Tiro esportivo
TÓQUIO 2021
Prata no Rio 2016, Felipe Wu fica fora da final e Brasil diz adeus aos Jogos de Tóquio no tiro esportivo
Há de haver euforia, obviamente, nas vitórias. Mas o verdadeiro campeão se mostra não apenas quando a estrada é tranquila e a caminhada tem como parada final o pódio. São nas adversidades e na maneira que um atleta aprende a lidar com elas que qualquer um se torna vitorioso de fato. Afinal, no fim das contas, o que vale é a consciência tranquila e a paz de espírito por saber que fez o seu melhor.
Há cinco anos, Felipe Wu viveu o momento mais incrível de carreira quando conquistou a medalha de prata no tiro esportivo na prova da pistola de ar de 10 metros. O pódio do paulista, então com 24 anos, foi o primeiro do Brasil no Rio de Janeiro e abriu as portas para todos os outros que vieram.
“Tanto para o lado bom quanto para o lado ruim temos que pegar os aprendizados e seguir em frente. Do mesmo jeito que eu tentei fazer isso depois do Rio de Janeiro, que foi uma conquista que eu tive, eu vou fazer agora. Acho que quando a gente não tem um resultado positivo os aprendizados devem ser maiores”
Felipe Wu atirador e medalhista olímpico
Neste sábado (24.07), Felipe Wu voltou aos Jogos Olímpicos, em Tóquio, um megaevento diferente de todos os outros que vieram antes dele. Ele competiu na prova que é sua especialidade como o único representante do país no tiro esportivo nos Jogos do Japão.
A fase classificatória foi disputada por 36 atletas, que, durante uma hora e quinze minutos, dispararam 60 tiros cada um em busca de uma pontuação que lhes garantisse um lugar entre os oito melhores que avançaram à final. Com 566 pontos no total, Felipe Wu terminou longe da disputa pelo pódio, na 32ª colocação. O indiano Chaudhary foi quem mais pontuou, com 586 e o sérvio Damir Mikec levou a última vaga para a decisão, com 578 pontos. Na final, o ouro ficou com o iraniano Javad Foroughi, a prata com o sérvio Damir Mikec e o bronze com o chinês Wei Pang.
“Tanto para o lado bom quanto para o lado ruim temos que pegar os aprendizados e seguir em frente. Do mesmo jeito que eu tentei fazer isso depois do Rio de Janeiro, que foi uma conquista que eu tive, eu vou fazer agora. Acho que quando a gente não tem um resultado positivo os aprendizados devem ser maiores. Então é chegar em casa com calma e analisar o que eu posso melhorar”, avaliou Felipe, com uma leveza incomum a estrelas do esporte que se deparam com revezes na competição mais importante do planeta.
“Minha tranquilidade vem do fato de que eu fiz tudo o podia fazer em todo o momento. Em 2019, quando teve uma Copa do Mundo no Rio, que foi a última Copa que distribuiu vaga para a Olimpíada, eu não conquistei a vaga e a partir dali as pessoas nem contavam comigo na Olimpíada. E eu aproveite o ano passado, com toda a dificuldade que a gente teve, de clube abrindo, clube fechando, me esforcei, consegui me classificar no último momento e mesmo depois que me classifiquei continuei me esforçando ao máximo. Então isso me deixa tranquilo. Tenho certeza de que tudo o que eu podia fazer eu fiz”, continuou o vice-campeão olímpico.
Aos 29 anos, Felipe Wu conta que em nenhum momento se sentiu totalmente bem para competir em Tóquio e ressaltou que isso não teve nada a ver com qualquer tipo de pressão por chegar ao Japão como o atual vice-campeão olímpico.
Investimentos federais
Felipe Wu foi o único representante brasileiro na disputa do tiro esportivo em Tóquio. Apoiado com a Bolsa Atleta na categoria Olímpico, ele contou com o apoio do governo federal desde 2017 na preparação deste ciclo olímpico.
Entre os Jogos Rio 2016 e Tóquio 2020, mais de R$ 13 milhões foram investidos de forma direta, via Bolsa Atleta, em praticantes do tiro esportivo no Brasil. O investimento foi suficiente para a concessão de 1.056 bolsas.
“Não foi nem questão de pressão. Foi questão de dificuldade de ter uma boa performance. Eu estava bem mais tranquilo e bem mais leve do que eu estava no Rio de Janeiro. Foi uma Olimpíada totalmente diferente. Por um lado, eu estava mais tranquilo e por outro lado eu não estava com a mesma performance técnica que eu estava no Rio”, explica.
“Minha competição foi difícil. Eu não tive bons treinos aqui no Japão. Eu esperava estar em um nível técnico melhor, mas a cada tiro eu tentei me esforçar ao máximo para ter um bom resultado. Infelizmente não foi o suficiente. Foi uma competição dura, exaustiva”.
Indagado sobre o que ocorreu para que ele experimentasse essa oscilação entre a performance no Rio 2016 e os resultados no ciclo seguinte, Wu detalhou os problemas que enfrentou na caminhada para Tóquio.
“Até pouco depois da Olimpíada (do Rio), em 2017, eu ainda estava competindo em um nível bom, mas não estava valendo vaga para a Olimpíada. No final de 2017, tive uma lesão no ombro que me atrapalhou um pouco a ter a mesma performance. A dor a gente está acostumado. Mas quando começa a atrapalhar no esporte é ruim. Eu demorei para me recuperar. Foi mais no ano passado mesmo que eu consegui treinar com mais calma e consegui me reencontrar. Foi um ciclo conturbado, mas também foi de superação. Então estou tranquilo e feliz por isso”, diz o atirador.
Wu lembra que ele não foi o único impactado neste ciclo e lembrou o caso do coreano Jongoh Jin, dono de oito medalhas olímpicas (quatro de ouro, duas de prata e quatro de prata) nos Jogos de Atenas 2004, Pequim 2008, Londres 2012 e Rio 2016 na pistola de ar de 10 metros e na pistola de 50 metros e que também não avançou a final em Tóquio, terminando a fase de classificação na 15ª posição.
Copa do Mundo
Virada a página dos Jogos de Tóquio, Felipe Wu já olha para frente e planeja seguir empenhado no esporte para, no próximo ciclo, chegar a um resultado inédito na carreira.
“No tiro tem uma peculiaridade. Geralmente o Campeonato Mundial começa a distribuir vaga para a Olimpíada. Mas o Campeonato Mundial que estava marcado para ser na Rússia no ano que vem foi postergado porque a Rússia está punida. Então, provavelmente, o tiro esportivo só vai começar a distribuir vaga um ano antes da Olimpíada. Então ainda não sabemos muito bem. Mas independentemente do que for ser feito a próxima meta de resultado para mim é o Campeonato Mundial. É a única medalha do tiro olímpico que eu não tenho e é uma coisa que eu quero bastante. É muito mais difícil que a Olimpíada, são mais atletas, o nível é maior, mas esse é o meu objetivo daqui para frente”, revela.
Luiz Roberto Magalhães – De Tóquio, no Japão – rededoesporte.gov.br