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Atletismo

16/08/2016 18h55

Entrevista

Da queda à consagração olímpica. O ouro que nem mesmo Thiago Braz imaginava

Saltador relata momentos vividos durante os últimos saltos que o consagraram como campeão olímpico, destaca o apoio da torcida brasileira e mostra foco em Tóquio 2020

Há quatro anos Thiago Braz alimentava um sonho: vencer uma Olimpíada em casa. Poucos poderiam imaginar que o garoto que começou a saltar aos 13 anos entraria tão rápido em um processo de lapidação que garantiria uma medalha olímpica até então inimaginável. Aos 18 anos, em 2012, foi campeão mundial júnior no salto com vara em Barcelona. Na noite de 17 de agosto de 2016, aos 22 anos, alcançou 6,03m em um salto simbólico e histórico. Como se ganhar uma medalha de ouro não fosse o suficiente, Thiago bateu o recorde olímpico e venceu o então campeão, o francês Renaud Lavillenie. Thiago fez o Estádio Olímpico tremer e deu um salto para, ao lado de Rafaela Silva, consagrar-se um herói brasileiro na Rio 2016.

"Eu não consigo descrever as sensações e como está sendo o dia para mim depois da vitória. É tudo muito novo. Ontem tudo deu certo. Pra mim, foi o dia certo e tudo foi perfeito. Quando eu vi que o sarrafo chegou aos 5.93 metros eu comecei a acordar para a prova e perceber que eu poderia alcançar um bom resultado e brigar por uma outra cor de medalha ", conta o atleta.

Foto: Francisco Medeiros/ brasil2016.gov.br

Abandonado pela mãe aos dois anos de idade, Thiago foi criado pelos avós, que deram força para que seguisse a carreira de atleta. Por meses, Braz esperou, com uma mochila nas costas, a volta da mãe. "Eu não sei da história completa, mas meus avós foram uma peça fundamental. Eu sempre fui acolhido pelos meus avós e eles sempre tentavam me explicar que, independente do erro dos meus pais, eles merecem o meu perdão. A importância da minha família é cem por cento", disse o saltador.

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Além do apoio dos avós, Thiago entrou no atletismo, aos 13 anos, por influência do tio, Fabiano Braz, atleta do decatlo. A carreira começou em Marília (SP). Com apenas 16 anos, Thiago já mostrava um grande desempenho. O jovem saltador participou dos Jogos Olímpicos da Juventude de Cingapura, em 2010, quando ganhou uma prata. Ainda naquele ano, foi ouro no Sul-Americano juvenil.

"Quando vi a medalha do tiro esportivo, do Felipe Wu, aqui no Rio, eu me recordei dos meus momentos em Singapura. Isso foi um incentivo para tentar a medalha em casa. Nos Jogos da Juventude eu pude visualizar o que era uma pequena Olimpíada. Nós não pensávamos em pegar uma medalha, só participar. Mas desde que ganhei aquela medalha, eu comecei a acreditar mais que um bom resultado poderia vir no futuro", relata.

Sob acompanhamento de Elson Miranda, técnico da campeã mundial Fabiana Murer, Thiago viu, aos poucos, seu destino ser traçado. A seriedade e foco do atleta foram determinantes e ele foi escolhido para ser treinado por ninguém menos que Vitaly Petrov, mentor de dois mitos da modalidade: o ucraniano Sergey Bubka e a russa Yelena Isinbayeva. Foi então que deixou o Brasil e seguiu em direção à ascensão internacional. Desde 2014, Thiago vive e treina em Formia, na Itália, ao lado de Petrov, com investimentos do Comitê Olímpico do Brasil (COB).

"Eu preciso ser um pouco pai, ditador e amigo e é isso o que temos feito nos últimos meses. Todo atleta sabe que vai treinar sabe que não é fácil, mas o objetivo que ele traçou foi aguentar meu treino para obter o resultado que teve. O que fez a diferença foi a saída do amadorismo para o profissionalismo. Isso aconteceu quando Thiago entendeu sobre o que precisava abrir mão. Hoje ele é um profissional e mostrou isso representando o Brasil da maneira que representou ontem à noite", disse Petrov, técnico com 31 medalhas em campeonatos e mundiais.

Foto: Francisco Medeiros/ brasil2016.gov.br

Lesão

O caminho traçado pelo saltador não foi só de bons momentos. Uma lesão quase tira Thiago do atletismo. Em 2014, o alteta viveu seu primeiro grande desafio profissional. Após sofrer uma queda, fraturou a mão esquerda e fez uma cirurgia. "Pensei que iria ter que abandonar a modalidade", conta. A lesão veio no momento em que suas marcas começavam a melhorar e ele chegava a saltos cada vez mais altos.

A volta por cima foi consagrada nos Jogos Olímpicos Rio 2016. Thiago afirma que viu um filme passar antes do último salto, mostrando sua história. "Eu consegui relembrar todos os meus momentos, dos bons aos ruins em todas as competições. Foi o momento em que eu pensei que eu acredito no que posso ser e que eu posso saltar", conta.

O salto de 17 de agosto, histórico, quebrou o jejum de 32 anos de recordes olímpios no atletismo brasileiro. "Eu não imaginei que iria ganhar um ouro e eu não sei quais resultados essa conquista vai me trazer. Mas a torcida me ajudou muito. Fiquei surpreso, me arrepiei na prova, tentei manter a concentração e o equilíbrio. Eu foquei no que precisava ser feito", disse.

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Guia de Atletas e Modalidades Olímpicas do Ministério do Esporte (disponível em versão digital – PDF)

Com um estádio lotado e em sua primeira Olimpíada, Thiago poderia ter cedido à pressão da torcida, mas mais uma vez mostrou que os trabalhos desenvolvidos não foram à toa. "Tentei usar o meu emocional, meu profissional e tudo o que a torcida me dava naquele momento. Eles estavam me empurrando para que eu passasse todas as alturas. Eles realmente torciam para que eu ganhasse e isso me ajudou muito", relata o atleta, que aumentou em 11 centímetros a sua própria marca em provas abertas.

O recorde olímpico também foi muito comemorado por Thiago, que fez questão de posar para fotos em frente ao marcador. "Eu nem pensei em bater o recorde olímpico. O que eu queria era a medalha de ouro. Só depois que eu parei para pensar e comecei a ligar as coisas: sou o primeiro do mundo; sou campeão olímpico; e bati o recorde olímpico. Tudo isso foi só criando cada vez mais um sorriso na minha boca", conta Braz.

Mostrando determinação e seriedade, Thiago, aos 22 anos, diz que, agora, buscará o recorde mundial e manterá o foco nas próximas competições. "A gente trabalhou muito para que desse certo e o povo brasileiro pudesse ficar satisfeito e eu fico muito agradecido por tudo isso. A bolsa-atleta veio num momento muito importante para toda a equipe e até para as viagens. Isso tem um impacto muito grande. Fez a diferença", finaliza o saltador lembrando da preparação para os Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020.

Galeria de fotos (disponíveis para uso editorial gratuito, desde que creditadas para Francisco Medeiros/ brasil2016.gov.br)

Thiago Braz

Leonardo Dalla - brasil2016.gov.br