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Tenis de mesa

28/04/2019 14h30

Budapeste 2019

Ma Long confirma tricampeonato em sequência e inscreve o nome no hall dos "imortais" do tênis de mesa

Atleta chinês venceu a final do Mundial contra o sueco Mattias Falck e chegou ao tri consecutivo e o sexto pódio em sequência. China leva os cinco ouros do torneio

Mundial de Tênis de Mesa 2019

Qual a fronteira que separa um campeão de um ídolo? Um atleta especial da etiqueta de mais competitivo das últimas décadas? Um desempenho ótimo de um que lance o protagonista na lista dos "imortais" de um esporte? O chinês Ma Long, de 30 anos, segue instigando torcedores, analistas e amantes de tênis de mesa a buscar essas respostas. Neste domingo (28.04), na Arena do Hungexpo, em Budapeste, Ma Long escreveu uma última página no Mundial de Tênis de Mesa de 2019 que pontua alguns argumentos relevantes para responder a esses questionamentos.

 

Na final diante do sueco Mattias Falck, Ma Long foi novamente hegemônico. Fechou a partida em 50 minutos, com 4 sets a 1 (11/5, 11/7, 7/11, 11/9 e 11/5). Uma superioridade que já havia sido vista nas últimas três partidas, diante do ótimo chinês Liang Jingkun, nono do mundo, na semifinal (4 a 1). Ou do número três do mundo, Lin Gaoyuan, batido por 4 a 0 nas quartas. Ou ainda do brasileiro Hugo Calderano, sétimo da lista da ITTF, vítima nas oitavas por 4 a 1. Ou o talentoso norte-americano Jha Kanak, também superado por 4 a 1 na fase anterior.

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'All in' para Ma Long: um campeão acima de todas as discussões. Foto: Abelardo Mendes Jr./ rededoesporte.gov.br

Ma Long parece ter alcançado um nível de domínio sobre técnica, preparo físico e, principalmente, dos fundamentos mentais que envolvem o xadrez do tênis de mesa, que não encontra no momento adversário à altura. Num vídeo promocional feito pela Federação Internacional de Tênis de Mesa (ITTF), ele diz uma frase simbólica: "Conheça seu oponente. Entenda o que ele quer". E é isso. Ma Long sempre parece um passo à frente. Um movimento adiante. E acima de qualquer pressão que uma partida de grande relevância possa gerar.

"Como integrante da seleção chinesa você tem de saber jogar sob pressão porque sabe das marcas alcançadas pelos que vieram antes. Eu quero continuar essa tradição. Não estou interessado só em vencer, mas em conquistar respeito"
Ma Long

"Como integrante da seleção chinesa você tem de saber jogar sob pressão porque você sabe das marcas alcançadas pelos que vieram antes. Eu quero continuar essa tradição e é por isso que tento sempre o meu melhor em cada torneio. Na verdade, acho que a pressão, para mim, foi maior em 2017, porque eu era o líder do ranking. Agora sou o décimo primeiro. Mas sabia que essa poderia ser minha última chance de vencer um título mundial, então me forcei o tempo todo para dar o melhor", disse Ma Long. "Quero agradecer os torcedores chineses e também os estrangeiros pelo apoio. Eu não estou interessado apenas em vencer títulos, mas em conquistar o respeito deles", disse.


Currículo incomparável

É até repetitivo listar as conquistas de Ma Long. Com a vitória em Budapeste, ele rompeu uma barreira que não tinha paralelo desde os anos 1960: venceu as últimas três edições do Mundial (2019, 2017 e 2015). A última vez que isso tinha ocorrido foi com o chinês Zhuang Zedong, que venceu os mundiais individuais de 1961 (Pequim, na China), 1963 (Praga, na antiga Tchecoslováquia) e 1965, em Liubliana (na Eslovênia). Antes deles, há apenas um registro entre os homens: o húngaro Victor Barna colecionou quatro ouros consecutivos nos longínquos anos 1930 (1932, 1933, 1934 e 1935).  

Não fosse suficiente o tri em sequência no principal palco da modalidade, tem mais nesse currículo. Nos Jogos Olímpicos Rio 2016, Ma Long conquistou a medalha de ouro individual e por equipe. Quatro anos antes, em Londres, 2012, não conseguiu vaga no individual mas foi ouro por equipes. Liderou o ranking mundial de forma ininterrupta entre março de 2015 e fevereiro de 2018. Colecionou títulos de mais de 25 etapas do circuito internacional.

Segue o fio: de 2006 até hoje, integrou a equipe chinesa vencedora do Mundial por sete vezes. Em mundiais individuais, além dos três ouros, foi semifinalista (bronze) em 2013, 2011 e 2009. Isso significa subir ao pódio nas últimas seis edições em sequência, um feito inédito desde que a competição passou a ser disputada a cada dois anos.

"É merecido demais. Para muitos, pode ser sim o maior de todos os tempos. Tricampeão mundial, ouro olímpico, campeão da Copa do Mundo. Ganhou tudo o que é possível", afirmou Hugo Hoyama, ex-atleta e técnico da seleção brasileira feminina de tênis de mesa. "A China é a grande potência do tênis de mesa mundial. Para brigar contra eles, precisamos trabalhar com ambição", completou Francisco Arado, o Paco, técnico da seleção brasileira masculina de tênis de mesa. 

