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Natacao paralímpica

17/09/2016 23h00

Natação

Com 24 pódios, Daniel Dias sai do patamar de ídolo nacional para lenda paralímpica

Ouro e bronze no último dia de provas no Rio levaram o brasileiro a superar as 23 medalhas do australiano Matthew Cowdrey. Bronze no revezamento veio na batida de mão

Entre tantos momentos inesquecíveis desde 5 de agosto, a Rio 2016 guardou para o final um dos mais especiais para a torcida brasileira. O nadador Daniel Dias transformou a rotina de subir ao pódio em algo histórico. Com o ouro nos 100m livre S5 e o bronze no revezamento 4 x 100m medley 34 pontos, o atleta chegou a 24 medalhas em Jogos Paralímpicos e se tornou o maior medalhista da natação neste sábado (17.09), no Estádio Aquático do Parque Olímpico da Barra.

Antes dos 100% de aproveitamento de pódios em finais, Daniel se manteve focado. Desconversava quando o assunto era o recorde do australiano Matthew Cowdrey. Mas quando veio a confirmação da 24ª medalha, no momento em que Phelipe Rodrigues bateu na parede da piscina na prova por equipe, foi impossível segurar as lágrimas dele e do grupo. Daniel recebeu abraços e homenagens até dos adversários.

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Daniel Dias com o ouro conquistado na prova dos 100m livre S5, o quarto dele nos Jogos rio 2016. Foto: Miriam Jeske/Brasil2016.gov.br

O choro teve ainda uma causa a mais: o cansaço acumulado e superado. Daniel vinha de sete finais com eliminatórias antes das provas de hoje. Menos de uma hora depois de vencer, com folga, a final dos 100m livre S5, ele já teve de cair na piscina de novo para abrir o revezamento. Chegou a falar francamente para os companheiros do desgaste físico, mas demonstrou na piscina o espírito de equipe e determinação que motivou os outros três nadadores.

"Confesso que não parei para pensar (no recorde) ainda. Meu objetivo aqui era conquistar medalhas no individual e ajudar meus companheiros no revezamento. Estou feliz demais por nadar em casa, e acredito que o esporte paralímpico nunca mais será o mesmo depois disso aqui"
Daniel Dias

"Sei o quanto ele estava sentindo dores. Depois de ter visto a prova dos 100m livre, eu estava lá atrás. Só pedi para Papai do Céu que desse forças para ele fazer o que faz de melhor. Ele mostrou para mim o quanto estava cansado. Uma prosa de cinco, dez minutos antes da prova trouxe à tona tudo o que ela representa, tudo o que a gente fez durante a competição. Foi um recado de que a gente não iria parar de fazer força até bater na parede", disse Andre Brasil, terceiro a nadar pela equipe, e que "passou o bastão" para Phelipe na quinta colocação.

O que se passou depois misturou alegria e alívio. Daniel Dias recebeu as medalhas dos outros dias com o mesmo sorriso e naturalidade de sempre, só que não resistiu ao último ouro dele. Chorou, tal qual o filho Asaph, de dois anos. No pódio, recebeu a medalha do presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro, Andrew Parsons, e o chamou para ouvir o Hino Nacional ao lado dele, numa quebra de protocolo que emocionou até o dirigente.

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A chegada incrível de Phelipe Rodrigues para garantir o bronze no revezamento e a celebração do quarteto: Daniel Dias, Ruan de Souza, André Brasil e Phelipe. Foto: Miriam Jeske/Brasil2016.gov.br

"Confesso que não parei para pensar (no recorde) ainda. Estou sem voz de tanto gritar no revezamento. Já é uma alegria imensa ajudar meu país. Meu objetivo aqui era conquistar medalhas no individual e ajudar meus companheiros no revezamento. Estou feliz demais por nadar em casa, e acredito que o esporte paralímpico nunca mais será o mesmo depois disso aqui", afirmou Daniel.

"Estou muito orgulhoso de nadar ao lado do Daniel, do André e do Phelipe. É uma sensação única, uma experiência que vai ficar marcada para sempre. Estou muito feliz com o nosso resultado", afirmou Ruan de Souza, quarto integrante do revezamento medalhista de bronze.

Com nove medalhas no Rio, Daniel Dias igualou o desempenho de Pequim-2008, mas conquistou menos ouros do que em Londres (seis em 2012, contra quatro no Rio). Ainda assim, não há discussão para Daniel. Não houve Paralimpíada mais especial do que a Rio 2016. "Muito melhor (que Londres). Foi espetacular aqui! Nunca escutei tanto barulho debaixo d'água. Tenho que agradecer ao público. A gente riu e chorou junto, hoje eu estava meio chorão", disse.

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Ídolo de toda uma geração de nadadores, Clodoaldo Silva se despediu dos Jogos Paralímpicos neste sábado. Foto: Miriam Jeske/Brasil2016.gov.br

O adeus de Clodoaldo

Outro momento emocionante foi a despedida de Clodoaldo Silva. Daniel é fã declarado do "tubarão", e procurou a natação em 2004, após se encantar com as medalhas dele em Atenas. Os dois nadaram juntos nos 100m livre S5, e o ídolo terminou em oitavo. Ao fim das cerimônias de premiação, Daniel conduziu Clodoaldo na cadeira de rodas e pediu aplausos da torcida, já que era a última prova dele em Jogos Paralímpicos.

"Foi incrível, né? Antes de a gente entrar na piscina, a gente conversou e quase chorou. Falei que era uma honra nadar uma final ao lado dele. Último dia, não tinha como terminar melhor. Pude começar no esporte olhando para ele. Tenho que agradecer muito ao Clodoaldo, todos nós temos que agradecer pelo que ele fez pelo esporte paralímpico brasileiro", comentou.

A última parada de Daniel antes das entrevistas refletiu o desejo dele para os próximos dias. Ele entregou o mascote Tom de cabelos dourados ao filho caçula, Danielzinho, e o beijou após receber ele dos braços da esposa. "Quero abraçar mais meus filhos, curtir minha família e não pensar em natação por um tempo".

Balanço final

A natação brasileira conquistou 19 medalhas ao todo na Rio 2016. Logo depois do ouro histórico de Daniel Dias, foi a vez de Joana Neves disputar a final feminina dos 100m livre S5. Ele chegou com o quinto melhor tempo na eliminatória, mas pegou o embalo positivo da torcida para chegar ao bronze, no 2º pódio dela, única mulher com duas medalhas individuais.

Joana conta que a evolução no resultado estava nos planos dela, que pensou apenas em se classificar pela manhã e partir para o "tudo ou nada" à noite. Ela analisou com alegria o rendimento do Brasil na piscina. "Tenho certeza de que o desempenho da natação brasileira evoluiu, e o esporte está tendo um pouco mais de visibilidade", analisou.

Thomaz Matera (8º), Ronystony Cordeiro (8º) e Patricia dos Santos (6º) também nadaram em finais neste sábado, mas não conquistaram medalhas. Os 19 pódios garantiram ao Brasil o 9º lugar no quadro de medalhas da natação (4 ouros, 7 pratas e 8 bronzes). China (92 medalhas, 37 de ouro), Ucrânia (74 medalhas, 25 de ouro) e Grã-Bretanha (47 medalhas, 16 de ouro) dominaram a modalidade paralímpica.

Natação - Jogos Paralímpicos Rio 2016 - 17.09.2016

Rodrigo Vasconcelos e Michelle Abílio, brasil2016.gov.br