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Tiro esportivo

24/07/2021 06h06

TÓQUIO 2021

Prata no Rio 2016, Felipe Wu fica fora da final e Brasil diz adeus aos Jogos de Tóquio no tiro esportivo

Apesar do resultado atirador garante que volta para casa tranquilo e com a consciência leve por ter feito o melhor que podia. Principal meta para o próximo ciclo é brilhar no Campeonato Mundial

Há de haver euforia, obviamente, nas vitórias. Mas o verdadeiro campeão se mostra não apenas quando a estrada é tranquila e a caminhada tem como parada final o pódio. São nas adversidades e na maneira que um atleta aprende a lidar com elas que qualquer um se torna vitorioso de fato. Afinal, no fim das contas, o que vale é a consciência tranquila e a paz de espírito por saber que fez o seu melhor.

Há cinco anos, Felipe Wu viveu o momento mais incrível de carreira quando conquistou a medalha de prata no tiro esportivo na prova da pistola de ar de 10 metros. O pódio do paulista, então com 24 anos, foi o primeiro do Brasil no Rio de Janeiro e abriu as portas para todos os outros que vieram.

Felipe Wu, em ação nos Jogos de Tóquio. Foto: Rodolfo Vilela/rededoesporte
“Tanto para o lado bom quanto para o lado ruim temos que pegar os aprendizados e seguir em frente. Do mesmo jeito que eu tentei fazer isso depois do Rio de Janeiro, que foi uma conquista que eu tive, eu vou fazer agora. Acho que quando a gente não tem um resultado positivo os aprendizados devem ser maiores”
Felipe Wu atirador e medalhista olímpico

Neste sábado (24.07), Felipe Wu voltou aos Jogos Olímpicos, em Tóquio, um megaevento diferente de todos os outros que vieram antes dele. Ele competiu na prova que é sua especialidade como o único representante do país no tiro esportivo nos Jogos do Japão.

A fase classificatória foi disputada por 36 atletas, que, durante uma hora e quinze minutos, dispararam 60 tiros cada um em busca de uma pontuação que lhes garantisse um lugar entre os oito melhores que avançaram à final. Com 566 pontos no total, Felipe Wu terminou longe da disputa pelo pódio, na 32ª colocação. O indiano Chaudhary foi quem mais pontuou, com 586 e o sérvio Damir Mikec levou a última vaga para a decisão, com 578 pontos. Na final, o ouro ficou com o iraniano Javad Foroughi, a prata com o sérvio Damir Mikec e o bronze com o chinês Wei Pang.

“Tanto para o lado bom quanto para o lado ruim temos que pegar os aprendizados e seguir em frente. Do mesmo jeito que eu tentei fazer isso depois do Rio de Janeiro, que foi uma conquista que eu tive, eu vou fazer agora. Acho que quando a gente não tem um resultado positivo os aprendizados devem ser maiores. Então é chegar em casa com calma e analisar o que eu posso melhorar”, avaliou Felipe, com uma leveza incomum a estrelas do esporte que se deparam com revezes na competição mais importante do planeta.

“Minha tranquilidade vem do fato de que eu fiz tudo o podia fazer em todo o momento. Em 2019, quando teve uma Copa do Mundo no Rio, que foi a última Copa que distribuiu vaga para a Olimpíada, eu não conquistei a vaga e a partir dali as pessoas nem contavam comigo na Olimpíada. E eu aproveite o ano passado, com toda a dificuldade que a gente teve, de clube abrindo, clube fechando, me esforcei, consegui me classificar no último momento e mesmo depois que me classifiquei continuei me esforçando ao máximo. Então isso me deixa tranquilo. Tenho certeza de que tudo o que eu podia fazer eu fiz”, continuou o vice-campeão olímpico.

Aos 29 anos, Felipe Wu conta que em nenhum momento se sentiu totalmente bem para competir em Tóquio e ressaltou que isso não teve nada a ver com qualquer tipo de pressão por chegar ao Japão como o atual vice-campeão olímpico.

Investimentos federais

Felipe Wu foi o único representante brasileiro na disputa do tiro esportivo em Tóquio. Apoiado com a Bolsa Atleta na categoria Olímpico, ele contou com o apoio do governo federal desde 2017 na preparação deste ciclo olímpico.

Entre os Jogos Rio 2016 e Tóquio 2020, mais de R$ 13 milhões foram investidos de forma direta, via Bolsa Atleta, em praticantes do tiro esportivo no Brasil. O investimento foi suficiente para a concessão de 1.056 bolsas.

“Não foi nem questão de pressão. Foi questão de dificuldade de ter uma boa performance. Eu estava bem mais tranquilo e bem mais leve do que eu estava no Rio de Janeiro. Foi uma Olimpíada totalmente diferente. Por um lado, eu estava mais tranquilo e por outro lado eu não estava com a mesma performance técnica que eu estava no Rio”, explica.

“Minha competição foi difícil. Eu não tive bons treinos aqui no Japão. Eu esperava estar em um nível técnico melhor, mas a cada tiro eu tentei me esforçar ao máximo para ter um bom resultado. Infelizmente não foi o suficiente. Foi uma competição dura, exaustiva”.

Indagado sobre o que ocorreu para que ele experimentasse essa oscilação entre a performance no Rio 2016 e os resultados no ciclo seguinte, Wu detalhou os problemas que enfrentou na caminhada para Tóquio.

Pistola de ar de 10 metros - Jogos Olímpicos de Tóquio

“Até pouco depois da Olimpíada (do Rio), em 2017, eu ainda estava competindo em um nível bom, mas não estava valendo vaga para a Olimpíada. No final de 2017, tive uma lesão no ombro que me atrapalhou um pouco a ter a mesma performance. A dor a gente está acostumado. Mas quando começa a atrapalhar no esporte é ruim. Eu demorei para me recuperar. Foi mais no ano passado mesmo que eu consegui treinar com mais calma e consegui me reencontrar. Foi um ciclo conturbado, mas também foi de superação. Então estou tranquilo e feliz por isso”, diz o atirador.

Wu lembra que ele não foi o único impactado neste ciclo e lembrou o caso do coreano Jongoh Jin, dono de oito medalhas olímpicas (quatro de ouro, duas de prata e quatro de prata) nos Jogos de Atenas 2004, Pequim 2008, Londres 2012 e Rio 2016 na pistola de ar de 10 metros e na pistola de 50 metros e que também não avançou a final em Tóquio, terminando a fase de classificação na 15ª posição.

Copa do Mundo

Virada a página dos Jogos de Tóquio, Felipe Wu já olha para frente e planeja seguir empenhado no esporte para, no próximo ciclo, chegar a um resultado inédito na carreira.

“No tiro tem uma peculiaridade. Geralmente o Campeonato Mundial começa a distribuir vaga para a Olimpíada. Mas o Campeonato Mundial que estava marcado para ser na Rússia no ano que vem foi postergado porque a Rússia está punida. Então, provavelmente, o tiro esportivo só vai começar a distribuir vaga um ano antes da Olimpíada. Então ainda não sabemos muito bem. Mas independentemente do que for ser feito a próxima meta de resultado para mim é o Campeonato Mundial. É a única medalha do tiro olímpico que eu não tenho e é uma coisa que eu quero bastante. É muito mais difícil que a Olimpíada, são mais atletas, o nível é maior, mas esse é o meu objetivo daqui para frente”, revela.

Luiz Roberto Magalhães – De Tóquio, no Japão – rededoesporte.gov.br