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Atletismo

08/03/2021 15h11

Tóquio 2020

Jogos Olímpicos do Japão terão 49% de participação feminina, o maior percentual da história

Nas Paralimpíadas, mulheres também estarão em número recorde. No Brasil, presença das mulheres no Bolsa Atleta subiu de 38% em 2010 para quase 44% em 2019

Para os esportes olímpicos e paralímpicos, o ano de 2021 representa um marco no protagonismo feminino. Ao longo da história, gerações de mulheres foram, aos poucos, abrindo caminho para que, agora, os Jogos Olímpicos pudessem chegar mais perto do que nunca da igualdade de gênero. Ela ainda não é total, mas é inédita. Em Tóquio, a presença feminina será de quase 49% entre os participantes do maior evento esportivo do mundo.

Seleção Feminina de Handebol. Título no Pan de 2019 e vaga assegurada em Tóquio. Foto: Abelardo Mendes Jr./rededoesporte.gov.br

Neste Dia Internacional da Mulher (08.03), o Comitê Organizador de Tóquio 2020 publicou dados sobre a participação das mulheres na competição, e reafirmou o compromisso, ao lado do Comitê Olímpico Internacional (COI) e do Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês), de construir a próxima edição como um marco na igualdade de gênero.

"O COI está comprometido com a igualdade de gênero em todas as áreas, desde os atletas que competem dentro e fora de campo até os papéis de liderança nas organizações esportivas”
Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional

Além da destinação de quase metade das vagas, a edição olímpica prevê a mesma visibilidade entre eventos masculinos e femininos, e a realização de 18 eventos mistos - nove a mais do que nos Jogos Rio 2016. Foi determinado também, pela primeira vez, que todos os 206 Comitês Olímpicos Nacionais tenham ao menos uma atleta mulher e um homem na equipe.

"O COI está comprometido com a igualdade de gênero em todas as áreas, desde os atletas que competem dentro e fora de campo até os papéis de liderança nas organizações esportivas”, disse o presidente da entidade, Thomas Bach. “Faltando quatro meses para os Jogos Olímpicos de Tóquio, o Movimento Olímpico está se preparando para um novo marco em seus esforços para criar um mundo esportivo com igualdade de gênero”, acrescentou.

Já nos Jogos Paralímpicos, a organização prevê ao menos 40,5% de participação feminina. Isso equivale a 1.782 atletas, um aumento em relação às 1.671 mulheres que competiram no Rio 2016, quando o percentual ficou em 38,6%. Tanto na Olimpíada quanto na Paralimpíada, os países serão incentivados a ter a bandeira carregada, na cerimônia de abertura, por uma mulher e um homem.

“Estamos constantemente nos esforçando para aumentar a participação feminina em todos os níveis do Movimento Paralímpico, de atletas a gestoras, de treinadoras a conselheiras", afirmou o presidente do IPC, Andrew Parsons. "Tóquio está em curso para ter mais atletas femininas competindo do que quaisquer Jogos Paralímpicos anteriores. Em menos de uma década, teremos aumentado o número de mulheres competindo nas Paralimpíadas em pelo menos 18,7% em comparação com Londres 2012. Mesmo assim, continuaremos trabalhando duro para aumentar a participação das mulheres em todos os Jogos futuros, até alcançarmos a igualdade de gênero”, completou.

Dados históricos

A primeira edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, em Atenas 1896, contou apenas com a participação de homens. Foi em Paris, quatro anos depois, que elas puderam competir pela primeira vez. Entre 997 atletas, somente 22 eram mulheres (2,2%). Uma realidade que foi se transformando ao longo dos anos, até que o Rio 2016 tivesse 45,2% de participação feminina.

Na divulgação do programa para os Jogos de Paris 2024, o COI previu a igualdade de gênero com 50% de vagas distribuídas para cada lado. Para isso, as provas mistas passarão de 18 para 22, com 329 eventos em 38 modalidades. Já na versão juvenil das Olimpíadas, a igualdade já chegou: os Jogos Olímpicos da Juventude de Buenos Aires, em 2018, contaram com a participação de 2.006 homens e 2.006 mulheres.

No Brasil, algumas iniciativas também têm sido adotadas no sentido de incentivar o espaço feminino. De acordo com o Comitê Olímpico do Brasil (COB), o país enviou para os Jogos Sul-Americanos de Praia em Rosário, em 2019, a primeira missão na história inteiramente feminina a liderar a delegação brasileira, com nove mulheres responsáveis por todas as áreas da operação. Neste ano, a entidade lançou o curso Curso Abuso e Assédio Fora de Jogo, voltado para os jovens, como um desdobramento da Política de Prevenção e Enfrentamento ao Abuso e Assédio Sexual e Moral no Esporte, lançada em 2018 em parceria com a ONU Mulheres.