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Mattias Falck: estilo único levou a Suécia a uma final 22 anos depois. Foto: Abelardo Mendes Jr./ rededoesporte.gov.br

Um oponente "único"

Mattias Falck não levou o título, mas sai de Budapeste com a sensação de ter vivido uma semana inesquecível. Dono de um estilo único, ele usa pinos no forehand, em vez da borracha lisa de quase todos os concorrentes. O expediente muda um pouco da lógica das partidas. Faz ele ser capaz de acelerar muito nos ataques e contra-ataques. Depende menos de efeito. Tira o tempo de reação dos rivais. E assim construiu um caminho em que eliminou vários bons jogadores na trajetória até a decisão e fez uma final em que teve vários momentos de igual para igual.

"Eu acho que essa é a melhor performance da minha carreira e foi um torneio fantástico para mim. Eu só preciso de mais um ano para ser ainda maior do que isso. O Ma Long é um jogador esperto, que muda muito em um jogo e não tem fraquezas. Eu tenho de melhorar minha tática e ser ainda mais agressivo na próxima vez que encontrar ele", afirmou Mattias Falck.

"Eu acho que essa é a melhor performance da minha carreira e foi um torneio fantástico para mim. Eu só preciso de mais um ano para ser ainda maior do que isso de novo"
Mattias Falck

O próprio Ma Long fez questão de elogiar o rival da decisão. "Eu acho que ele melhorou muito desde o último ano, quando tivemos um outro jogo. Ele é um atleta raro com seu estilo de jogo. É muito forte taticamente e mentalmente e penso que será um rival importante para nós no futuro", disse o tricampeão.

No caminho para a prata, Mattias superou na estreia o húngaro Adam Szudi (136º), por 4 a 1. Na sequência, deixou para trás o austríaco Robert Gardos (48º), por 4 a 2. O português Tiago Apolónia (54º) foi a vitima na fase de 32 atletas, batido por 4 a 0. Nas oitavas, uma batalha contra o sul-coreano Lee Sangu, top ten do mundo (sexta posição), e vitória por 4 a 1. Nas quartas, tirou do caminho Simon Gauzy (4 a 1). O francês vinha embalado por ter eliminado, na rodada anterior, o chinês Xu Xin, 2º do mundo. E na semifinal encerrou o conto de fadas do sul-coreano An Jaehyun. O asiático de 19 anos, 157º do mundo, foi um dos nomes em Budapeste. Veio do qualifying e ganhou oito partidas seguidas até a semifinal do primeiro Mundial de que participou. Numa maratona de 4 sets a 3, Falck garantiu o passaporte para a decisão.

Mais do que uma conquista individual, a final de Falck marcou o retorno de um atleta da Suécia a uma decisão de Mundial individual 22 anos depois. Um vácuo deixado pela geração de ouro escandinava, capitaneada por Jan-Ove Waldner e Jörgen Persson, que fez frente à hegemonia chinesa e conquistou mais de 15 pódios em Mundiais individuais e de equipe nos anos 1980 e 1990, com direito a dois títulos de Waldner (1989 e 1997) e um de Persson (1991).

Persson, aliás, é o técnico de Falck. Como Ma Long recebe instruções de Liu Guoliang, presidente da Federação Chinesa de Tênis de Mesa e mentor informal dos atletas, os dois tinham ao dispor figuras com a experiência de ter vivido exatamente a situação que estavam experimentando na final em Budapeste. "Felizmente para nós dois, fomos preparados para o jogo por dois campeões mundiais anteriores, e isso fez o duelo ainda mais representativo para nós. Mostrou o tanto que havia em jogo", avaliou Ma Long.

China de A a Z

O título de Ma Long foi o penúltimo capítulo do Mundial. Depois da decisão de simples, o programa ainda reservava a final de duplas femininas. E, por um instante, pareceu haver esperança para o resto do mundo. Pareceu que pelo menos um dos cinco ouros em disputa não ficaria com os chineses. Só parecia. As japonesas Hina Hayata e Mima Ito chegaram a abrir 2 sets a 0 na disputa contra as jovens Sun Yingsha, ouro nos Jogos Olímpicos da Juventude de Buenos Aires em 2018, e Wang Manyu, terceira do ranking mundial. Nos sets seguintes, contudo, as chinesas foram implacáveis. Venceram as quatro parciais e asseguraram o título por 4 a 2 (8/11, 3/11, 11/8, 11/3, 12/10 e 11/8, em 54 minutos de partida.

"Meu raciocínio é o seguinte: eu sempre espero que o melhor ganhe, embora a gente torça por alguma surpresa. Não dá para ficar chateado pelos chineses. Eles se dedicam mais, se esforçam mais, treinam mais"
Thiago Monteiro, atleta da seleção brasileira

O resultado selou, então, a campanha 100% do país asiático. Campeões nas duplas femininas. Campeões no individual masculino. E, nos dias anteriores, vencedores no individual feminino, com Liu Shiwen. Ouro na dupla masculina, com Ma Long e Wang Chuqin. E ouro na dupla mista, com Xu Xin e Liu Shiwen. Isso fora uma medalha de prata no individual feminino, um bronze no individual masculino, dois no feminino e mais três bronzes nas duplas: cinco ouros, uma prata e seis bronzes.

