Canoagem velocidade
Cochabamba 2018
Em ritmo de treino, Isaquias leva dois ouros na canoagem, um deles ao lado do parceiro Erlon
Isaquias Queiroz é daqueles que têm um DNA competitivo por essência. Há 11 dias, em Duisburg, na Alemanha, ele estava diante dos melhores do planeta, num “minimundial”. Lá, um tempo de 3min44s708 na prova do C1 1.000 simbolizou o melhor que o medalhista de prata nos Jogos Rio 2016 já cravou na carreira. Valeu o segundo lugar na etapa da Copa do Mundo e o prazer de superar um ídolo da modalidade, o alemão e bicampeão olímpico Sebastian Brendel. Ficou atrás apenas do tcheco Martin Fuksa.
“Não é só porque sou medalhista em Mundial e Olimpíada que vou deixar de prestigiar um evento desse. É lógico que as competições na Europa têm nível mais forte, mas aqui revejo amigos da canoa e passo um pouco da minha experiência aos meninos que estão vindo”
Isaquias Queiroz
Mesmo vivendo no cotidiano essa disputa em torno do topo do ranking mundial, o baiano de Ubaiataba não pensou duas vezes diante do convite para representar o Brasil nos Jogos Sul-Americanos de Cochabamba, na Bolívia. “Não é só porque sou medalhista em Mundial e Olimpíada que vou deixar de prestigiar um evento desse. É lógico que as competições na Europa têm um nível mais forte, mas aqui posso rever amigos da canoa e passar um pouco da minha experiência para os meninos que estão vindo agora”, disse Isaquias, que levou os dois ouros que disputou na Represa La Angostura nesta quarta-feira (06.06).
No C1 1.000, fez 4min18s81, quase 10 segundos à frente do medalhista de prata, o colombiano Sérgio Diaz (4min26s69). O bronze ficou com o chileno Michael Alegria (4min30s09). “Saí bem na frente e depois segurei um pouco. Não senti tanto o vento. O mais complicado para os brasileiros é a altitude, que pega bastante. Mesmo remando descansado, cansa, mas tive a felicidade de fazer uma ótima prova e nem precisei de oxigênio depois”, afirmou o atleta. As provas da canoagem velocidade começaram a ser disputadas nesta quarta-feira na Represa La Angostura, em Cochabamba, na Bolívia. Seguem até sexta (8).
No C2 1.000, ao lado de Erlon de Souza, nova vitória tranquila brasileira, e a confirmação do favoritismo da dupla medalhista de prata nos Jogos Rio 2016. “A gente sabia que seria uma prova tranquila e tínhamos como rivalidade maior a altitude, que consome a nossa resistência, mas conseguimos dosar e trabalhar em cima dos adversários”, afirmou Erlon, que somou o quinto ouro em cinco provas disputadas em Jogos Sul-Americanos, os outros quatro divididos entre as edições de Medellín, na Colômbia (2010), e Santiago, no Chile (2014). A prata ficou com Daniel Pacheo e Sergio Diaz, da Colômbia, e o bronze, com José Solano e Ronny Ratia, da Venezuela.
Todas as remadas levam a Tóquio
Dentro dessa perspectiva competitiva, Isaquias e Erlon remam no presente com os olhos no futuro próximo. Para eles, mundiais, etapas de Copa do Mundo, Sul-Americanos e Jogos Pan-Americanos são pontos intermediários de uma travessia que só fará sentido verdadeiro em Tóquio, no Japão, em 2020.
“O plano é mesmo a Olimpíada. Não adianta ganhar Mundial e Copa do Mundo e não ganhar Olimpíada. Eu fiquei surpreso com meu tempo. Foi absurdo para o que estou acostumado. Bati o recorde olímpico que era do Davi Cal, da Espanha (3min46s201, obtido em Atenas, na Grécia). Consegui ganhar do Brendel duas vezes. Era um objetivo passar dele, mas uma ou duas vezes não significa nada”, afirmou o brasileiro, que também mira, agora, o tcheco. “É tipo água mole em pedra dura. Vou continuar batendo até ‘furar’ os dois”, brincou Isaquias.
Para Erlon, vivenciar o ambiente de Jogos Sul-Americanos é importante para dissolver ao longo do ciclo olímpico a pressão de disputar megaeventos. “É mais um passo em nossa preparação. É um dos fatores que nos proporciona chegar aos Jogos Olímpicos sem pressão. Já experimentamos vila, uniforme, pódio, transporte, delegação. Assim, o que poderia ser pressão passa a ser normal”, afirma Erlon.
“É mais um passo em nossa preparação. É um dos fatores que nos proporciona chegar aos Jogos Olímpicos sem pressão. Já experimentamos vila, uniforme, pódio, transporte, delegação. Assim, o que poderia ser pressão passa a ser normal”
Erlon de Souza
Duas pratas no caiaque
O Brasil também subiu ao pódio nas outras duas provas do dia, disputadas com caiaque em distância de um quilômetro. Na primeira delas, o K1 1.000, o paranaense de Cascavel Vagner Souta, de 26 anos, conquistou a prata. O ouro ficou com o argentino Agustin Rodriguez, talento do país vizinho que tem no currículo uma medalha de bronze no mundial júnior, na prova de maratona (22,6km). O bronze ficou com o uruguaio Sebastian Curbelo.
“Foi uma prova boa. Eu vim confiante. Dei o meu melhor ali no final, quase busquei o ouro. Mas foi excelente. Os argentinos estão com a vantagem de estarem treinando há um mês na altitude. Vim controlado, mas no fim pesam braços, há uma fadiga, o corpo trava um pouco”, detalhou Souta. Ele disputa ainda a prova de K4 500, nesta quinta (7). “A ideia é pegar esse ouro”, afirmou o atleta, que disputa pela segunda vez os Jogos Sul-Americanos.
“No Chile, fiquei com uma prata no K2. Agora foi a minha primeira prova individual em Jogos Sul-Americanos. Na verdade, comecei a remar no K1 ano passado, e consegui uma final B de Mundial. Este ano estou crescendo e a ideia é chegar muito bem em 2020”, disse o atleta, que tem no horizonte próximo o Mundial da modalidade, em Portugal. “O foco é em uma boa colocação e brigar por uma final A. No próximo ano, já dá para pensar em pódio”.
Velocista e fundista
A segunda disputa do dia foi no K2 1.000m, com os brasileiros Edson Isaias e Roberto Maehler. Edson é por vocação um velocista. Gosta da prova dos 200m, mas tem um encaixe muito bom com Roberto. Com esse perfil, abriram vantagem no início, mas não tiveram condições de conter o ataque dos argentinos Agustin Rodriguez e Joaquin Malaval nos últimos 150 metros.
“Olha, foi além do esperado. Foi uma prova muito boa. Logo na saída pulamos na frente, mas não conseguimos reagir ao ataque deles no fim. Tivemos de manter o ritmo para terminar bem a prova. Acho mesmo que, se não fosse a altitude, conseguiríamos ter mantido o mesmo ritmo forte até o fim”, avaliou Maehler, que participou dos Jogos Rio 2016 no K4 de mil metros. O bronze ficou com a dupla formada por Erick Cabrera e Matias Otero, do Uruguai.
Nesta quinta-feira (7), as competições de canoagem preveem cinco provas. São quatro de caiaque e uma de canoa. Quatro no feminino e uma no masculino. Todas com representantes brasileiros inscritos.
Gustavo Cunha, de Cochabamba, na Bolívia – rededoesporte.gov.br