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Tenis de mesa

20/04/2019 07h40

Budapeste 2019

Guia prático e ilustrado: saiba em quem prestar atenção no Mundial de Tênis de Mesa

Chineses são amplamente dominantes na modalidade, mas há vários atletas com potencial de desafiar os asiáticos no torneio de 21 a 28 de abril, na Hungria

Mundial de Tênis de Mesa 2019

Guardadas algumas variações regionais, a expressão "contra a reca" costuma informalmente definir uma situação em que alguns poucos são suficientes para desafiar todos os outros oponentes. No universo do Campeonato Mundial de Tênis de Mesa, que será disputado em Budapeste, na Hungria, a partir deste domingo (21.04), daria para ensaiar uma versão. Seria "China contra a reca", e nessa "reca" caberiam todos os outros países do mundo.

O país asiático tem inegável domínio do esporte. São 19 títulos mundiais individuais acumulados no masculino. Outros 22 no feminino. E isso mesmo sem ter figurado na lista dos campeões entre 1926 e 1957, fase de início da popularização da modalidade. No passado recente, a hegemonia é mais sistemática. Os chineses venceram sete das últimas oito edições no masculino e as últimas 12 no feminino. Há quatro chineses entre os dez melhores e cinco chinesas no top 10 da Federação Internacional (ITTF na sigla em inglês).

Não à toa, a emissora China Central Television (CCTV) pretende dedicar 50 horas de transmissões ao vivo à edição de 2019 do Campeonato Mundial, que segue até o dia 28. Além da China, outros 144 países terão transmissão ao vivo pela televisão do campeonato. Em países como o Brasil, em que a modalidade não aparece nas emissoras com frequência, a opção é acompanhar em tempo real pelas transmissões ao vivo, via internet, pelos canais da ITTF. Antes disso, vale conhecer um pouco melhor alguns dos destaques do esquadrão chinês, que chega à Hungria com status diferenciado. 

Bicampeão mundial e atual campeão olímpico, Ma Long é sempre favorito. Foto: ITTF

Ma Long

Ele já foi chamado de Dragão Gordinho na infância, muito mais em função de imperativos estéticos do que por excesso de peso. Ao longo do tempo, contudo, Ma Long calou não só o bullying, como todos os críticos possíveis. Depois de uma fase de desconfiança interna na China por não conseguir resultados nos palcos mais importantes, venceu tudo o que era possível: é bicampeão mundial individual (2015 e 2017) e o atual campeão olímpico (Rio 2016), além de ter liderado o ranking por quase dois anos. Ficou fora do circuito em 2018 em função do nascimento do primeiro filho. Voltou com força em 2019. Venceu o Aberto do Catar, em março, e ficou com o vice-campeonato da Copa da Ásia, no início de abril. Na final, perdeu para o atual número 1 do mundo, Fan Zhendong. Aos 30 anos, segue como forte candidato ao título.

Intensidade física e agressividade são marcas de Fan Zhendong. Foto: ITTF

Fan Zhendong

Há 12 meses no topo do ranking mundial, o atleta de 22 anos é visto no cenário do tênis de mesa mundial como um dos jogadores mais consistentes e difíceis de serem batidos. Dono de um estilo intensamente agressivo e de uma capacidade física invejável, é o cabeça de chave número 1. Surgiu para o Mundo nos Jogos Olímpicos da Juventude de Nanquim, na China, em 2014, quando faturou a medalha de ouro. De lá para cá, fincou os pés na seleção principal, conquistou dezenas de títulos de etapas internacionais e fez a final do último mundial, em 2017: perdeu numa decisão impressionante diante de Ma Long, por 4 sets a 3. A última parcial foi 14 x 12. Ostenta no currículo dois títulos da Copa do Mundo (2016 e 2018), foi eleito o melhor jogador de 2018 e abriu 2019 com o título da Copa Asiática.

