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Tenis de mesa

08/08/2019 00h09

LIMA 2019

Hugo Calderano repete o título de Toronto e garante a vaga antecipada para Tóquio 2020

Mesatenista superou o canadense Eugene Wang, na semifinal, e o dominicano Jiaji Wu, na decisão, para chegar ao bicampeonato. Bruna Takahashi fica com o bronze

Jogos Pan-Americanos Lima 2019

Hugo Calderano passa a mão na mesa e os braços na testa. Levanta uma perna e outra para trás, balança a raquete, dá uma tossidinha. Só então se posiciona para o saque. Joga a bola muito alto antes de passá-la para o lado adversário. O ritual, que ele compara ao do tenista espanhol Rafael Nadal, é uma forma de secar o suor do corpo, mas, também de concentração. Sem abrir mão dos movimentos de praxe, com uma postura mais madura do que o esperado para seus 23 anos de idade, acompanhada pela agressividade de número 6 do mundo, Calderano confirmou a soberania nas Américas e faturou, mais uma vez, o ouro individual dos Jogos Pan-Americanos. De quebra, está garantido em Tóquio 2020. 

“É uma sensação incrível ganhar mais um ouro pan-americano e me classificar já para Tóquio 2020. Estou muito feliz com meu nível aqui, principalmente na final”, comemorou. O atleta é, agora, o segundo bicampeão pan-americano brasileiro, depois de Hugo Hoyama levar os títulos individuais das edições de Havana 1991 e Mar del Plata 1995. Além dos brasileiros, apenas o chinês naturalizado dominicano Lin Ju conquistou duas vezes o ouro, em 2003 e 2007. 

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Hugo Calderano: Quatro medalhas de ouro em Jogos Pan-Americanos. Foto: Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br

Para repetir o topo do pódio, Calderano precisou vencer, nesta quarta-feira (7), justamente dois chineses que representam outros países. Na semifinal, superou Eugene Wang, que defende o Canadá desde 2012, por 4 x 2 (8/11, 11/7, 11/6, 7/11, 11/9, 11/6). “Ele estava recebendo muito bem os meus saques, tem um ‘feeling’ muito bom para o tênis de mesa. Eu sabia que tinha que ser muito agressivo, forçar bastante o saque e a recepção”, explicou.

O favoritismo prevaleceu, e Hugo garantiu o lugar na final, diante do dominicano também naturalizado, há poucos meses, Jiaji Wu. Apesar de ser apenas o número 648o do ranking mundial, por estar há pouco tempo no circuito, chegou à decisão após eliminar os cabeças de chave número 2 e número 3: o brasileiro Gustavo Tsuboi, 32º do mundo, nas oitavas de final, e o americano Jha Kanak, 33o e bronze nos Jogos Olímpicos da Juventude de Buenos Aires 2018, na semifinal. 

Foi a primeira vez que Jiaji Wu e Calderano se encontraram em uma partida. “Já tinha visto ele jogar algumas vezes. Ele joga na Liga Francesa, disputou alguns campeonatos internacionais pela República Dominicana. Antes disso foi parte da seleção juvenil chinesa”, contou o brasileiro, que precisou enfrentar também o estilo diferente do rival, com uma empunhadura conhecida como “classineta”. “Geralmente os atletas classinetas têm saque e recepção bons”, explicou. 

O brasileiro comentou ainda a frequente naturalização dos mesatenistas chineses. “Todo mundo treina para chegar aqui em seu melhor nível. Claro que acaba tirando um pouco a parte do coração. Ele não fala espanhol. Mas isso é o tênis de mesa, e estou aqui para competir”, resumiu. O atleta é contemplado com a Bolsa Pódio do governo federal.