Para o resto do mundo, restou comemorar a entrada de duas novas nações na lista de medalhistas em mundiais, as duas da Península Ibérica. E ambas nas duplas masculinas. Os portugueses João Monteiro e Tiago Apolónia ficaram com o bronze e o espanhol Alvaro Robles, que fez parceria com o romeno Ovidiu Ionescu, chegou à final, o que significou pódios inéditos para Portugal e Espanha.

"Meu raciocínio é o seguinte: eu sempre espero que o melhor ganhe, embora a gente torça por alguma coisa diferente. Não dá para ficar chateado pelos chineses. Eles se dedicam mais, se esforçam mais, treinam mais. Sempre tem a questão da surpresa, e acho que esse Mundial teve algumas, em especial com Portugal e Espanha no pódio e com a campanha do sul-coreano no individual masculino", avaliou Thiago Monteiro, de 37 anos, um dos integrantes da seleção brasileira na competição.

Hugo Calderano: nona colocação é a melhor dele em quatro participações em mundiais individuais. Foto: Abelardo Mendes Jr./ rededoesporte.gov.br

Calderano em nono

O resultado final do Mundial teve um efeito colateral benéfico para o brasileiro Hugo Calderano. Como o atleta brasileiro foi eliminado nas oitavas de final pelo campeão Ma Long, automaticamente termina o torneio em nono lugar, o melhor resultado do atleta carioca de 22 anos em quatro participações, e compatível com sua posição atual, de sétimo colocado no ranking mundial.

Outros três atletas que estão perto dele na listagem tiveram performances significativas, e devem subir degraus no ranking a ser divulgada no início de maio. Liang Jingkun, 9º, Ma Long, 11º, e Mattias Falck, 16º, chegaram às fases decisivas e certamente vão acumular pontos. Como Ma Long defendia o título, menos que os outros. Hugo, que caiu na fase de 32 em 2017, também acumula pontos importantes. 

Ao todo, o Brasil participou da competição em Budapeste com uma delegação de oito atletas, sete deles atualmente integrantes do Bolsa Atleta, programa da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania. O investimento federal no grupo é de 274 mil por ano. Jéssica Yamada, assídua como bolsista entre 2010 a 2017, é a única que não está atualmente vinculada.

No ciclo olímpico atual rumo aos Jogos de Tóquio, o tênis de mesa já teve 395 atletas contemplados pelo programa, com R$ 5,6 milhões em investimentos. Atualmente, há 247 inscritos, com 125 atletas olímpicos, 112 paralímpicos e outros dez no Bolsa Pódio (Calderano e nove esportistas paralímpicos).

No torneio húngaro, o Brasil colecionou indicadores do crescimento do esporte. Pela primeira vez na história, sete atletas do país chegaram à chave principal do torneio. Mais do que isso, o fato de o país ter classificado cinco atletas a uma chave principal individual masculina deixou o Brasil ao lado de outras cinco nações que conseguiram o mesmo feito em 2019: Japão, China, Coreia do Sul, Suécia e Alemanha.

Galeria de fotos (imagens disponíveis para download em alta resolução e uso editorial gratuito. Crédito: Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br)

Mundial de Tênis de Mesa 2019

RESULTADOS FINAIS

Individual masculino
Campeão: Ma Long (China)
Vice-campeão: Mattias Falck (Suécia)
Terceiros lugares:
Liang Jingkun (China)
An Jaehyun (Coreia do Sul)

Individual feminino
Campeã: Liu Shiwen (China)
Vice-campeã: Chen Meng (China)
Terceiros lugares:
Wang Manyu (China)
Ding Ning (China)

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Pódio das duplas masculinas, com Portugal e Espanha estreando no hall dos medalhistas em mundiais: boa surpresa. Foto: Abelardo Mendes Jr./ rededoesporte.gov.br


Dupla masculina

Campeões: Ma Long e Wang Chuqin (China)
Vice-campeões: Alvaro Robles (Espanha) e Ovidiu Ionescu (Romênia)
Terceiros lugares:
Liang Jingkun e Lin Gaoyuan (China)
João Monteiro e Tiago Apolónia (Portugal)

Dupla mista
Campeões: Xu Xin e Liu Shiwen (China)
Vice-campeões: Maharu Yoshimura e Kasumi Ishikawa (Japão)
Terceiros lugares:
Fan Zhendong e Ding Ning (China)
Patrick Franziska e Petrissa Solja (Alemanha)

Dupla feminina
Campeãs: Sun Yingsha e Wang Manyu (China)
Vice-campeãs: Hina Hayata e Mima Ito (Japão)
Terceiros lugares:
Honoka Hashimoto e Hitomi Sato (Japão)
Chen Meng e Zhu Yuling (China)

Gustavo Cunha, de Budapeste, na Hungria - rededoesporte.gov.br