Conhecido por chegar em bolas impossíveis, Xu Xin é dono de um estilo único. Foto: ITTF

Xu Xin

Atual número dois do mundo, Xu Xin é um "herói da resistência". Aos 29 anos, é o único atleta do top 10 mundial e um dos poucos entre os 100 melhores do mundo que não joga no estilo clássico. O atleta canhoto empunha a raquete no estilo classineta. Isso exige um trabalho físico de deslocamento acima da média para que execute o seu golpe mais diferenciado, o forehand. Xu Xin é conhecido por chegar em bolas impossíveis e por ter um domínio invejável da técnica. É campeão mundial e olímpico por equipes, mas costuma ficar no meio do caminho nas disputas individuais diante da consistência de seus colegas de seleção.

FEMININO

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O saque de Ding Ning é uma espécie de assinatura do jogo da tricampeã mundial. Foto: ITTF

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Cheng Meng tem boas recordações de Budapeste. Foi campeã na capital húngara em janeiro de 2019. Foto: Abelardo Mendes Jr./rededoesporte.gov.br

Ding Ning

Tricampeã mundial (2011, 2015 e 2017) e atual campeã olímpica, a canhota de 28 anos e 1,71m é também a número um do ranking mundial. Entra como favorita em qualquer competição. Entre seus diferenciais está conseguir aliar a eficiência na troca de bolas em cima da mesa, característica do jogo feminino, com a consistência nas bolas de média distância, em especial nos contra-ataques de top-spin (efeito por cima da bola). Além disso, tem um saque poderoso e praticamente único no circuito, que ajuda muito a fazer com que comande boa parte dos pontos em que tem o serviço ao longo das partidas.

Cheng Meng

Estrela em fase ascendente, a atleta de 25 anos chega a Budapeste com credenciais mais do que significativas. Terminou em primeiro o "Doze Maravilhosos de 2019". O nome batiza a seletiva da equipe chinesa, talvez o evento de maior nível técnico no mundo pela qualidade da concorrência interna. Terceira do ranking mundial, Cheng Meng venceu o Grand Finals do circuito internacional em 2017 e 2018, e abriu 2019 com um resultado promissor em Budapeste. Foi campeã do Aberto da Hungria, realizado em janeiro, também na capital húngara. "Fui muito feliz aqui em janeiro. Espero que a cidade continue me proporcionando boas recordações", disse. 

Liu Shiwen

Nome experiente e sinônimo de persistência e insistência na seleção chinesa, a atleta de 28 anos bateu na trave duas vezes em mundiais: foi medalhista de prata nas edições de 2013 e 2015. Número cinco do ranking mundial e uma das mais bem sucedidas atletas do circuito internacional da ITTF, Liu espera finalmente superar a barreira que a separa do topo do pódio em mundiais.

Liu Shiwen: bateu na trave do título duas vezes. Foto: ITTF

Não são imbatíveis

No lado da "reca", contudo, existe um grande número de ótimos jogadores dispostos a mudar essa sina. Como bem definiu o sul-coreano Lee Sangsu, atual número seis do mundo, os chineses são ótimos, mas não insuperáveis. "Eles são habilidosos e ultra competitivos, mas há muitos jogadores de excelente nível em vários países do mundo. Eu mesmo estou sempre pronto para vencer", avisou Sangsu, bronze na última edição da competição, disputada em 2017, na Alemanha, e um dos destaques da trupe internacional.

Uma lista de atletas que reúne suecos, que já foram hegemônicos nos anos 1990 e buscam novos espaços de protagonismo, alemães que estão sempre entre os melhores, atletas competitivos de Hong Kong, da Malásia, do Japão, da França e até do Brasil. A lista completa seria muito grande, mas vale pinçar pelo menos quatro, que representam gerações distintas, estilos diferentes e propostas de jogo diferenciadas, para representar este cenário. 

Conheça outros nomes:

Tomokazu Harimoto (Japão)

Com apenas 15 anos, já merece um "dossiê" dos chineses. Um estudo de caso minucioso. Harimoto é um fenômeno. Um retrato da adaptabilidade aos novos tempos do esporte. A bola maior e de plástico deixou o jogo com um pouco menos de efeito. Permitiu o surgimento de atletas com estilo diferente. Mais próximos da mesa. Com bolas mais chapadas. Ultra rápidas. Que reduzem o tempo de reação dos rivais. Com essa receita aplicada com perfeição, Harimoto pulverizou adversários do top 20 mundial. Chegou à incrível posição de quarto do ranking adulto. Ganhou o Aberto do Japão de 2018 com vitórias sobre os últimos dois campeões olímpicos no caminho, os chineses Ma Long (Rio 2016) e Zhang Jike (Londres 2012). E é uma real esperança de medalha olímpica nos Jogos que seu país sediará em 2020. Antes, tem pela frente o Mundial de Budapeste. Onde pode chegar?

