Atletismo
GINÁSTICA ARTÍSTICA
Grego tem série "limpa" e deixa Zanetti com a prata nas argolas
"Os atletas que conseguem manter o resultado são mitos. Ontem vi a prova do Usain Bolt e ele é tricampeão olímpico. Para esse cara a gente tem que tirar o chapéu. Trabalhei muito mais duro do que em 2012 e consegui a prata, então vi o quanto foi difícil estar aqui"
Arthur Zanetti
Uma nota de partida idêntica: 6.800. Os elementos das séries também eram os mesmos, apenas posicionados em sequências diferentes. Era a execução que definiria quem levaria o ouro. Desta vez o maior prêmio das argolas foi para a Grécia, berço dos Jogos Olímpicos, pendurado no pescoço de Eleftherios Petrounias, o mesmo que iniciou a longa caminhada da chama olímpica no mês de abril, em Olímpia. Nesta segunda-feira (15.08), quase quatro meses depois, o ginasta concluiu sua missão, no Rio de Janeiro, dando trabalho e deixando a prata ao rival Arthur Zanetti.
O brasileiro, contudo, se disse até mais contente com a segunda colocação na Arena Olímpica do Rio do que com o ouro de quatro anos atrás, em Londres. “Competir em casa e defender um título é muito mais difícil, então esse resultado com certeza tem um gostinho a mais”, avalia Zanetti. “Os atletas que conseguem manter o resultado são mitos mesmo. Ontem vi a prova do Usain Bolt e ele é tricampeão olímpico. Para esse cara a gente tem que tirar o chapéu. Trabalhei muito mais duro do que em 2012 e consegui a prata, então vi o quanto foi difícil estar aqui”, compara.
Para afastar qualquer cobrança pelo bicampeonato, Zanetti optou por uma estratégia diferente nos últimos dias. “Eu passava na rua e as pessoas falavam ‘traz o ouro’. Não é simples assim. Teve uma pressão a mais. Antes de chegar no Rio, eu me coloquei uma pressão também, mas aqui esqueci tudo, até redes sociais, para me concentrar nos meus treinos e na minha prova”, explica.
No início da tarde, os atletas foram apresentados para a final das argolas. O brasileiro seria o último a competir, posição que, assim como em Londres, foi possível ocupar após uma classificatória mais simples, que resultou na quinta colocação e o deixou no segundo bloco dos competidores. Depois de receber o aplauso do público, Zanetti saiu de cena. Foi para o ginásio de aquecimento e só retornou à arena mais perto da hora de subir nas argolas.
Mesmo ali dentro, enquanto as notas de sete rivais eram exibidas no telão central, o brasileiro preferiu se isolar. “Eu não olhei a série de ninguém. Quando voltei para o ginásio de competição, sentei na minha cadeira, com a cabeça para baixo, e fiquei pensando em coisas boas e na minha série”, conta. Segundo Zanetti, nem mesmo os 16.000 pontos somados pelo grego, atual campeão mundial, após uma apresentação impecável e com saída cravada do aparelho, ele presenciou.
A pontuação, no entanto, seria difícil de bater. Até hoje, o melhor resultado do atleta de São Caetano do Sul foi durante a Copa do Mundo de São Paulo, no ano passado, quando recebeu 16.050 nas argolas. Esse resultado o teria assegurado novamente no topo do pódio olímpico, mas algumas falhas de execução comprometeram a nota final, fechada em 15.766. No evento-teste para os Jogos, em abril, Petrounias também ficou à frente de Zanetti durante a classificatória, mas o brasileiro levou a melhor na final.
“O Petrounias foi melhor hoje. Ele está numa fase muito boa da vida dele como atleta e veio aqui para realmente disputar, assim como o chinês, mas que não cravou a saída e acabou ficando fora. Eu achava que os três disputariam os três primeiros lugares”, comenta o técnico Marcos Goto. Yang Liu (15.600) terminou em quarto, deixando o bronze para o russo Denis Abliazin (15.700).
Depois de receber um abraço de Zanetti, o grego comemorou a conquista, mas sem considerar a apresentação perfeita. “Não existe perfeição. Foi uma série muito boa, mas mesmo agora, alguns minutos depois, eu sei de algumas coisas que eu gostaria de mudar e fazer um pouco melhor”, argumenta. A pontuação, segundo ele, foi dentro do planejado para a final. “Eu sabia que com essa nota era possível ser campeão. Poucos atletas podem tirar isso, e esse era o objetivo”, explica o novo medalhista de ouro das argolas.
Ouro para a Holanda
"Estou emocionada porque na minha primeira Olimpíada fui a quinta melhor do mundo"
Flávia Saraiva
Nem Zanetti nem Petrounias eram considerados tão favoritos ao ouro quanto a norte-americana Simone Biles, na disputa da final da trave, nesta segunda. A ginasta, que já faturou três ouros no Rio de Janeiro, no entanto, sofreu um desequilíbrio durante a apresentação e, por muito pouco, não caiu do aparelho. Assim, somou 14.733, bem abaixo das notas que costuma receber, e ficou com o bronze. “Não estou decepcionada com a medalha, mas sim com a série que eu fiz”, lamenta a estrela dos Estados Unidos.
O país viu outra atleta ter um rendimento melhor. Lauren Hernandez recebeu 15.333 e levou a prata. O título de campeã olímpica foi para a holandesa Sanne Wevers (15.466), vice-campeã mundial, com uma série elegante e limpa, capaz de desbancar as duas americanas.
Já Flávia Saraiva não beliscou o pódio por pouco. Depois de dois desequilíbrios, a ginasta ficou com 14.533 pontos e o quinto lugar. “Acho que não era meu dia, mas eu me esforcei ao máximo e dei o meu melhor”, afirma. Mesmo assim, saiu satisfeita com o resultado para uma estreia. “Estou emocionada porque na minha primeira Olimpíada fui a quinta melhor do mundo. Não tem emoção maior do que isso. Ainda sou muito nova e vou treinar mais e mais para a próxima Olimpíada, para que dê tudo certo para mim”, avisa Flavinha.
Ana Cláudia Felizola, com colaboração de Rafael Brasil, brasil2016.gov.br