Na última edição dos Jogos Olímpicos, em 2016, a delegação brasileira contou com cerca de 45% de presença feminina entre os 465 atletas participantes. Agora para Tóquio, das 181 vagas já confirmadas para o Brasil, 83 são de mulheres. Elas já garantiram presença, por exemplo, com as seleções de futebol, handebol, vôlei e rúgbi de 7.

"Gratidão às mulheres que lutaram pelos nossos direitos, nosso espaço, por respeito! Seguimos nessa luta! Feliz dia internacional da mulher", escreveu Mayra Aguiar em uma rede social. Bicampeã mundial, a atleta é a única judoca brasileira a subir duas vezes ao pódio olímpico, com os bronzes em Londres 2012 e no Rio 2016.

Edênia Garcia: crescimento feminino no esporte também tem o desafio da projeção em cargos de gestão. Foto: Ale Cabral/CPB

Investimentos

Em termos de investimento do Governo Federal, a evolução também tem sido gradativa ao longo dos anos. Em 2010, o Programa Bolsa Atleta contemplava 38,7% de mulheres e 61,2% de homens. Já em 2019, os percentuais mudaram para 43,6% e 56,4%, respectivamente. Nesse período, os recursos destinados às bolsistas saltaram de R$ 21,2 milhões para quase R$ 54 milhões.

"Eu acredito muito que esse aumento se deva bastante à divulgação do esporte feminino, dos benefícios, da possibilidade que nós, mulheres, temos de ocupar mais espaços. Isso também nos chama a pensar sobre as mulheres além das arenas esportivas. Precisamos aumentar também o número de mulheres na parte de gestão, na parte técnica e de governança"
Edênia Garcia, medalhista paralímpica e presidente do Conselho Fiscal do Comitê Paralímpico Brasileiro

Entre os 7.428 inscritos no último edital do programa, 3.180 (42,8%) são mulheres. Um estudo promovido pelo Projeto Inteligência Esportiva (IE), da Universidade Federal do Paraná, com dados de 2005 a 2016, e publicado em 2018, também já tinha sugerido um avanço na distribuição do Bolsa Atleta entre homens e mulheres.

"O comportamento desses números é bem natural porque o esporte cada vez mais se torna um ambiente isonômico. A mulher ocupa seu espaço, tem resultados cada vez melhores, eleva cada vez mais o nome do país em competições internacionais e, naturalmente, isso se reflete no programa. Por isso também vemos esse crescimento do número de mulheres atendidas como um espelho do resultado esportivo do mundo feminino no esporte", afirma Mosiah Rodrigues, coordenador geral do Bolsa Atleta. "Espero que os números continuem nesse mesmo ritmo para, cada vez mais, chegarmos à igualdade", acrescenta.

"Eu acredito muito que esse aumento se deva bastante à divulgação do esporte feminino, dos benefícios, da possibilidade que nós, mulheres, temos de ocupar mais espaços", opina a nadadora paralímpica Edênia Garcia. "Nessa última década, falamos muito mais sobre isso, da igualdade de gênero e da mulher no ambiente esportivo", destaca a dona de três medalhas em Jogos Paralímpicos: prata nos 50m costas em Atenas 2004, bronze nos 50m livre em Pequim 2008 e prata nos 50m costas em Londres 2012.

"Isso também nos chama a pensar sobre as mulheres além das arenas esportivas", lembra. "Precisamos aumentar também o número de mulheres na parte de gestão, na parte técnica e de governança. Não adianta somente ampliar o número de competidoras, temos que aumentar também dentro desse ambiente de comissão técnica, que ainda é muito injusto", pondera a nadadora, que foi eleita presidente do Conselho Fiscal do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).

Natural de Crato (CE), Edênia nasceu com a doença de Charcot-Marie-Tooth, também conhecida como atrofia fibular muscular e atualmente compete na classe S3. Além das medalhas paralímpicas, é tetracampeã mundial nos 50m costas (Mar del Plata 2002, Durban 2006, Eindhoven 2010 e Londres 2019) e pentacampeã parapan-americana (Mar del Plata 2003, Rio 2007, Guadalajara 2011, Toronto 2015 e Lima 2019) na mesma prova.

Rededoesporte.gov.br, com informações do Comitê Organizador de Tóquio e do Comitê Olímpico do Brasil (COB)