Com apenas 15 anos, Harimoto é um dos candidatos a encarar os chineses. Foto: ITTF

Mattias Falck (Suécia)

O sueco de 27 anos é outro exemplo de adaptabilidade extrema ao novo cenário de bolas plásticas. Falck usa em seu forehand uma borracha diferente das usuais entre atletas top. Em vez de os pinos serem voltados para dentro, são voltados para fora. Em vez de uma superfície lisa, há uma superfície porosa. Esse tipo de material permite bolas de grande velocidade e com menos efeito. Bolas que reduzem e dificultam a reação dos adversários, principalmente em situações de contra-ataques. A receita deu a Falck em 2019 o vice-campeonato do Aberto de Oman e uma campanha espetacular na etapa Platinum (tipo um Grand Slam do tênis) do Catar. Na ocasião, Falck teve um jogo épico contra o chinês Lin Gaoyuan, número três do mundo, na semifinal, definido pela diferença mínima de pontos no sétimo e último set (12 x 10). Ficou com o bronze. 

Mattias Falck: pino no forehand e estilo único e eficiente. Foto: ITTF

Timo Boll (Alemanha)

Se a palavra é adaptabilidade, ninguém mais adequado para o termo que o alemão Timo Boll, de 38 anos. Timo, como é conhecido pelos torcedores, viveu diversas fases do tênis de mesa. Com bolas pequenas, de 38 milímetros. Com bolas um pouco maiores, de 40 milímetros. Viveu a troca para as bolas plásticas. E sempre encontrou uma forma de se manter no grupo dos jogadores top. Muda características, enxerga a tática do adversário com inteligência e é versátil em seu arsenal de golpes como poucos. É até conhecido pela habilidade de trocar a raquete de mãos em algumas situações de jogo para conquistar os pontos necessários. É sempre um nome a ser lembrado entre os favoritos.

Timo Boll: retrato da versatilidade e capacidade de adaptação. Foto: ITTF

Hugo Calderano

Listar um brasileiro entre as possíveis surpresas no Mundial deixou de ser bairrismo ou forçação de barra. O carioca Hugo Calderano, de 22 anos, vem numa trajetória ascendente e consistente no ranking desde os Jogos Olímpicos da Juventude de 2014, na China, quando conquistou o bronze e despertou a curiosidade da modalidade para um atleta do continente sul-americano. 

De lá para cá, chegou às oitavas de final nos Jogos Olímpicos Rio 2016. Quebrou a marca do top 10 em 2018. Encostou no top 5. Chegou em finais e fases decisivas de várias etapas do circuito internacional. Bateu o número 1 do mundo, Fan Zhendong, no Grand Finals de 2018. Foi protagonista de campanhas que levaram a equipe do Brasil às quartas de final da Copa do Mundo e do Mundial em 2018. E se consolidou entre os melhores, o que é o mais difícil. Além de ocupar atualmente a sétima posição no ranking, Calderano é um jovem experiente, lapidado. O Mundial de Budapeste será o oitavo de sua carreira.

"Acho que desde que entrei no Top 10, os adversários começaram a estudar mais meu jogo e a se preparar para me enfrentar. Com certeza, todo mundo agora entra para jogar comigo com mais vontade. Mas acho que isso é muito bom. A concorrência faz parte do esporte e me ajuda a subir ainda mais o meu nível".

Calderano: esperança brasileira na chave de simples. Foto: ITTF

Esquadrão japonês

No naipe feminino, a busca por desbancar as chinesas passa em especial por uma jovem geração japonesa que tem se destacado no circuito internacional. Um brilho pavimentado com vitórias e performances que deixaram de ser pontuais, raras, zebras, para ganharem o até então impensável status de naturalidade.

