Atletismo paralímpico
Atletismo
Odair Santos repete a prata de Londres nos 1.500m. Terezinha queima a largada: "Perdi para mim mesma"
Conquistar nove medalhas paralímpicas é feito digno de reconhecimento histórico. A última, vencida na Rio 2016, repetiu a cor de Londres-2012 na mesma prova: prata nos 1.500m, classe T11 (cegos). Odair Santos conquistou a única medalha do atletismo na sexta noite dos Jogos Paralímpicos, no Estádio Olímpico Nilton Santos, nesta terça (13.09), mas deixou a frustração de não ter o primeiro ouro da coleção, que escapou nos últimos 50 metros.
Assim como nos 5.000m, prova na qual Odair trouxe a primeira medalha brasileira dos Jogos em casa, ele perdeu para o mesmo adversário: o queniano Samwel Muchai Kimani, com a mesma estratégia: aumentar o pique na última volta. O brasileiro passou na frente na marca dos 700m e 1.100m. A diferença no tempo dos dois reflete o quanto o brasileiro ficou próximo do ouro, pois foram seis décimos de diferença (4min03s25 x 4min03s85). O bronze foi para o turco Semih Deiz.
Odair não escondeu a frustração por deixar escapar o ouro tão perto da linha de chegada, mas se sentiu satisfeito pela prata em uma prova para a qual ele não tinha se preparado tanto. "Não treinei para ela este ano devido a algumas lesões. Então fico feliz de ter conquistado mais uma medalha paralímpica nesta prova. Claro, o intuito é o ouro, mas nem sempre as coisas acontecem da forma que a gente imagina", afirmou.
"Independentemente de ter conquistado ouro ou não, duas medalhas não se conquista todo dia. A nona então, nem se fala. Tenho plano agora de treinar muito. Se Deus quiser, vou para Tóquio 2020"
Odair Santos
Odair se referiu a apenas um dos vários obstáculos. Também sofreu com uma lesão na coxa direita que o impediu de correr na final dos 5.000m em Londres-2012. Ao longo do ciclo, ainda lidou com uma punição que o tirou a medalha do Parapan em Toronto-2015. No Mundial 2015, em Doha, no Catar, uma hipertermia o fez desmaiar na mesma prova de média distância.
Desafios marcam sua vida desde o início. Uma retinose pigmentar começou a tirar a visão do atleta e, aos dez anos, começou a correr por influência de um tio, parando aos 17. Aos 22, na classe T12, começou conquistando medalhas e recordes mundiais até que, em 2010, foi reclassificado para a T11 (perda total da visão). Em seis anos, Odair teve que se readaptar, mais uma vez, à realidade. Na nova classe, tornou-se recordista mundial nos 800m (1m58s47).
Ao lembrar disso tudo, Odair se sente melhor com as duas pratas conquistadas na Rio-2016, e já pensa no futuro. "Independentemente de ter conquistado ouro ou não, duas medalhas não se conquista todo dia. A nona então, nem se fala. Tenho plano agora de treinar muito, até mais do que ele (o queniano), para surpreender nas próximas provas. Se Deus quiser, vou para Tóquio 2020", contou.
Passo em falso
A decepção de perder o ouro ganha força maior para Terezinha Guilhermina. Por queimar a largada na final dos 200m T11, a atleta acabou desclassificada e viu a britânica Libby Clegg triunfar novamente. Cenário similar ao dos 100m T11, no qual a brasileira também foi desclassificada e não defendeu seu título de campeã paralímpica, que foi para a mesma rival.
"É caso de rir ou chorar. Não sei se foi azar, mas em 16 anos eu nunca queimei. Essa foi uma situação indelicada. Hoje saio da pista nessas condições: perdi pra mim mesma. Saio como alguém que perdeu""
Terezinha Guilhermina
"É caso de rir ou chorar. Não sei se foi azar, mas em 16 anos eu nunca queimei. Essa foi uma situação indelicada. Hoje saio da pista nessas condições: perdi pra mim mesma. Saio como alguém que perdeu. Só que alguém que perdeu por um erro, né? Não ganhei uma medalha. Poderia ter ganho. Poderia ter feito a minha melhor marca. Estava preparada pra isso, aquecida e concentrada, mas não aconteceu", analisou Terezinha.
Depois das eliminações nas duas provas mais fortes dela, Terezinha aposta as fichas em suas últimas chances de medalha no atletismo da Rio 2016: os 400m T11 e o revezamento 4 x 400m. "O que aconteceu eu não posso mudar. Dei descarga. Vou para a próxima prova livre, leve e solta para fazer melhor do que fiz até agora. Se não acontecer, vou continuar tentando", garantiu a velocista.
Outra campeã paralímpica que esteve em ação hoje foi Shirlene Coelho. No arremesso de peso F37, ela fez a melhor marca pessoal, com 10m91, mas ficou em quarto lugar. A alemã Franziska Liebhardt quebrou o recorde mundial, com 13m96 e garantiu o ouro. No lançamento do dardo F54 feminino, Poliana Jesus foi a quinta colocada, numa prova vencida pela nigeriana Flora Ugwunwa.
Além disso, três dos quatro velocistas campeões paralímpicos pela manhã no revezamento 4 x 100 T11-13 voltaram à pista, todos com mais resultados positivos. Gustavo Araujo fez o quinto tempo nos 400m T13 e estará na final. Daniel Silva (5º) e Felipe Gomes (2º) garantiram vaga nas semifinais ao vencer suas baterias nos 200m T11.
Os três contam que optaram pela mesma estratégia: economizar no esforço e fazer apenas o necessário pela classificação. Para o caso de Felipe, a tática vale para defender seu título paralímpico de Londres-2012. "Estou feliz, meu objetivo era classificar, terminar em primeiro na bateria, mas a gente sabe que ainda está difícil e falta muita coisa, mas o primeiro objetivo a gente já cumpriu. Agora é descansar, porque amanhã tem mais".
Rodrigo Vasconcelos e Leonardo Dalla