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Judô

25/07/2021 12h22

Tóquio 2021

Daniel Cargnin mantém tradição do judô e leva o bronze na categoria -66kg

Judoca da categoria meio-leve só perdeu uma luta, na semifinal, para o japonês que Hifumi Abe, que terminou como campeão olímpico

O gaúcho Daniel Cargnin, de 23 anos, determinou em Tóquio a manutenção de uma tradição de nove ciclos olímpicos. O judô brasileiro sobe ao pódio de forma ininterrupta em todas as edições desde 1984, em Los Angeles. Cargnin gravou seu nome nessa galeria ao conquistar o terceiro lugar na categoria meio-leve, até 66kg.

"Estou muito feliz. Eu me preparei muito. Só eu, meus amigos e minha família sabemos o quanto sofri quando os Jogos foram adiados. Sempre tive um sonho de medalhar aqui em Tóquio. Estou feliz demais com isso, com o processo que eu tive. Sem meus amigos, sem o apoio, teria sido muito difícil”, afirmou.

Foto: Breno Barros/ rededosporte.gov.br

Num dia em que esteve com iniciativa, consistência, qualidade técnica e confiança no tatame do Nippon Budokan, o brasileiro venceu quatro dos cinco combates que disputou na capital japonesa. O único tropeço foi na semifinal, diante do bicampeão mundial Hifumi Abe, que acabou a noite compartilhando o título olímpico com a irmã dele, Uta Abe, que venceu a categoria -52kg.

"Estou muito feliz. Eu me preparei muito. Só eu, meus amigos e minha família sabemos o quanto sofri quando os Jogos foram adiados. Sempre tive um sonho de medalhar aqui em Tóquio. Estou feliz demais com isso, com o processo que eu tive. Sem meus amigos, sem o apoio, teria sido muito difícil”
Daniel Cargnin

A confirmação do bronze de Cargnin veio numa disputa com o israelense Baruch Shmailov, de Israel, número oito do mundo. Com um waza-ari conquistado com 1min30s de luta, o brasileiro soube administrar a vantagem e referendar o pódio. "Depois de perder a semifinal, eu tentei me motivar. Pensei: esse cara lembra que já ganhei dele uma vez. Lutamos três vezes, ele ganhou duas, mas a última eu ganhei", brincou.

A vitória entre em uma das categorias mais leves e no masculino representa também a retomada de confiança num ciclo em que o Brasil não teve resultados tão expressivos entre os homens. Cargnin foi um dos mais consistentes. Conquistou o título pan-americano em 2019 e 2020, venceu o Grand Slam de Brasília e foi prata nos Jogos Pan-Americanos de Lima, ambos em 2019. O atleta já havia se destacado na categoria júnior ao faturar o ouro no Mundial de 2017, em Zagreb, e um bronze no de 2015, em Abu Dhabi.

"É uma situação difícil, mas eu estava pensando mais no que eu podia fazer. Todos precisam olhar para dentro de si para depois ajudar o coletivo. O judô brasileiro é muito forte. Sempre tive admiração. Fui sparring em 2016 para o Charles Chibana. Agora fiquei feliz em conseguir meu espaço. E confesso que estou com vontade de ir para casa para ver minha mãe", afirmou o atleta, muito conectado à família e que teve de se distanciar da mãe, Ana Rita, em função de ela ser enfermeira e atuar na linha de frente no combate à covid.

Mina de pódios

O judô é o esporte individual que mais rendeu medalhas ao Brasil na história dos Jogos Olímpicos. São 23, com quatro de ouro, três de prata e 16 de bronze, já levando em conta o de Cargnin. A delegação nacional tem 13 atletas na capital japonesa, seis no feminino e sete no masculino. Onze deles integram o Bolsa Atleta, programa de patrocínio individual do Governo Federal Brasileiro.

Dos 11 bolsistas, nove, incluindo Daniel Cargnin, fazem parte da categoria Pódio, a principal do programa, voltada para atletas que se posicionam entre os 20 melhores do mundo em sua modalidade.

No ciclo Rio–Tóquio, o judô brasileiro recebeu investimento direto, via Bolsa Atleta, de R$ 16,2 milhões. Os recursos representaram a concessão de 1.056 bolsas para praticantes do esporte. Daniel Cargnin também é atleta do Programa de Alto Rendimento das Forças Armadas, na Marinha do Brasil.

 O caminho de Cargnin

Mohamed Abdelmawgoud (Egito) - Primeira rodada

O caminho de Daniel Cargnin teve início contra o egípcio Mohamed Abdelmawgoud, décimo nono do ranking mundial, campeão africano em 2020 e terceiro colocado no Grand Prix de Tashkent, no Uzbequistão, em 2019. O combate foi truncado, com pouco espaço para entradas, e cada um recebeu uma punição no tempo regulamentar. No Golden Score, Daniel encontrou uma brecha na guarda do rival e aplicou um ippon aos nove segundos.

Denis Vieru (Moldávia) - Oitavas de final

Na sequência, Daniel superou nas oitavas de final a Denis Vieru, da Moldávia, número 15 do ranking da categoria -66kg, com um bronze conquistado no Mundial de 2019, no Japão, e uma terceira colocação no Campeonato Europeu de 2020. O combate também só foi resolvido no Golden Score, com um waza-ari aos 5min22s de tempo total no tatame.

Foto: Gaspar Nóbrega/COB

Manuel Lombardo (Itália) - Quartas de final

Na luta válida pelas quartas de final, Cargnin reencontrou o italiano Manuel Lombardo, um forte adversário a quem já havia vencido na final do Grand Slam de Brasília, em 2019. O italiano chegou aos Jogos Olímpicos como número um do rankning mundial e com a moral de quem foi campeão europeu e medalhista de prata no Mundial de Budapeste, em 2021, e com os títulos do Grand Slam de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, e da etapa do Grand Prix de Tel Aviv, em Israel, ambos em 2019.

A luta foi muito aberto, principalmente porque os dois têm estilos similares. Com uma penalidade para cada um, a luta seguia para o Golden Score quando Cargnin encaixou uma projeção computada como waza-ari e segurou a sete segundos do fim do tempo regulamentar e oficializou uma vaga entre os quatro semifinalistas.

Hifumi Abe (Japão) - Semifinal

Na semifinal, ele enfrentou o bicampeão mundial (2017 e 2018) Hifumi Abe, atual número cinco do mundo. No ciclo para Tóquio, Abe venceu o Grand Slam de Osaka (2019), de Dusseldorf (2020) e de Antalya, em 2021, além de ter sido terceiro colocado no Mundial de 2019, em Tóquio.

No combate, Cargnin não se intimidou com as credenciais do adversário. Mostrou postura, procurou a pegada, foi incisivo. Num momento de distração, contudo, permitiu a entrada de Abe e foi projetado em ippon. Foi a segunda vitória de Abe sobre o brasileiro no circuito. A outra havia sido nas quartas de final do Grande Slam de Dusseldorf, na Alemanha, em 2020.

Baruch Shmailov (Israel) - Disputa do bronze

A disputa do bronze foi com o israelense Baruch Shmailov, número oito do mundo. Com um waza-ari conquistado com 1min30s de luta, o brasileiro soube administrar a vantagem e referendar o pódio. Nessa processo, houve dois momentos de parada. Um quando Cargnin machucou o nariz e precisou estancar o sangue. E outro, quando o brasileiro executou um movimento que ficou no limiar da irregularidade ao puxar o braço do adversário. Mas deu tudo certo.

Gustavo Cunha, de Tóquio, no Japão - redeodesporte.gov.br