Mima Ito: nova geração japonesa sonha com pódio no Mundial e nos Jogos de Tóquio, em 2020. Foto: ITTF

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Prata e bronze olímpicos estão no currículo de Kazumi Ishikawa. Foto: ITTF

Mima Ito

A jovem de 18 anos que ocupa a sétima colocação no ranking mundial se mostrou um tormento para a seleção chinesa nos últimos dois anos. Em dois torneios específicos, o Asiático de 2017 e o Aberto da Suécia de novembro de 2018, a japonesa conquistou o título individual deixando três chinesas do top 5 mundial pelo caminho. Ding Ning, Cheng Meng, Zhu Yuling e Liu Shiwen já saíram da mesa derrotadas por ela. Dona de um estilo agressivo pautado por um pino curto como o de Mattias Falck, mas em seu backhand, Mima Ito é exemplo clássico de uma nova forma de criar problemas para os adversários encurtando o tempo de reação possível entre os golpes com bolas chapadas. No currículo, ostenta também o fato de ter se tornado a mais jovem atleta a conquistar uma medalha olímpica no tênis de mesa, com o bronze por equipes na Rio 2016 aos 15 anos, e de ter sido escolhida a MVP do Mundial por equipes de 2018: Ito venceu as oito partidas que disputou na ocasião.

Kasumi Ishikawa

Nascida numa família de mesatenistas profissionais, a atleta canhota de 26 anos tem uma trajetória vencedora com a camisa da seleção japonesa. Foi ouro nas duplas mistas no Mundial de 2017. Tem uma prata e um bronze olímpicos por equipe, conquistados em Londres (2012) e na Rio (2016). Chegou às quartas de final no Mundial individual de 2017. Ocupa de forma consistente a sexta posição no ranking mundial. É dona de uma estilo agressivo pautado em top-spins usados com muita precisão e velocidade.

Miu Hirano

Outra jovem talentosa do esquadrão japonês, a atleta de 19 anos vem de duas medalhas de prata conquistadas nos Jogos Olímpicos da Juventude de 2018, em Buenos Aires. Subiu ao pódio no individual e na equipe mista, ao lado de Tomokazu Harimoto. Tem no histórico a primeira medalha japonesa em Campeonatos Mundiais desde 1975, conquistada na edição de 2017, com um bronze. Miu Hirano ainda encontra espaço no currículo para o feito de ser a única não chinesa e a mais jovem atleta a vencer a Copa do Mundo da modalidade, título conquistado em 2016, aos 16 anos.

Miu Hirano: duas pratas recentes nos Jogos Olímpicos da Juventude. Foto: ITTF

Forma de disputa

Nas chaves individuais masculina e feminina, os atletas são divididos em dois grupos. Os 64 melhores ranqueados ficam esperando nos primeiros dias o resultado do qualifying, como cabeças de chave. Entre os brasileiros, esse é o caso de Hugo Calderano, Gustavo Tsuboi, Eric Jouti e Bruna Takahashi. Para os demais, a preliminar é disputada em fase de grupos seguida de mata-mata. Daí saem outros 64 atletas que vão integrar a chave principal do torneio, que terá, assim, 128 mesatenistas. A partir daí, todos os confrontos são eliminatórios até a final. Nas duplas, as chaves principais têm 64 parcerias, com 32 cabeças de chave a partir do ranking internacional e outros 32 definidos no qualifying.

Os jogos são disputados em melhor de sete games. O atleta, para vencer, precisa ganhar quatro parciais, cada uma delas de 11 pontos. Pela regra oficial do tênis de mesa, os saques são alternados. Cada atleta executa o serviço duas vezes e passa o direito ao oponente. A única exceção é quando a parcial fica empatada em 10 x 10. Nessas situações, cada atleta executa um saque por vez, até que um dos dois alcance a diferença de dois pontos de vantagem, que encerra o game. Além do título de campeão mundial, o torneio é, ao lado dos Jogos Olímpicos, a competição que mais dá pontos aos seus campeões individuais no ranking da ITTF. São três mil.

Galeria de fotos (imagens disponíveis para download em alta resolução e uso editorial gratuito. Crédito: Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br)

Mundial de Tênis de Mesa 2019

Infográfico - Mundial de Tênis de Mesa 2019

Gustavo Cunha, de Budapeste, na Hungria - rededoesporte.gov.br