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Taekwondo

02/04/2020 17h14

Taekwondo

Classificado para Tóquio, Ícaro Miguel atinge a liderança do ranking mundial

Diante do adiamento dos Jogos Olímpicos, atleta ressalta que terá tempo para se preparar ainda melhor. E avisa que o objetivo é a medalha de ouro

Imagine uma criança de 10 anos de idade afirmando que, um dia, será campeã olímpica. O que poderia ser apenas uma brincadeira ou um sonho infantil acabou ganhando ares de seriedade ao longo dos anos de treinamento. Os resultados apareceram e hoje, perto de completar 25 anos, Ícaro Miguel já pode vislumbrar a possibilidade de realizar seu maior sonho. Com vaga garantida para os Jogos Olímpicos de Tóquio, o atleta chegou, na quarta-feira (01.04), à liderança do ranking mundial de taekwondo na categoria até 87kg. 

“É uma realização gigantesca. Você ser número 1 do mundo é algo gratificante em qualquer área, em qualquer situação. Você olhar na lista do ranking e o seu nome ser o primeiro é realmente saboroso”, define. Esta é a primeira vez que o Brasil tem um atleta na liderança do ranking masculino da federação internacional da modalidade, a World Taekwondo. Bronze em Pequim 2008, Natália Falavigna chegou a liderar a categoria acima de 73kg em 2009.

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Primeira colocação no ranking surpreendeu até mesmo o brasileiro, que esperava atingir o posto apenas depois do Pan-Americano. Foto: Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br

A mais recente atualização do ranking é resultado daquela que provavelmente foi a melhor semana da vida de Ícaro. No dia 12 de março, uma quinta-feira, o atleta disputou a seletiva olímpica em Heredia, na Costa Rica, quando venceu as duas lutas necessárias para carimbar a vaga para os Jogos do Japão. No mesmo evento, o Brasil classificou ainda Edival Marques e Milena Titoneli para Tóquio.

“No dia seguinte, disputei o Open da Costa Rica, que valia pontos para o ranking. Lutei pela vaga olímpica na quinta-feira, e na sexta lutei por pontos. Foi pela pontuação desse evento que acabei superando o primeiro colocado”, explica. A disputa entre eles ainda é bastante acirrada. Enquanto Ícaro soma 247.90, o russo Vladislav Larin tem 247.50. Proximidade que surpreendeu até mesmo o brasileiro quando viu que tinha assumido a liderança. “Fiquei surpreso porque para mim isso só aconteceria depois do Pan-Americano, que estava agendado para maio e foi cancelado”, conta.

"Não vou parar por aqui. Quero muito ser campeão olímpico, vou continuar trabalhando para esse ouro. É a realização de um sonho, é uma meta alcançada, mas não acaba aqui. Eu quero um pouquinho mais ainda”
Ícaro Miguel

No taekwondo, o ranking mundial é dividido em oito categorias. É nele que Ícaro lidera, na subdivisão até 87kg. Já o ranking olímpico conta apenas com quatro categorias de peso. Nessa lista, o brasileiro é o quarto até 80kg.

Foco em 2021

A alegria pela conquista da vaga olímpica foi momentaneamente interrompida quando, apenas 12 dias depois, o Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciou o adiamento do evento para o próximo ano, em virtude da pandemia do novo coronavírus. “No início eu estava digerindo a ideia, não sabia se tinha gostado ou não, mas acho que foi positivo. A primeira coisa é pensarmos na nossa saúde, dos atletas e, principalmente, da saúde pública em geral. Era o mais sensato a se fazer”, acredita o atleta. 

A frustração logo deu lugar à estratégia. “Como já tenho a vaga, eu saio na vantagem porque nem todos os atletas conquistaram ainda. Alguns Pré-Olímpicos foram cancelados, então minha cabeça agora está simplesmente em me preparar e já pensando na Olimpíada do ano que vem. Outros ainda têm que pensar em Pré-Olímpico, em classificação, e meu foco agora é só na preparação e em chegar lá melhor do que a gente está hoje”, argumenta.

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Ícaro está treinando na casa dos pais, em Minas Gerais, focando na parte física. Foto: Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br

Em tempos de isolamento social, Ícaro saiu de São Caetano do Sul (SP), onde treina há seis anos, e voltou para a casa dos pais em Juatuba (MG). É lá que ele recebe os treinos dos técnicos e executa o que pode durante a quarentena. “Estamos focando mais na parte física porque para trabalhar a parte técnica de forma mais intensa eu precisaria de alguém treinando junto comigo”, explica. “Faço também correção de chutes e outros movimentos”, completa.

Em casa ou em competições, na infância ou na fase adulta, o sonho nunca mudou. “Eu sempre falei que queria ser campeão olímpico, acho que desde os meus 10 anos de idade, desde quando comecei a treinar. Eu sempre via isso como uma meta real na minha vida. Eu sabia que eu iria participar, só não sabia quando”, conta, rindo.

“Tentei a vaga para o Rio e acabei não conseguindo, mas continuei trabalhando e agora deu certo. Eu vejo como a realização de um sonho. Não vou parar por aqui. Quero muito ser campeão olímpico, vou continuar trabalhando para esse ouro. É a realização de um sonho, é uma meta alcançada, mas não acaba aqui. Eu quero um pouquinho mais ainda”, avisa. 

Um objetivo que nunca foi limitado pela deficiência que carrega. Ícaro não enxerga com o olho direito, devido a um acidente ocorrido aos seis anos de idade. Ele e a família tinham passado uma tarde de domingo em um sítio, e o menino ficou muito tempo na piscina. Ao ver os olhos vermelhos do filho, a mãe resolveu colocar água boricada, mas confundiu os frascos e acabou pingando amônia. Ao longo do tempo, Ícaro perdeu totalmente a visão do olho direito.

Apoio federal

Na caminhada rumo à medalha, Ícaro conta com o apoio da Bolsa Pódio, categoria mais alta do programa Bolsa Atleta do governo federal. “Sempre digo que o esporte brasileiro só existe por causa do Bolsa Pódio e das Forças Armadas. Não sou atleta militar, mas reconheço que o apoio das Forças Armadas também é fundamental para o esporte brasileiro se sustentar. E, se não fosse o Bolsa Pódio, a gente estaria totalmente desestruturado agora”, pondera. “Eu não sei como faria toda essa preparação e como manteria a cabeça tranquila para simplesmente treinar e colocar o meu melhor em quadra”, acrescenta.

O Bolsa Atleta contempla hoje 236 atletas olímpicos (130 homens e 106 mulheres) e seis paralímpicos (quatro homens e duas mulheres) no taekwondo. O investimento federal neles soma R$ 4,7 milhões ao ano.

Além das três vagas para os Jogos Olímpicos, o taekwondo brasileiro também já tem três atletas assegurados nos Jogos Paralímpicos de Tóquio. Campeã mundial, Débora Menezes garantiu a vaga pelo ranking, por ser a vice-líder. Já Nathan Torquato e Silvana Fernandes conquistaram o posto pelo Pré-Olímpico, também em Heredia, na Costa Rica.

Ana Cláudia Felizola – rededoesporte.gov.br