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18/03/2014 10h38

Marcos Daniel relembra partida histórica contra Roger Federer

Capitão da equipe masculina de tênis nos Jogos Sul-Americanos, brasileiro conta como foi enfrentar o suíço em 2005, na Tailândia

Santiago - Os Jogos Olímpicos do Rio 2016 darão aos brasileiros uma oportunidade única de acompanhar de perto lendas de diversos esportes. Para os amantes do tênis, a torcida é para que um jogador, em particular, possa competir na capital fluminense: o suíço Roger Federer, que já declarou que pretende disputar os Jogos no Brasil.

Dono de 17 títulos de Grand Slam - o grupo dos quatro torneios de tênis mais importantes do mundo, do qual fazem parte o Aberto da Austrália, Roland Garros, Wimbledon e US Open -, um recorde absoluto, Federer extrapolou as fronteiras das raquetes e se tornou uma das maiores nomes dos esportes em todos os tempos. Mas como o suíço nunca disputou um torneio oficial no Brasil, os Jogos do Rio 2016 podem ser a última chance que milhares de brasileiros terão de vê-lo em ação ao vivo.

Nesse sentido, um gaúcho pode se orgulhar de ter uma história bem particular para contar quando o assunto é Roger Federer. Aos 36 anos, Marcos Daniel atuou nos Jogos Sul-Americanos do Chile 2014 (competição na qual o Brasil, no tênis, ganhou o ouro de simples, com Paula Gonçalves e o bronze nas duplas, com Paula Gonçalves e Laura Pigossi) como o capitão da equipe masculina. E, em Santiago, ele recordou, a pedido do Portal Brasil 2016, um dos momentos mais marcantes de sua carreira como jogador: o duelo que fez com Federer, em 2005, na Tailândia.

Luiz Roberto Magalhães/Portal Brasil 2016
Luiz Roberto Magalhães/Portal Brasil 2016#Marcos Daniel observa a partida que fez contra Roger Federer no computador: momento inesquecível da carreira do gaúcho
Marcos Daniel observa a partida que fez contra Roger Federer no computador: momento inesquecível da carreira do gaúcho

Como tenista, Marcos Daniel atuou entre 1997 e 2011 e chegou à posição de 56 do ranking mundial em 2009, sua melhor colocação na carreira. Em 2005, no ATP de Bancoc, na Tailândia, o gaúcho de Passo Fundo viveu uma das experiências mais intensas nas quadras: enfrentar Roger Federer em um torneio profissional. Daquela partida, Marcos Daniel ainda hoje, quase 10 anos depois, tem memórias muitos vivas.

O brasileiro, que hoje é um dos sócios da ADK Tennis, em Itajaí (SC), um centro de treinamento que conta com 130 crianças, jovens e tenistas profissionais como Rogério Dutra  Silva, Thiago Fernandes e Bruno Sant´anna, entre outros, havia acabado de fazer, em 2005, uma final de um challenger (torneio profissional de médio porte) em Sevilha, na Espanha, quando descobriu que tinha garantido vaga para a chave principal do ATP de Bancoc.

"Na época, eu era número 133 do mundo. Eu estava em Frankfurt, no aeroporto, quando descobri que tinha entrado na chave em Bancoc. Aí, na sala da Lufthansa, um italiano que estava viajando comigo olhou a chave e disse: 'Você viu com quem vai jogar?´ Eu disse: ´Não´ e ele disse: `Com o Federer!"

Marcos Daniel se recorda de que assim que soube quem era o rival sentiu algo estranho. "Na hora senti uma emoção diferente. Deu um frio na barriga mesmo", declarou. "Quando nós nos enfrentamos, ele estava jogando em um nível altíssimo, quase imbatível, e a primeira coisa que eu pensei foi: ´caramba, vou jogar com um cara que é o maior da história, uma lenda´", lembrou Marcos Daniel.

De fato, Federer já era um mito quando enfrentou o brasileiro. E, em 2005, o suíço vivia um ano particularmente iluminado. Quando chegou em Bancoc, Federer era o número 1 do mundo e vinha de 26 vitórias seguidas no circuito, que lhe renderam os títulos de Halle, de Wimbledon, do Masters Series (hoje Masters 1.000) de Cincinnati e do US Open. Antes dessas conquistas, o suíço já tinha erguido, naquela mesma temporada, os troféus em Doha, Rotterdan, Dubai, no Masters Series de Indian Wells (EUA), no Masters Series de Miami e no Masters Series de Hamburgo.

Ciente de que teria que fazer seu melhor para não ser atropelado por Federer, Marcos Daniel tratou de ir treinar assim que chegou a Bancoc. "Mas aí, depois, fui ver o Federer treinar. Quando vi a facilidade com que ele batia, na hora pensei que iria levar dois pneus. O cara parecia que estava jogando ping pong com uma raquete de tênis de tão fácil que era para ele."

