Halterofilismo paralímpico
Halfterofilismo
Mais forte do mundo? Iraniano quer levantar 300kg e fazer história no Rio 2016
Imagine carregar, de uma só vez, o peso de cinco máquinas de lavar das grandes, ou quatro fogões de quatro bocas. Para isso, o treino envolve o levantamento, por dia, de 19 carros como o Ônix, o mais vendido do Brasil. Pode parecer irreal, mas essas são, respectivamente, a meta e o esforço diário do iraniano Siamand Rahman (categoria +107kg), que chega aos Jogos Paralímpicos Rio 2016 determinado a fazer história no halterofilismo.
"O que mais me motiva é honrar e representar a minha pátria. Eu vejo pessoas deficientes iguais a mim que sofriam por isolamento, com depressão. Quando eles me veem, eu sou motivo de inspiração. Isso me dá força"
Siamand Rahman
Basta olhar para ele para desconfiar que ali pode estar um dos homens mais fortes do mundo. Siamand quer bater a marca dos 300kg ou até superá-la. Motivos para acreditar no sucesso da empreitada não faltam: o iraniano bateu o recorde mundial oito vezes em dois anos. A última foi na etapa de Dubai da Copa do Mundo, nos Emirados Árabes Unidos, em fevereiro de 2016, quando levantou 296kg. Detalhe: o segundo lugar ficou com a marca de “apenas” 226kg, 70kg a menos que ele. Naquela competição, seu peso corporal era de impressionantes 187,87kg. O iraniano é ainda o atual campeão paralímpico (na então categoria +100kg), e também o mais recente campeão Mundial.
19 toneladas
Quando Siamand diz que treina pesado, não há exagero. Para isso, o foco tem de estar totalmente nas barras e anilhas. “Durante os treinos, não consigo me concentrar em mais nada. Todos os dias eu levanto quase 19 toneladas”, conta o estudante de Direito, que também precisa dedicar tempo aos estudos.
O iraniano explica que a alimentação é controlada e que, no Brasil, teve que adaptar o cardápio. “Muitas pessoas me veem e acham que eu como de tudo, mas sigo uma dieta especial. Lá no Irã, a comida é diferente. Aqui estou tentando comer alimentos que são mais próximos da culinária iraniana, que possuem carne moída, pedaços de frango, arroz. A forma de preparo é diferente e nunca vai ser como a nossa comida lá, mas a gente dá um jeito”, afirma.
Superando o ídolo
A inspiração para investir no esporte veio de um compatriota: Kazem Rajabigolojeh já havia sido campeão em Atenas 2004, mas encheu os olhos de Siamand em Pequim 2008 com outro ouro. Siamand só não imaginava que o principal adversário do campeão seria, em pouco tempo, ele mesmo.
“Acompanhei os Jogos Paralímpicos de Pequim e, na minha categoria, tinha um outro atleta muito forte, o Kazem Rajabigolojeh. Eu o via e sonhava em ser igual a ele, mas o mais impressionante foi que, poucos meses depois, eu superei o meu próprio ídolo”, conta.
Aos 28 anos, Siamand é uma referência no halterofilismo mundial e, sobretudo, um exemplo em seu país. “O que mais me motiva é honrar e representar a minha pátria e dar alegria para o povo iraniano. Eu vejo pessoas deficientes iguais a mim que sofriam por isolamento, com depressão. Quando eles me veem, eu sou motivo de inspiração, eu os faço sair de casa e ir até a academia. Talvez não precisem tornar-se atletas como eu, mas sei que posso inspirar e isso me dá força”, diz.
Garoto propaganda
A reportagem do brasil2016.gov.br conversou com Siamand em uma sala no piso térreo do edifício que o Irã ocupa na Vila Paralímpica. O local foi decorado com fotos e objetos que revelam algumas belezas do país, incluindo um quadro feito com o material dos famosos tapetes iranianos e que mostra os mapas de Irã e Brasil e o símbolo dos Jogos Paralímpicos, um presente para a prefeita da Vila, a ex-jogadora de basquete brasileira Janeth Arcain. Em cima da mesa, folhetos contavam um pouco da história de Siamand e a frase “Poder é aqui”.
De acordo com Masoud Ashrafi, secretário geral do Comitê Paralímpico Iraniano, Siamand, que foi vítima de poliomelite, é um dos principais nomes da delegação, que conta com 111 atletas de 12 modalidades. O perfil deles é bem diferente dos primeiros atletas paralímpicos do país.
“Os atletas pioneiros eram vítimas da guerra Irã-Iraque (conflito que ocorreu ao longo dos anos 1980), e foi assim até 2000. Após os Jogos de Sydney, esses atletas começaram a se aposentar, e aí a gente começou a mudar a nossa política para poder atrair novos atletas com outras deficiências. Dos 111 atletas, apenas dois ainda são vítimas da guerra. Hoje temos mais atletas com deficiência intelectual e paralisia cerebral, seguidos por paraplégicos e amputados por acidentes de trabalho ou trânsito”, explica.
O objetivo da equipe, segundo Ashrafi, é chegar às melhores performances na competição, sem uma meta de medalhas. Mas a expectativa para a prova de Simand Rahman, marcada para 14 de setembro no Pavilhão 2 do Riocentro, é grande.
“Siamand é o mais forte do mundo, acabou virando um dos símbolos do esporte iraniano e do comitê paralímpico. Ele está decidido a superar a barreira dos 300kg e a gente espera que isso aconteça”, diz.
Carol Delmazo, brasil2016.gov.br