Brasileiro concedeu 308 bolsas no ciclo Rio - Tóquio, num investimento direto de R$ 5,6 milhões.

Meta do Brasil nos Jogos Paralímpicos

Dentro do Comitê Paralímpico Brasileiro há todo um programa de acompanhamento, por meio da ciência do esporte, que monitora os atletas brasileiros e seleções nacionais, seus resultados e os principais adversários. Eles têm uma projeção de permanecer no top 10 de medalhas. Esse é um marco importante, permanecer entre as dez potências mundiais no esporte paralímpico será significativo. Tem uma outra meta, que não está muito difícil de ser atingida, que é a da centésima medalha de ouro. Faltam apenas 13. A gente acredita que esse número será alcançado.

Temos uma geração muito forte de jovens atletas, que vão continuar colocando o Brasil no top 10 do quadro geral de medalhas. Essa é a expectativa não só para Tóquio, mas para as edições futuras

O mais importante é que temos uma geração muito forte de jovens atletas. Para os Jogos de Paris faltam apenas três anos. Além do excelente resultado aqui em Tóquio, o próprio Comitê Paralímpico já planeja toda uma ação para Paris. Temos a grata felicidade de termos gerações que vão continuar colocando o Brasil no top 10 do quadro geral de medalhas. Essa é a expectativa não só para Tóquio, mas para as edições futuras.

Outra coisa que considero importante nesse ciclo é que, mesmo diante de todas as dificuldades causadas pela pandemia e pelo distanciamento social, as seleções nacionais e atletas brasileiros chegam aqui muito bem preparados. Chegamos talvez com a delegação mais forte da história. Já é a delegação com maior número de atletas presentes em uma edição fora do Brasil. Só nos Jogos Rio 2016 tivemos delegação maior. De todas que já saíram do Brasil é a maior em números. Além disso é uma das melhores em qualidade. Então, a gente tem uma expectativa forte da permanência no top 10.

 

A importância do Bolsa Atleta

A gente consegue já ter uma transmissão dos paralímpicos em canais de televisão, e as mídias sociais, que são grandes impulsionadoras, ajudam a que possamos em um curto intervalo de tempo ter uma maior profissionalização dos atletas paralímpicos e que o programa Bolsa Atleta seja um ‘up’" 

O esporte paralímpico brasileiro, diferentemente do esporte olímpico, está em um processo de transição, passando por uma profissionalização. Muitos dos atletas do paradesporto que estão aqui nos Jogos Paralímpicos exercem uma segunda atividade de sustento. Neste cenário, programas como o Bolsa Atleta são imprescindíveis para a manutenção da excelência do treinamento. O Bolsa Atleta passa a ser um subsídio importantíssimo e estritamente necessário para que ele se mantenha em treinamento e participando de competições internacionais. O cenário modifica-se um pouco em relação ao olímpico, onde temos muitas das modalidades já profissionais.

O interessante é que ações como a transmissão dos Jogos pela televisão, a participação em programas esportivos e a divulgação nas mídias sociais aceleram esse processo de profissionalização. Eu vivi o antes e o agora desse processo. Já são 20 anos, e nós estamos em um caminho muito bom. A gente consegue já ter uma transmissão em canais de televisão, e as mídias sociais, que são grandes impulsionadoras, principalmente da figura do atleta, ajudam a que possamos em um curto intervalo de tempo ter uma maior profissionalização dos atletas paralímpicos e que o programa Bolsa Atleta seja um ‘up’ dentro dessa ação para um atleta de altíssimo rendimento.

Foto: Ale Cabral/CPB

Representatividade e paradesporto

"Nós temos, enquanto secretaria nacional do Paradesporto, um olhar para o esporte paralímpico, mas também um olhar cuidadoso para esses que fazem parte desse rol que inclui esportes para pessoas com surdez, com deficiência intelectual – que aqui nas Paralimpíadas estão contemplados apenas no atletismo, natação e tênis de mesa –, para autismo, modalidades não paralímpicas praticadas por cegos ou pessoas com deficiências físicas ou múltiplas

Os Jogos Paralímpicos são o grande evento esportivo para pessoas com deficiência. É o que tem mais visibilidade, que atrai a mídia, o que as pessoas assistem. Mas, por trás do esporte paralímpico existe uma diversidade grande de deficiências e de modalidades que ainda não fazem parte desse quadro. É um número significativo. Nós temos, enquanto secretaria nacional do Paradesporto, um olhar para o esporte paralímpico, mas também um olhar cuidadoso para esses que fazem parte desse rol que inclui esportes para pessoas com surdez, com deficiência intelectual – que aqui nas Paralimpíadas estão contemplados apenas no atletismo, natação e tênis de mesa –, para autismo, modalidades não paralímpicas praticadas por cegos ou pessoas com deficiências físicas ou múltiplas.

A Secretaria Nacional do Paradesporto tem por missão olhar para essa diversidade como um todo e proporcionar que estratégias e efetivação de políticas aconteçam para esses grupos. Temos algumas ações já acontecendo, como o apoio a projetos e eventos esportivos. É uma secretaria nova dentro da estrutura governamental, mas é uma secretaria muitíssimo importante do ponto de vista de representação. O paradesporto é desenvolvido em todos os espaços esportivos. Então, por exemplo, se a gente olhar hoje para a secretaria nacional de Alto Rendimento, com o Bruno Souza, iremos encontrar diversos projetos paradesportivos já sendo desenvolvidos. Na secretaria nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social, com a Fabíola Molina, a gente tem diversos programas que envolvem pessoas com deficiência e que começaram inclusive antes da criação da secretaria do paradesporto, que agora é responsável pela gestão e articulação dessas ações.

 

Além disso, temos um papel primordial na estrutura e organização do desporto no Brasil. Sendo a secretaria nacional do Paradesporto, dentro da estrutura federal, um espaço onde a política é discutida no mesmo ambiente de igualdade, isso transfere para estados e municípios a responsabilidade de que, em suas organizações, em nível de secretarias estaduais, distritais e municipais, se tenha uma estrutura similar para discutir o paradesporto. Pode ser uma superintendência, uma diretoria, mas que tenhamos dentro da estrutura administrativa do esporte brasileiro espaços em que se discuta o paradesporto. Isso é importantíssimo para o desenvolvimento de uma política de ação inclusiva mais afirmativa.

Pedro Ramos, de Tóquio, no Japão – rededoesporte.gov.br