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Atletismo

18/09/2016 03h43

Natação

Ícone da profissionalização paralímpica, Clodoaldo se aposenta

Nadador deu as últimas braçadas em competições oficiais neste sábado. Ele se aposenta as piscinas com o legado de 14 pódios paralímpicos e uma visibilidade que moldou novas gerações

"Eu pude começar no esporte olhando você competir. Meu muito obrigado, Clodoaldo. Todos nós temos que agradecer muito por tudo o que já fez pelo esporte paralímpico". A frase de Daniel Dias, maior medalhista da história da natação paralímpica, com 24 pódios, resume bem a relevância de Clodoaldo Silva.

Um dos maiores ídolos brasileiros das piscinas, Clodoaldo Silva, conhecido como Tubarão, anunciou oficialmente a aposentadoria no último dia de provas da Rio 2016. Após participar de quatro edições dos Jogos, o atleta se despediu ovacionado pela torcida do Estádio Aquático e pela delegação brasileira.

Clodoaldo foi homenageado por integrantes da delegação brasileira. Foto: Miriam Jeske/Brasil2016.gov.br

Foi um sábado diferente na vida do potiguar de 37 anos. Pela manhã, Clodoaldo se classificou para a final do 100m livre, classe S5, com 1min20s16, na sétima colocação geral. Na mesma prova, brigando pelo ouro paralímpico, estava Daniel Dias.

"Até anteontem eu sabia da validade da minha carreira dentro da piscina, mas estava vivendo um dia após o outro. Mais perto da última prova, a ficha caiu. Foi até difícil dormir esta noite, foi difícil nadar a eliminatória. Entrar com toda a torcida gritando o meu nome é algo inexplicável"
Clodoaldo Silva

Às 19h22, Clodoaldo foi e voltou na piscina paralímpica pela última vez. O atleta terminou em 1min20s80, na oitava colocação. Daniel faturou o ouro. "Eu sabia do prazo de validade da minha carreira dentro da piscina, mas estava vivendo um dia após o outro. Mais perto da última prova, a ficha caiu. Foi até difícil dormir esta noite, foi difícil nadar a eliminatória. Entrar com toda a torcida gritando o meu nome é algo inexplicável", disse Clodoaldo, com lágrimas nos olhos.

O atleta foi homenageado pela delegação brasileira, deu volta olímpica em torno da piscina, tirou dezenas de fotos, foi presenteado com um Tom assinado pelos colegas da seleção e no fim, ganhou um abraço especial da filha Anita, de quatro anos, que aguardava pelo pai na arquibancada.

"Neste momento eu quero tirar férias. Foi um ciclo complicado. Eu fiquei muito longe da minha família, da minha filha, dos meus parentes em Natal. Eu quero parar e tirar férias e curtir minha filha Anita".

Carreira

Clodoaldo começou na natação em 1996, em Natal. Quatro anos depois, conquistou as primeiras medalhas em Jogos Paralímpicos, três de prata e uma de bronze, em Sidney. Em Atenas 2004, o Tubarão voltou para o Brasil no auge da carreira, com seis ouros e um bronze. Em Pequim 2008, uma prata e um bronze. Aqui no Brasil, uma prata no 4 x 50m livre misto até 20 pontos. Ao todo 14 medalhas.

"Em 2004, em Atenas, o Brasil conseguiu 14 medalhas de ouro e começou a ter investimento e mais visibilidade. Depois dali, surgiram projetos para incentivar crianças e adolescentes a praticarem esporte. Hoje, temos as Paralimpíadas escolares que são as maiores do mundo. E com isso surgem grandes talentos em todas as modalidades. Fico feliz porque tudo começou em Atenas e colaborei", afirmou.

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Clodoaldo ao lado de Daniel Dias. Juntos na mesma final na despedida do tubarão. Foto: Miriam Jeske/Brasil2016.gov.br

Pira paralímpica

Após Londres 2012, o nadador pensou em parar de competir, mas resolveu apostar em mais um ciclo. Foi responsável por um dos momentos mais emocionantes dos Jogos ao ser escolhido para acender a tocha paralímpica na Cerimônia de Abertura. "Eu tinha o pensamento de parar em Londres, mas recebi até ameaças de morte para não parar", brincou Clodoaldo.

"Minha filha também nasceu neste ciclo, e um ciclo paralímpico requer muito tempo e dedicação. Eu que estou com duas hérnias de discos e muitas vezes tinha que treinar com dor, passei por cima de tudo porque imaginava que seria bom terminar no Brasil. Mas nem nos meus melhores sonhos eu imaginava que seria tão bom, que seria inexplicável. Ter uma torcida inteira, uma arquibancada lotada gritando o meu nome. Poder acender a pira foi inexplicável. Nem nos meus melhores sonhos eu imaginava que um dia estaria aqui brilhando no esporte paralímpico e que ele fosse se consolidar no país", completou.

A inspiração de Daniel Dias

Ao ver, pela TV, as braçadas de Clodoaldo, Daniel Dias se inspirou e foi parar na natação. Hoje, Daniel e Clodoaldo fizeram a última competição juntos. "Isso foi incrível. Sou um cara agraciado por Deus por viver este grande momento ao lado do Clodoaldo. Antes de a gente entrar na prova eu conversei com ele e a gente até chorou. Para mim é uma honra nadar uma final com ele, no último dia de provas da natação", contou Daniel, que acabou com o ouro nos 100m livre.

A medalha de prata

O Tubarão terminou a prova na oitava colocação, mas na semana anterior, dia 9 de setembro, ao lado dos companheiros e amigos Daniel Dias, Susana Schnarndorf e Joana Neves, a equipe foi prata no revezamento 4 x 50m livre misto até 20 ponto.

"Eu sempre nado para conseguir melhorar. Meu objetivo é fazer o melhor, vindo uma medalha ou não. Eu tenho a sorte de ter conquistado uma prata. Qualquer que seja a cor, é medalha. Só com o acendimento da pira eu já estaria feliz e realizado. Sair com a medalha aqui no Brasil é muita emoção", finalizou.

Michelle Abílio – Brasil2016.gov.br