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Tenis de mesa

13/06/2018 14h49

Tênis de Mesa

Japonês de 14 anos "assombra" o tênis de mesa ao bater dois campeões olímpicos

Tomokazu Harimoto superou chineses vencedores da Rio 2016 e de Londres 2012 para conquistar o Aberto do Japão

É difícil achar comparativos possíveis. O melhor é forçar um pouco a mão para dar a dimensão do que Tomokazu Harimoto fez no último fim de semana para conquistar o Aberto do Japão de Tênis de Mesa. É como se o Dream Team de basquete dos Estados Unidos fosse derrotado por uma equipe universitária num torneio internacional. Ou como se a equipe brasileira campeã olímpica de vôlei nos Jogos Rio 2016 caísse numa fase decisiva de Liga das Nações diante de um time juvenil. Ou talvez, no mundo dos esportes individuais, como se Roger Federer e Rafael Nadal fossem eliminados nas quartas e na final de um Master Series por um adolescente emergente que terminou com o troféu.

Harimoto vibra após superar o campeão olímpico e bicampeão mundial Ma Long nas quartas de final. Foto: ITTF

Tomokazu Harimoto fez algo comparável a isso na última semana. Na trilha para conquistar o título do torneio disputado em Kitakyshu, o menino de apenas 14 anos derrotou nas quartas de final o bicampeão mundial Ma Long, dono do ouro olímpico individual e por equipes nos Jogos Rio 2016, por 4 sets a 2. Na semifinal, deixou para trás o sul-coreano Lee Sang Su, número oito do mundo. Na decisão, sobreviveu a uma batalha por 4 sets a 3 (9/11, 8/11, 11/9, 11/4, 10/12, 11/7 e 13/11) diante de outro chinês de amplo destaque no cenário internacional. Ainda que esteja voltando de um longo período afastado, Zhang Jike tem no currículo um bicampeonato mundial e o ouro individual e por equipe nos Jogos de Londres (2012). 

"Vencer dois campeões olímpicos em dois dias é inacreditável, mais ainda na frente de tantos fãs reunidos aqui no Japão. Agora só quero voltar aos treinos para continuar me aprimorando e buscar outros momentos de orgulho assim para o meu país"
Tomokazu Harimoto

"Vencer dois campeões olímpicos em dois dias é inacreditável, mais ainda na frente de tantos fãs reunidos aqui no Japão. Dois anos atrás, tive uma vitória que foi um ponto de mutação na minha carreira, com o título da chave Sub-21 deste mesmo torneio (com 12 anos). Agora só quero voltar aos treinos para seguir me aprimorando e buscar outros momentos de orgulho assim para o meu país", disse o atleta ao site da Federação Internacional de Tênis de Mesa (ITTF).

O feito é ainda mais expressivo porque o tênis de mesa tem, na China, uma simbologia cultural similar à do futebol no Brasil. O país é absolutamente hegemônico. Das 32 medalhas de ouro disputadas desde que a modalidade entrou em cena nos Jogos Olímpicos, em Seul (1988), 28 ficaram com a China. É quase um mantra no mundo ocidental dizer que é mais difícil para um atleta chegar à seleção chinesa que ser campeão mundial ou olímpico, em função da competitividade interna no país asiático.

"Para mim, é um sonho que se tornou realidade. O Ma Long é meu ídolo. Vencer ele aqui no meu país é simplesmente incrível. Depois de abrir 3 sets a 0 e ver ele ganhar as duas parciais seguintes, precisei relaxar e jogar ponto a ponto, porque estava muito nervoso. Eu fiquei aliviado demais por conseguir fechar aquele jogo. É um novo passo para chegar ao meu objetivo maior, que é alcançar o título olímpico em Tóquio, em 2020", disse Harimoto. "Nesses três últimos anos de trabalho duro ele melhorou muito e se desenvolveu demais jogando com os melhores do mundo", elogiou Ma Long.

Harimoto passa pelo campeão bicampeão mundial e ouro em Londres 2012 Zhang Jike e conquista o título. Foto: ITTF

Precocidade

Tomokazu Harimoto tem 14 anos, mas já pode ser considerado um veterano. Os primeiros contatos com raquetes e bolinhas foram aos dois anos. Embora seja nascido e criado no Japão, é filho de imigrantes chineses. O pai, Yu Harimoto, é técnico do esporte. A mãe, Zhang Ling, representou a China no Mundial por equipes em 1995. O esporte está no DNA da família. Aos três anos e quatro meses, Harimoto disputou um torneio local e terminou em quarto na categoria Sub-8. Aos seis, antes de entrar na escola primária, ganhou um torneio sub-8 em sua região e obteve vaga para o campeonato japonês: chegou às oitavas.

Considerado um prodígio desde sempre, Harimoto frequenta assiduamente o top ten do mundo desde o fim de 2017. Conquistou no caminho vitórias importantes contra integrantes do top 20 mundial, como o alemão Timo Boll, o veterano Vladimir Samsonov, o sul-coreano Lee Sangsu e o brasileiro Hugo Calderano, número 11 do ranking mundial, que tem duas derrotas e uma vitória em confrontos recentes diante de Harimoto.

Em 2016, o japonês foi campeão mundial Júnior e finalista do Aberto da Índia, derrotado apenas na final pelo então número 5 do mundo, o alemão Dimitrij Ovtcharov. No Mundial Adulto de 2017, em Dusseldorf, na Alemanha, impressionou a comunidade esportiva ao chegar às quartas de final, com 13 anos. No caminho, eliminou um ícone do esporte no Japão, o canhoto Jun Mizutani, medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos Rio 2016. "Idade não tem nada a ver com tênis de mesa", resumiu Harimoto, na época, em frase que serve perfeitamente como legenda para o que fez no último fim de semana.

Melhores momentos da partida de quartas de final, contra o campeão olímpico Ma Long:

Gustavo Cunha - rededoesporte.gov.br, com informações da ITTF