Geral
Jogos Paralímpicos de Inverno
Coreanos abrem os Jogos Paralímpicos com aposta numa "coexistência apaixonada"
Coexistência e paixão. Uma, tratada como valor essencial. A outra, como sentimento indispensável. Foi a partir dessa dualidade que a Cerimônia de Abertura dos Jogos Paralímpicos de Inverno de PyeongChang construiu sua mensagem na noite desta sexta-feira (9.03), na Coreia do Sul. O evento, sob um frio de -3º C e sensação térmica de até -10ºC, abre a competição que reúne 570 atletas, de 49 países, para 80 provas com medalhas, em seis modalidades, até o dia 18.
Segundo o diretor criativo do show, o coreano Sunwoong Koh, paixão é "a fonte de energia que nos leva ao movimento e nos possibilita criar um mundo onde não há distinção entre as pessoas em função de suas deficiências, mas um reconhecimento das diferenças entre as pessoas".
Diferenças que, segundo o script do show, não impedem sonhos. Na verdade, os potencializam. No plano auditivo, um toque de um enorme tambor por um músico com prótese no braço e na perna dá as boas vindas ao público e convida outros instrumentistas a seguirem o ritmo, que remete artisticamente à pulsação dos atletas.
No plano sensorial, múltiplas projeções no palco representam desenhos imaginados por Sojeong, uma menina com deficiência visual. Os traços reforçam que a limitação só existe no plano das ideias. Animais, pipas, skates, barcos, cores e formas preenchem o círculo central do Estádio Olímpico. Na sequência, um barco adaptado com jeitão de roda gigante invade o cenário e levanta voo com Sojeong.
"Tudo começa com um sonho. Grandes histórias, grandes conquistas, grandes dramas. Nos próximos dez dias, bilhões de pessoas ao redor do mundo vão testemunhar sonhos se tornando realidade em PyeongChang"
Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Internacional
"Tudo começa com um sonho. Grandes histórias, grandes conquistas, grandes dramas. No sonho, tudo é possível. Nos próximos dez dias, bilhões de pessoas ao redor do mundo vão testemunhar sonhos se tornando realidade em PyeongChang", afirmou o brasileiro Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Internacional. "A jornada inclui o sonho de competir, de representar seu país, de ganhar uma medalha e escrever seu nome na história. A partir de amanhã, esses atletas vão realizar feitos que muitos não ousam nem sonhar".
O próprio sentido de coexistência, no fim das contas, tem um quê de sonho na Coreia, diante das questões não resolvidas entre Sul e Norte. Se nas Olimpíadas os dois lados desfilaram juntos, nos Jogos Paralímpicos a opção foi pela separação. Mas isso não impediu que o desfecho da cerimônia e do tour da tocha tivesse uma nova aposta no diálogo, no convívio pacífico.
Primeiro, numa chamada à coexistência da ideologia, com um atleta de cada Coreia: Choi Bogue (do Sul, com deficiência visual, compete no biatlo e no esqui cross-country) e Ma Yu Chol (do Norte, do esqui cross country sentado) compartilharam a chama.
Na sequência, um aceno para a convivência global, com uma atleta sul-coreana (Seo Vo Ra Mi) e um técnico canadense, Kaspar Wirz. Em seguida, a abordagem da convivência respeitosa entre gerações, com pai e filho lado a lado. O pai, Park Eun Chong, ficou conhecido por completar uma prova de triatlo empurrando no carrinho o filho, Park Ji Hoon, que tem uma rara doença.
Eles entregam a chama para um exemplo de harmonia entre deficientes e não deficientes, exposto num atleta cego, Yang Jae Rim, do esqui alpino, e um guia, Go Eun Sori. Quase no fim da rampa, o jogador de hóquei Ho Min Su mostra a paixão pelo esporte escalando com uma corda os metros finais do percurso com uma prótese na perna.
No último ato, um reforço à coexistência no esporte: Seo Soonseok, atleta paralímpico, e Kim EunJung, atleta olímpico, ambos do curling, acendem a pira juntos. A união entre as duas vertentes do esporte remete ao pioneirismo dos coreanos nos Jogos de Seul, em 1988. Foi lá a primeira vez que os eventos olímpicos e paralímpicos foram disputados na mesma cidade e na mesma época.
Sonho nacional
Entre os 470 inscritos no evento, três são brasileiros. E uma, em especial, viveu com ainda mais intensidade a aura proporcionada no Estádio Olímpico de PyeongChang. Aline Rocha é a primeira atleta nacional nos Jogos de Inverno e a primeira a fazer a dobradinha com os Jogos de Verão. Adicionou a esse currículo a função de ser porta-bandeira da delegação nacional. O time desfilou com 12 integrantes, levando em conta também técnicos e profissionais de área médica.
"Foi tudo perfeito. Quando me entregaram a bandeira, todos vibraram. Acho que conseguimos passar toda a nossa alegria quando entramos. Foi pura emoção, estamos todos em êxtase"
Aline Rocha
"Foi tudo perfeito. Quando me entregaram a bandeira, todos vibraram. Acho que conseguimos passar toda a nossa alegria quando entramos. Foi pura emoção, estamos todos em êxtase", afirmou Aline. "O esporte é maravilhoso, tem o poder de mudar vidas. É incrível poder fazer parte de tudo isso", completou a paranaense de 26 anos. Aline sofreu uma lesão medular na adolescência após um acidente de carro. Ela faz na tarde deste sábado o último treino antes da primeira de suas três provas individuais: os 12km do esqui cross-country, competição de fundo, comparável à maratona no atletismo.
Os outros dois atletas da delegação nacional tem perfis opostos. O adolescente Cristian Ribera, de 15 anos, é o caçula dos Jogos Paralímpicos de PyeongChang. Ele está inscrito nas mesmas provas de Aline Rocha no esqui cross-country. Também estreia neste domingo, dia 11. O veterano André Cintra, de 38 anos, disputará o snowboard a partir de segunda-feira em sua segunda Paralimpíada de Inverno. A primeira participação dele foi em Sochi, na Rússia, há quatro anos.
Confira a íntegra da Cerimônia de Abertura
Gustavo Cunha, de PyeongChang, rededoesporte.gov.br