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Atletismo paralímpico

02/09/2021 04h36

Atletismo

Com quebra de recorde paralímpico, Alessandro Rodrigo conquista bicampeonato no lançamento de disco em Tóquio

Brasil explora toda a paleta de cores do pódio no atletismo nesta quarta, com prata de Marivana Nóbrega, no arremesso de peso, e bronze de Mateus Evangelista, no salto em distância

Nome mais dominante no lançamento de disco da classe F11 (para atletas com deficiência visual), Alessandro Rodrigo superou no Japão a própria campanha dos Jogos Rio 2016. Na noite desta quarta-feira no horário brasileiro, no Estádio Olímpico de Tóquio, o paulistano estabeleceu novo recorde paralímpico, com 43m16, e conquistou o bicampeonato. O iraniano Mahdi Olad foi prata, ao lançar a 40m60, e o italiano Oney Tapia completou o pódio com 39m11.

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Alessandro Rodrigo é bicampeão paralímpico do lançamento do disco na classe F11. Foto: Pedro Ramos/rededoesporte.gov.br

Também dono do recorde mundial (46m10, conquistado em Doha, em 2019), Alessandro dominou a prova do início ao fim, o que para ele, trouxe uma responsabilidade maior durante a disputa. “Não foi tranquilo. Quando a gente está em primeiro, sabemos que o pessoal vai arriscar. E todos os que estão aqui são muito bons. É importante não só fazer o melhor, como manter o melhor”, diz.

Eu treinei em terreno vazio, o que não era o local adequado, tive covid, rompimento no peitoral neste ano, além de uma lesão no joelho e meu pai faleceu há quatro meses. Foi um turbilhão de coisas. Mas agora é hora de mostrar ao Brasil que mesmo na adversidade a gente consegue ter um bom desempenho”
Alessandro Rodrigo

O resultado em Tóquio, segundo ele, vem de um trabalho árduo realizado num ciclo que impôs diversos desafios, como lesão no joelho e no peito, falecimento do pai, além das restrições impostas pela pandemia e o covid.

“O ciclo foi difícil para todo mundo. Eu treinei em terreno vazio, o que não era o local adequado, tive covid, rompimento no peitoral neste ano, além de uma lesão no joelho e meu pai faleceu há quatro meses. Foi um turbilhão de coisas. Mas agora é hora de mostrar ao Brasil que mesmo na adversidade a gente consegue ter um bom desempenho”, conta o atleta que, na última segunda-feira (30), conquistou a prata no arremesso de peso F11.

Questionado se a chuva, que não deu trégua durante toda a prova, foi um desafio a mais, Rodrigo destacou que encarou o clima como sinal de sorte. “Durante toda a nossa aclimatação em Hamamatsu tivemos dois dias de sol e 16 de chuva, então hoje o dia foi um presente de Deus. Assim como o Ayrton Senna ganhava na chuva, eu não posso reclamar. Hoje estou com sentimento de dever cumprido”, completa.

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Alessandro Rodrigo em três tempos para garantir o ouro nos Jogos de Tóquio. Foto: Pedro Ramos/rededoesporte.gov.br

Do bronze à prata

Com a marca de 9m15, a alagoana Marivana Nóbrega faturou a prata na prova de arremesso de peso F35, a segunda dela em Jogos Paralímpicos. A campeã da prova foi a ucraniana Marilia Pomazan (12m24) e Anna Luxova, da República Tcheca, ficou com o bronze (8m60).

“Eu arrisquei. Fui para cima logo no início. Não foi a minha melhor marca, mas eu travei depois. O importante é que veio a medalha. Volto para casa com a sensação de dever cumprido”, avalia a atleta, bronze nos Jogos Rio 2016, no Parapan de Lima e Mundial de Dubai, ambos em 2019.

Já de olho no próximo ciclo, a atleta destaca que a ideia é reforçar os treinos para chegar ainda mais forte. “Vamos mudar a chavinha a partir de agora. Focar no novo ciclo, trabalhar na humildade, com pesinho no chão e sempre buscar o melhor”, completa a atleta, que tem paralisia cerebral em função de falta de oxigenação no cérebro. A lesão limita o movimento de seus membros inferiores.

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Marivana com a prata na prova do arremesso de peso F35. Foto: Pedro Ramos/rededoesporte.gov.br

Da prata ao bronze

Prata no salto em distância nos Jogos Rio 2016, Mateus Evangelista conquistou, pela classe T37 (paralisia cerebral), o bronze nos Jogos de Tóquio, com a marca de 6m05. O ucraniano Vladyslav Zahrebelnyi, que saltou a 6m59, e o argentino Leonel Brian, que alcançou 6m44, completaram o pódio.

De acordo com ele, o resultado poderia ser melhor, mas a meta pessoal era subir ao pódio. “Estamos num ciclo diferente, mais longo, de cinco anos, já é uma vitória que não tem preço. Eu sei da capacidade do meu salto. Fiz aqui minha melhor marca do ano eu saio feliz. Não era a cor esperada com certeza, mas o resultado final era subir no pódio”, afirma.

A aposta do atleta para o próximo ciclo é priorizar o salto. “Quero fazer uma base mais forte e evoluir no salto. Se já era a minha prova específica, agora vai ser mais ainda. O nível está alto e se a classe está evoluindo, tenho que evoluir junto”, avalia o atleta que no ciclo Rio - Tóquio, foi medalhista no salto em distância no Mundial de Dubai, em 2019, e no mundial de Londres, em 2017.

Em Tóquio, ele competiu na prova dos 100m, classe T37 (atleta com coordenação limitada) e terminou em quinto. Em 2017, foi ouro nessa prova no Mundial de Londres e no Parapan de Lima.

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Mateus Evangelista: bronze no salto em distância na classe T37. Foto: Pedro Ramos/rededoesporte.gov.br

Recurso na ponta

Com 19 medalhas conquistadas até o momento em Tóquio, o atletismo recebeu investimentos da ordem de R$ 61,67 milhões no ciclo entre Rio de Janeiro e Tóquio (2017 a 2021) por meio do Bolsa Atleta. O programa, executado pela Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania, prevê o repasse de recursos diretamente para os atletas.

Foram concedidas no período mais de duas mil bolsas para o atletismo paralímpico. Para se ter uma ideia do alcance da iniciativa, dos 65 convocados para a seleção brasileira em Tóquio, 64 são atualmente contemplados pelo programa, incluindo todos os atletas que competiram na noite desta quarta-feira (1º). “A Bolsa Pódio é essencial. Eu consigo só treinar e focar nos meus treinos, além de comprar equipamentos de última geração”, destaca Marivana.

O investimento direto nesse grupo, neste ciclo, foi de R$ 30,96 milhões. Cinquenta e cinco deles integram a categoria Pódio, a principal do programa, voltada para quem se qualifica entre os 20 melhores do mundo em sua modalidade. A categoria Pódio prevê repasses que variam de R$ 5 mil a R$ 15 mil mensais de acordo com os resultados esportivos dos atletas.

Atletismo - Jogos Paralímpicos de Tóquio

Outros resultados

Estreantes em Jogos Paralímpicos, Tuany Siqueira e Julyana da Silva terminaram em 5º e 6º na prova de arremesso de peso F57 (competem em cadeiras de rodas), com as marcas de 9m87 e 9m45, respectivamente. O pódio foi formado por Sofia Djelal, da Argélia (11m29), Mian Xu, da China (10m81) e pela nigeriana, Eucharia Iyiazi (10m40).

Cynthia Ribeiro, de Tóquio, no Japão -rededoesporte.gov.br