Tenis
Ninguém Nasce Campeão
Jucélio Torquato, o cadeirante por teimosia que se tornou o número três do mundo
O catarinense Jucélio Torquato, de 17 anos, é daqueles que teve de conjugar uma série de aprendizados simultâneos com rapidez e muita insistência. Aprender a ser cadeirante. Entender como pegar numa raquete de tênis sentado e imprimir a força para fazer a bolinha passar para o outro lado. Perceber que teria de lidar com bolhas e calos que sempre se fazem presentes em suas mãos em função do esforço. Aperfeiçoar as técnicas de saque, forehand e ajustar o backhand sobre rodas.
“Minha primeira experiência foi no handebol. Num treino, me convidaram para experimentar o tênis. E tive de construir tudo do zero. Eu não era cadeirante. Na verdade, não sou ainda. Nunca imaginei que fosse jogar sentado. Eu gostava mesmo é de futebol. Aí tive de me adaptar com a cadeira, com a raquete, com tudo”, explicou o atleta de Itajaí, que tem uma condição degenerativa no quadril, que o torna elegível para a modalidade. Jucélio é mais um personagem da websérie Ninguém Nasce Campeão, que investiga os fatores que levam atletas olímpicos e paralímpicos a se tornar referências.
“Tive de aprender tudo: o toque, o giro, o andar para trás e para frente na cadeira. No início, dava calos na mão e eu ia, ia e não chegava na bola. Pensei que esse esporte não era para mim"
Jucélio Torquato
“Eu tive de aprender tudo: o toque, o giro, o andar para trás e para frente na cadeira, para um lado, para o outro. No início, começou a dar calos na mão e eu ia, ia e não chegava na bola. Pensei muito que esse esporte não era para mim. Mas insisti, meu técnico me incentivou, valorizou cada pequeno avanço, explicou que ia mudar a minha vida. Acreditei e estou aqui até hoje”, resumiu, durante entrevista no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo.
A insistência aos poucos mostrou que valia a pena. Depois de muito perder e de duvidar bastante de seu potencial, ele encontrou golpes mais potentes, principalmente no backhand, e começou a ganhar partidas, chegar à fase final de torneios locais, estaduais, regionais. Deixou um pouco a família para viver em casa de atletas e treinar de fixa. A partir de 2015, esteve em finais ou conseguiu vencer etapas nacionais em São Paulo, Rio de Janeiro, Goiânia e Uberlândia.
Com os bons resultados, passou a frequentar o circuito internacional e beliscou um bronze num torneio na Itália. Quando percebeu, seu nome figurava entre melhores do mundo em sua categoria, a junior. Atualmente, é o terceiro melhor do ranking mundial. No início do ano, disputou a Cruyff Foundation Junior Masters, com os oito melhores da temporada. Chegou à semifinal.
“Eu olho o ranking lá, terceiro do mundo, e não acredito. Foi bastante difícil, na verdade. Bastante treino, dedicação. Agora estou acreditando bastante. Tem de batalhar muito”, afirmou. Por esse “batalhar muito” entenda-se treinar dois períodos por dia, de segunda a sexta, em média cinco horas diárias. “Estou lapidando bastante a direita, que é mais ou menos, e meu saque, que tem de melhorar muito”, explicou o tenista, que se define como um atleta mais de fundo de quadra.
Gustavo Cunha, rededoesporte.gov.br