Atletismo paralímpico
Atletismo
Com quebra de recorde paralímpico, Alessandro Rodrigo conquista bicampeonato no lançamento de disco em Tóquio
Nome mais dominante no lançamento de disco da classe F11 (para atletas com deficiência visual), Alessandro Rodrigo superou no Japão a própria campanha dos Jogos Rio 2016. Na noite desta quarta-feira no horário brasileiro, no Estádio Olímpico de Tóquio, o paulistano estabeleceu novo recorde paralímpico, com 43m16, e conquistou o bicampeonato. O iraniano Mahdi Olad foi prata, ao lançar a 40m60, e o italiano Oney Tapia completou o pódio com 39m11.
Também dono do recorde mundial (46m10, conquistado em Doha, em 2019), Alessandro dominou a prova do início ao fim, o que para ele, trouxe uma responsabilidade maior durante a disputa. “Não foi tranquilo. Quando a gente está em primeiro, sabemos que o pessoal vai arriscar. E todos os que estão aqui são muito bons. É importante não só fazer o melhor, como manter o melhor”, diz.
Eu treinei em terreno vazio, o que não era o local adequado, tive covid, rompimento no peitoral neste ano, além de uma lesão no joelho e meu pai faleceu há quatro meses. Foi um turbilhão de coisas. Mas agora é hora de mostrar ao Brasil que mesmo na adversidade a gente consegue ter um bom desempenho”
Alessandro Rodrigo
O resultado em Tóquio, segundo ele, vem de um trabalho árduo realizado num ciclo que impôs diversos desafios, como lesão no joelho e no peito, falecimento do pai, além das restrições impostas pela pandemia e o covid.
“O ciclo foi difícil para todo mundo. Eu treinei em terreno vazio, o que não era o local adequado, tive covid, rompimento no peitoral neste ano, além de uma lesão no joelho e meu pai faleceu há quatro meses. Foi um turbilhão de coisas. Mas agora é hora de mostrar ao Brasil que mesmo na adversidade a gente consegue ter um bom desempenho”, conta o atleta que, na última segunda-feira (30), conquistou a prata no arremesso de peso F11.
Questionado se a chuva, que não deu trégua durante toda a prova, foi um desafio a mais, Rodrigo destacou que encarou o clima como sinal de sorte. “Durante toda a nossa aclimatação em Hamamatsu tivemos dois dias de sol e 16 de chuva, então hoje o dia foi um presente de Deus. Assim como o Ayrton Senna ganhava na chuva, eu não posso reclamar. Hoje estou com sentimento de dever cumprido”, completa.
Do bronze à prata
Com a marca de 9m15, a alagoana Marivana Nóbrega faturou a prata na prova de arremesso de peso F35, a segunda dela em Jogos Paralímpicos. A campeã da prova foi a ucraniana Marilia Pomazan (12m24) e Anna Luxova, da República Tcheca, ficou com o bronze (8m60).
“Eu arrisquei. Fui para cima logo no início. Não foi a minha melhor marca, mas eu travei depois. O importante é que veio a medalha. Volto para casa com a sensação de dever cumprido”, avalia a atleta, bronze nos Jogos Rio 2016, no Parapan de Lima e Mundial de Dubai, ambos em 2019.
Já de olho no próximo ciclo, a atleta destaca que a ideia é reforçar os treinos para chegar ainda mais forte. “Vamos mudar a chavinha a partir de agora. Focar no novo ciclo, trabalhar na humildade, com pesinho no chão e sempre buscar o melhor”, completa a atleta, que tem paralisia cerebral em função de falta de oxigenação no cérebro. A lesão limita o movimento de seus membros inferiores.
Da prata ao bronze
Prata no salto em distância nos Jogos Rio 2016, Mateus Evangelista conquistou, pela classe T37 (paralisia cerebral), o bronze nos Jogos de Tóquio, com a marca de 6m05. O ucraniano Vladyslav Zahrebelnyi, que saltou a 6m59, e o argentino Leonel Brian, que alcançou 6m44, completaram o pódio.
De acordo com ele, o resultado poderia ser melhor, mas a meta pessoal era subir ao pódio. “Estamos num ciclo diferente, mais longo, de cinco anos, já é uma vitória que não tem preço. Eu sei da capacidade do meu salto. Fiz aqui minha melhor marca do ano eu saio feliz. Não era a cor esperada com certeza, mas o resultado final era subir no pódio”, afirma.
A aposta do atleta para o próximo ciclo é priorizar o salto. “Quero fazer uma base mais forte e evoluir no salto. Se já era a minha prova específica, agora vai ser mais ainda. O nível está alto e se a classe está evoluindo, tenho que evoluir junto”, avalia o atleta que no ciclo Rio - Tóquio, foi medalhista no salto em distância no Mundial de Dubai, em 2019, e no mundial de Londres, em 2017.
Em Tóquio, ele competiu na prova dos 100m, classe T37 (atleta com coordenação limitada) e terminou em quinto. Em 2017, foi ouro nessa prova no Mundial de Londres e no Parapan de Lima.
Recurso na ponta
Com 19 medalhas conquistadas até o momento em Tóquio, o atletismo recebeu investimentos da ordem de R$ 61,67 milhões no ciclo entre Rio de Janeiro e Tóquio (2017 a 2021) por meio do Bolsa Atleta. O programa, executado pela Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania, prevê o repasse de recursos diretamente para os atletas.
Foram concedidas no período mais de duas mil bolsas para o atletismo paralímpico. Para se ter uma ideia do alcance da iniciativa, dos 65 convocados para a seleção brasileira em Tóquio, 64 são atualmente contemplados pelo programa, incluindo todos os atletas que competiram na noite desta quarta-feira (1º). “A Bolsa Pódio é essencial. Eu consigo só treinar e focar nos meus treinos, além de comprar equipamentos de última geração”, destaca Marivana.
O investimento direto nesse grupo, neste ciclo, foi de R$ 30,96 milhões. Cinquenta e cinco deles integram a categoria Pódio, a principal do programa, voltada para quem se qualifica entre os 20 melhores do mundo em sua modalidade. A categoria Pódio prevê repasses que variam de R$ 5 mil a R$ 15 mil mensais de acordo com os resultados esportivos dos atletas.
Outros resultados
Estreantes em Jogos Paralímpicos, Tuany Siqueira e Julyana da Silva terminaram em 5º e 6º na prova de arremesso de peso F57 (competem em cadeiras de rodas), com as marcas de 9m87 e 9m45, respectivamente. O pódio foi formado por Sofia Djelal, da Argélia (11m29), Mian Xu, da China (10m81) e pela nigeriana, Eucharia Iyiazi (10m40).
Cynthia Ribeiro, de Tóquio, no Japão -rededoesporte.gov.br