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Tóquio 2021
Conto de fadas à brasileira: Rayssa Leal é prata no skate street
Uma fada brasileira que escreveu a própria história. Desde que um vídeo de Rayssa Leal andando de skate vestida de fadinha viralizou há seis anos, a vida da garota nascida em Imperatriz (MA) mudou: ela conheceu ídolos como Leticia Bufoni e Tony Hawk, viajou o mundo e passou a sustentar a família com os ganhos na modalidade. Foram muitos incentivos, inspirações e obstáculos até chegar aos Jogos Olímpicos, os primeiros do skate.
“Eu fico muito feliz de saber de todas as meninas que já me mandaram mensagens no Instagram falando que começaram a andar de skate ou que os pais deixaram elas começarem a andar por causa de um vídeo meu. Foi a mesma coisa comigo. Eu estar aqui e segurar uma medalha olímpica é muito importante"
Rayssa Leal
Nesta segunda (26.07), na pista de skate street do Ariake Urban Sports Park, em Tóquio, no Japão, Rayssa escreveu um capítulo que promete ser o início de muitas outras histórias, em especial as de meninas brasileiras, como ela. A maranhense de 13 anos e 6 meses conquistou a medalha de prata no street e se tornou a mais jovem medalhista olímpica brasileira de todos os tempos.
“Eu fico muito feliz de saber de todas as meninas que já me mandaram mensagens no Instagram falando que começaram a andar de skate ou que os pais deixaram elas começarem a andar por causa de um vídeo meu. Foi a mesma coisa comigo: mostrei um vídeo da Leticia (Bufoni) andando de skate, aí meu pai viu e falou: ‘Beleza’. A minha história e de muitas outras skatistas que quebraram esse preconceito, essa barreira que skate era só para meninos, para homens. Eu estar aqui e segurar uma medalha olímpica é muito importante pra mim”, conta a menina de 35kg e 1,47m.
Rayssa começou a disputa em Tóquio ao lado de outras duas brasileiras: Pâmela Rosa, primeira no ranking mundial da modalidade, e Leticia Bufoni, ela mesma, que inspirou a própria Rayssa a começar na modalidade. As duas, no entanto, tiveram dificuldades e não conseguiram avançar para a final. Pâmela depois postou uma foto do tornozelo esquerdo inchado, mostrando que competiu no sacrifício. E Leticia viu a final escapar por um triz, depois de calcular errado a nota que precisava para avançar.
Investimento federal
Integrado ao Bolsa Atleta a partir da inclusão da modalidade no programa Olímpico, o skate recebeu investimento de R$ 3,2 milhões no ciclo para Tóquio. Os recursos foram suficientes para a concessão de 65 bolsas para atletas da modalidade. O outro medalhista brasileiro em Tóquio, Kelvin Hoefler, que também ganhou uma prata no street, faz parte do programa na categoria Bolsa Pódio, a mais alta. Como a idade mínima para entrar no Bolsa Atleta é de 14 anos, Rayssa ainda não é beneficiada.
As competições de skate nos Jogos Olímpicos de Tóquio retornam no dia 4 de agosto, com a disputa do park feminino. No dia seguinte, é a vez dos homens disputarem medalhas na modalidade. No skate park, o Brasil terá seis atletas: Dora Varella, Isadora Pacheco e Yndiara Asp no feminino, e Luiz Francisco, Pedro Barros e Pedro Quintas no masculino.
Ver essa foto no InstagramUma publicação compartilhada por Secretaria Especial do Esporte (@esportegovbr)
Brincadeira de criança
Se o sonho de uma dobradinha ou quem sabe até um trio no pódio acabou ali, o de Rayssa Leal estava apenas começando. Dançando, brincando, sorrindo, ela parecia não sentir pressão alguma e aos poucos ia conseguindo as notas de que precisava. “Eu tento me divertir ao máximo, porque tenho certeza de que se me divertir, deixar acontecer naturalmente, a coisa flui”, explica. No fim, somou 14.64 pontos, garantindo a prata. O ouro foi para a japonesa Momiji Nishiya, também de 13 anos, que fez 15.26, e o bronze ficou com a também nipônica Funa Nakayama, de 16, com 14.49.
Depois de receber a medalha, Rayssa continuou se divertindo e brincando até mesmo na hora de falar com os jornalistas. A mascote que ela ganhou de repente virou “meu bebezinho”. Sobre a medalha de meio quilo, Rayssa brincou: "Ela pesa mais que eu”. E quando foi informada que já estava com mais de 2 milhões de seguidores no Instagram, soltou um grito: “Quê? O que é isso, minha gente?”. Com a confirmação da informação (durante a produção deste texto, o número já havia subido para 2 milhões e 200 mil), ela não escondeu a felicidade. “Desde que comecei nas redes sociais, sempre foi um sonho ganhar meu primeiro milhão de seguidores, e agora tenho dois?”, espantou-se a mais nova medalhista brasileira .
Mateus Baeta, de Tóquio, no Japão – rededoesporte.gov.br