A vitória

Como previsto, a decisão não foi fácil para nenhum dos lados. Hugo começou vencendo, fechou o primeiro set em 11/8, mas, em seguida, Jiaji Wu conseguiu levar duas parciais para virar o placar (6/11, 8/11). O brasileiro ainda empatou a partida em 2 x 2, ao fechar mais um em 11/7, mas o dominicano tomou a frente novamente (8/11). Hugo chegou ao sexto set sem poder perder mais nenhum. Aí pesou a incontestável força mental do brasileiro: empatou em 3 x 3 (11/8) e, enérgico e determinado a repetir o título continental, levou a última parcial por incríveis 11/2 e a partida por 4 x 3.

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O chinês é naturalizado dominicano há poucos meses e não sabe falar espanhol. Foto: Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br

“Foi um jogo de altíssimo nível. Aqui ele jogou muito melhor do que joga na Liga Francesa e nos torneios internacionais. Ele com certeza jogou em um nível não de 600, mas de Top 10 do mundo”, destacou Calderano. “Foi muito difícil, tive sempre que achar soluções. Ele estava dominando a partida, mas, mentalmente, procurei sempre jogar melhor. No final, eu estava numa zona que acho que ninguém conseguiria me tirar de lá”, completou.

Curiosamente, o título de 2015 também foi conquistado com um resultado de 4 x 3 e com 11/2 no último set, contra o companheiro Gustavo Tsuboi. “A parte mental sempre foi uma das minhas grandes forças, mas uma vitória como essa me dá muita confiança para seguir adiante”, acrescentou Calderano. E o brasileiro pode conquistar mais medalhas ainda em Lima. Com quatro ouros em Jogos Pan-Americanos, Hugo ainda disputa a prova por equipes.

Bruna é bronze

Bruna Takahashi também chegou às semifinais do individual, mas não conseguiu se impor diante de uma antiga conhecida: Adriana Díaz, de Porto Rico, hoje número 30 do ranking mundial. “Jogamos juntas desde pequenas. Eu ganho, ela ganha”, comentou a brasileira, superada desta vez por 4 sets a 0 (9/11, 8/11, 3/11, 4/11) e terminando com o bronze. “Eu trabalho justamente para jogar com a Adriana. É difícil perder, mas faz parte”, lamentou. Ao lado da irmã Melanie, a rival também venceu Bruna e Jéssica Yamada na semifinal das duplas femininas.

Bruna não conseguiu superar a rival de longa data. Foto: Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br

“Ela é uma jogadora que sempre surpreende. Ela se adapta muito rápido e acho que esse é o ponto forte dela”, analisou a brasileira. “Os dois primeiros sets foram diferentes, mais apertados. Depois do 2 x 0, ela mudou totalmente o jogo. Eu tentei encaixar, mas não consegui. Ela começou a dar muitos efeitos. Se eu tivesse feito os dois primeiros, seria outro jogo, outra cabeça”, acrescentou. 

Em Lima, Bruna já conquistou os bronzes no individual e na dupla feminina, além da prata na dupla mista com Gustavo Tsuboi. E ainda tem chance de faturar mais uma medalha. Nesta quinta-feira (8), a equipe feminina, formada ainda por Jéssica Yamada e Caroline Kumahara, estreia contra o México, às 12h (horário de Brasília). Às 19h, enfrenta a Colômbia. Já a equipe masculina, de Hugo Calderano, Gustavo Tsuboi e Eric Jouti, encara o Canadá, às 14h30, e o México, às 21h30.

Investimentos

Cinco dos seis atletas da delegação brasileira no tênis de mesa são integrantes do Bolsa Atleta, programa da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania. Hugo Calderano faz parte da categoria pódio, a mais alta, enquanto Bruna Takahashi, Caroline Kumahara e Gustavo Tsuboi integram a categoria olímpica, e Eric Jouti, a Internacional. O investimento federal no quinteto é de R$ 230 mil anuais.

No tênis de mesa como um todo, atualmente há 126 atletas incluídos entre os bolsistas federais, num investimento anual de R$ 1,74 milhão. A ampla maioria é da faixa Nacional (92). 

Ana Cláudia Felizola, de Lima, no Peru – rededoesporte.gov.br