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Maratona aquática

15/08/2016 17h32

Maratonas Aquáticas

O bronze herdado que coroa o pioneirismo de Poliana Okimoto

Brasileira ficou em terceiro nos 10km da maratona aquática após eliminação de uma francesa por atitude irregular na chegada. Ela se tornou a primeira nadadora do país a subir ao pódio olímpico

Um quarto lugar que já era histórico, virou pódio e deu a Poliana Okimoto a chance de se tornar a primeira mulher das modalidades aquáticas do Brasil com um pódio olímpico. O resultado veio na prova dos 10km da maratona aquática, disputada em circuito montado na Praia da Copacabana. A atleta brasileira herdou a medalha de bronze após a francesa Aurelie Muller, que seria a terceira colocada, ser desclassificada por "atropelar" a italiana Rochele Bruni (medalha de prata)  na hora de bater na parede que determina a chegada. O ouro ficou com a holandesa Sharon van Rouwendaal, que fechou a prova com 1h55m31s.

"Eu me sinto mesmo pioneira. Lá em 2006, quando conquistei a primeira medalha em mundiais, foi o início de uma era boa. Eu me sinto muito realizada por conta da carreira que tive, muito bonita"
Poliana Okimoto

O pioneirismo é a marca da atleta desde sempre. Ela foi a primeira nadadora brasileira no pódio de uma competição da Federação Internacional de Natação, no Mundial de Maratonas de 2006. Foi a primeira medalhista brasileira no Mundial de Esportes Aquáticos (em Roma, 2009). Foi a primeira maratonista aquática brasileira medalhista em Jogos Pan-Americanos (Rio 2007) e agora acrescentou a expressão olímpica à sua lista de pódios. "É a concretização de um sonho antigo. Eu me sinto mesmo pioneira. Lá em 2006, quando conquistei a primeira medalha em mundiais, foi o início de uma era boa. Eu me sinto muito realizada por conta da carreira que tive, muito bonita", afirmou Poliana, que já tinha saído feliz com a quarta posição.

“Eu saí satisfeita porque dei o meu máximo. Eu fiz a melhor prova da minha vida, leve, me divertindo, e tive a sensação de dever cumprido. São poucas as provas em que a gente sai sabendo que demos o nosso máximo, e quando veio o terceiro foi muito emocionante, comecei a chorar. Eu já tinha ouvido boatos de que talvez a francesa fosse desclassificada, mas não era oficial. Quando estava dando entrevista para uma TV fiquei sabendo do resultado oficial e não consegui segurar as lágrimas”, disse. 

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Poliana levou o Brasil pela primeira vez a um pódio feminino da natação. Foto: Danilo Borges/Brasil2016.gov.br

Tente outra vez

Aos 33 anos, Poliana disputava a prova pela terceira vez. Em Londres-2012, precisou abandonar a prova após hipotermia. “Tudo é vivência e aprendizado. Nos Jogos Olímpicos de Londres eu sai chateada, eu entrei em depressão por vários meses, mas a gente tem que levar como lição, crescer e ser pessoas melhores e atletas melhores”, contou Poliana. Em Pequim, ela havia terminado em sétimo. "Aqui, tudo conspirou a favor. A água estava mais lisa, a temperatura estava mais amena, tudo nas condições perfeitas", afirmou. 

"Tudo é vivência e aprendizado. Nos Jogos Olímpicos de Londres eu sai chateada, eu entrei em depressão por vários meses, mas a gente tem que levar como lição, crescer e ser pessoas melhores"
Poliana Okimoto

Há 11 anos, Poliana trocou as piscinas por provas em águas abertas, mesmo sentindo medo do mar. Com o tempo, foi se adaptando às provas em mar aberto e em 2006 veio a primeira medalha, uma prata na Copa do Mundo. “A primeira vez que nadei em uma prova de mar aberto foi aqui em Copacabana. Um dia antes da prova meu técnico me colocou para treinar. Eu já sentia medo. Eu falava para o meu treinador que não gostava e não queria e ele me obrigou a competir. Nadei 50 metros e voltei chorando porque tinha medo. Mas no dia da prova eu senti a adrenalina da competição, encarei e ainda ganhei”, contou. 

Foi em 2006 que anunciaram que a maratona aquática entraria para os Jogos Olímpicos e este foi um dos incentivos para Poliana continuar. “A partir deste dia eu comecei a nadar todas as provas e a perder o medo. No meu primeiro mundial, em 2006, eu ganhei duas medalhas de prata”. Dez anos depois da primeira prata no mundial, Poliana retorna a Copacabana para a conquista da tão sonhada medalha de bronze. 

“Acho que comecei a acreditar nesta medalha em 2013, quando fui campeã mundial na prova dos 10km. Em 2014 eu tive uma lesão e demorei a voltar. Em 2015, o meu objetivo era conseguir me classificar. Eu acho que construí esta medalha a cada dia e a cada treino. Este ano, cheguei a treinar 100km semanais por causa da Olimpíada. Eu mereci esta medalha, porque lutei muito para estar aqui”, disse.  

Rio 2016 - Maratona Aquática Feminina

Ritmo certo

Poliana fez uma prova de controle. Sempre mantida no primeiro pelotão, ela entrou para o grupo de elite na terceira das quatro voltas, e se manteve entre as cinco primeiras até a linha de chegada. “A experiência conta muito na maratona aquática. Na última volta eu podia ter parado para me alimentar. Eu estava ali em segundo lugar, no pé da holandesa. A experiência ali contou de não ter parado. Fiquei cinco quilômetros sem me alimentar, foi difícil. No ritmo que a prova estava, era complicado. No final, cheguei a sentir a falta de energia e de hidratação, mas acho que foi uma atitude certa que tomei. Se eu tivesse parado, não teria encaixotado ali e talvez não teria conseguido esta medalha”, contou Poliana.  

A outra brasileira na disputa, Ana Marcela Cunha, teve problema em duas tentativas de conseguir pegar a alimentação ao longo da prova. Uma vez uma adversária esbarrou em seu braço. Na outra, deixou escapar o gel que repõe as energias perdidas. Assim, acabou fechando em décimo lugar, com 1h57min29.

"Fiquei triste. Dei tudo de mim, tudo o que podia, mas realmente não é um resultado digno de todos que me acompanharam nessa preparação", disse Ana Marcela, que vinha de resultados expressivos no circuito mundial e era uma das esperanças de medalha do país na prova. 

Michelle Abílio –brasil2016.gov.br