Mexicana e raquete no chão

A partida entre Marcos Daniel e Federer foi marcada para a rodada noturna do torneio. E, desde o início, o brasileiro tratou de não se deixar intimidar. "Antes do jogo, senti de novo aquele frio na barriga. Sabia que teria que lutar a cada ponto, pois se ele começasse já quebrando o meu serviço aí a vaca iria pro brejo rapidinho", recordou.

"Apesar de tudo o que aquela partida envolvia, de eu estar ali com o Federer, o número 1 do mundo, consegui controlar as emoções e fiz um jogo muito bom. O primeiro set foi sem quebra até o 5/5, quando ele me quebrou. Aí, na sequência, eu quebrei o saque dele e o jogo foi para o tie-break". Federer venceu o desempate por 7/4 e, depois, fechou o duelo com um triunfo por 6/4 no segundo set. Depois, sagrou-se campeão em Bancoc, derrotando o britânico Andy Murray na final, por 2 x 0 (6/3 e 7/5).

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Shutterstock#Roger Federer: A torcida dos brasileiros é para que a lenda suíça possa estar no Rio para os Jogos Olímpicos de 2016
Roger Federer: A torcida dos brasileiros é para que a lenda suíça possa estar no Rio para os Jogos Olímpicos de 2016

Na verdade, o jogo entre Marcos Daniel e Federer foi tão equilibrado que a partida foi marcada por dois lances muito raros. O primeiro foi logo no terceiro game do confronto, quando o duelo estava empatado em 1/1. Com um voleio incrível, Marcos Daniel ganhou o ponto com uma jogada muito pouco comum de ser vista: a mexicana ou ziquizira, como é chamado no Brasil o lance em que o efeito da bolinha é tão grande que ela quica na quadra do rival e retorna para a quadra de quem a rebateu de inicio.

O outro lance inusitado ocorre no segundo set, quando o confronto estava empatado em 3/3. Irritado com sua atuação, Federer arremessou sua raquete com toda força ao chão e por pouco não a destruiu em quadra, uma reação que o suíço, sempre muito controlado, raramente protagonizou na carreira. O Portal Brasil 2016 teve acesso às imagens da partida entre Marcos Daniel e Federer e fez uma edição do jogo, com momentos marcantes do primeiro e segundo sets. Os dois lances citados acima podem ser vistos no vídeo.

"Fiquei feliz porque consegui jogar bem contra ele. Naquela partida aconteceu até um lance que é raro para o  Federer. Ele quase quebrou a raquete no segundo set de tão irritado. Imagina, o Federer jogando a raquete no chão em um jogo comigo...", diverte-se Marcos Daniel. "Ao fim daquele jogo, o Federer disse, na coletiva, que se surpreendeu e que não esperava que eu fosse jogar daquela forma. E, depois disso, treinamos várias vezes juntos", contou Marcos Daniel. Depois daquela partida, o brasileiro ganhou a camisa de Federer que usou de presente, uma recordação que até hoje o gaúcho guarda com carinho.

Conselhos aos mais jovens

Aos 36 anos, Marcos Daniel atualmente tenta passar tudo o que aprendeu nas quadras aos mais novos. Entretanto, ele está ciente de que essa tarefa não é fácil. "É uma nova fase da minha vida e estou gostando muito. Ter tido as experiências que vivi como jogador foi ótimo porque me dá essa bagagem para passar para os jogadores. Mas não basta só ter jogado. É preciso saber passar a mensagem", explicou o gaúcho, que fez cursos e workshops com técnicos no México, via Comitê Olímpico Brasileiro (COB).

Ciente de que muita coisa mudou da época em que estava começando no tênis para hoje, Marcos Daniel manda uma mensagem aos mais novos, que estão ingressando ou sonham com uma carreira profissional nas quadras. "Na minha época, se o cara tinha um golpe bom e um bom saque aquilo podia levá-lo longe. Mas hoje não é mais assim. O cara tem que se saber sacar, volear, jogar no fundo e ser atleta o tempo todo. Se ele tiver um buraco no jogo isso já complica muito a carreira", detalhou. Em resumo, treino e dedicação são as chaves para o sucesso. Ainda assim, até os treinos são diferentes na atualidade.

"Na minha época, o que a gente fazia basicamente era repetição. Hoje não é mais assim. Como o jogo mudou, ficou mais rápido, mais forte, temos que ensaiar jogadas o tempo todo com os atletas. Estamos constantemente ensaiando as situações que eles podem viver em quadra de modo a prepará-los para quando elas surgirem para valer nas partidas."

Luiz Roberto Magalhães, da equipe do Portal Brasil 2016

Acompanhe uma edição dos melhores momentos da partida entre Marcos Daniel e Federer, no ATP de Bancoc, na Tailândia, em 2005